Futuro 10 da seleção, tumor e incertezas: o que aconteceu com Jean Pyerre?
Futuro camisa 10 da seleção brasileira. Esta era a expectativa, não só do Grêmio, mas de boa parte do país sobre Jean Pyerre. Os lindos lances, assistências precisas, dribles e potentes conclusões de longe ou de falta, e a capacidade de lidar com pressão com a mesma habilidade que tinha para se desvencilhar de adversários só reforçavam um futuro de ouro pela frente. Mas os anos se encarregaram de destruir qualquer previsão. Hoje aos 24 anos, o meia vê se aproximar o fim de um empréstimo ao Avaí, passou por uma cirurgia para retirada de um tumor, e tem futuro incerto até mesmo no clube que foi sua casa desde a base.
"Se Renato Gaúcho escalar Jean Pyerre como meia ofensivo, como muitas vezes faz, o jogador será muito melhor que os outros. Se Renato o escalar como volante, como também às vezes faz, ele também será muito melhor que os outros. Melhor ainda se Renato o escalar nas duas posições ao mesmo tempo. Ele será melhor que todos", assim o antigo craque da seleção brasileira, Tostão, iniciou uma de suas colunas na Folha de São Paulo.
"Se eu fosse Tite, já o convocaria e o experimentaria no time titular, no lugar do volante Douglas Luiz ou do meia Coutinho. Ele é melhor que os dois e, ao mesmo tempo, pode fazer as duas funções. Se não der certo, tudo bem. Jean Pyerre tem grandes chances de se tornar o jogador que eu tanto sonho, um craque do meio-campo", acrescentou Tostão, em novembro de 2020.
Ali, todo apreço era facilmente justificado. Sucessor de Luan no Grêmio, Jean Pyerre esbanjava técnica e capacidade. A cada novo início de ano agregava mais a seu repertório de jogadas. Não havia dúvida sobre seu futuro na Europa ou na seleção, a única questão era quando isso aconteceria. Mas não aconteceu.
Alvo de Palmeiras e Atlético-MG
Naquele momento da carreira de Jean Pyerre, ele era o principal ativo gremista no mercado da bola. Seu rendimento ecoava distante de Porto Alegre, provocando interesses de Palmeiras e Atlético-MG.
Vanderlei Luxemburgo, no comando do Verdão, considerava colocar uma série de jogadores à disposição do Grêmio para uma eventual troca. Entre eles, Raphael Veiga, hoje um dos principais jogadores do time de Abel Ferreira.
Lesões, oscilação, polêmicas...
Entretanto, ele sofreu com lesões a partir de 2020. Foram longos períodos parados por um problema no ombro ou por questões musculares. A falta de sequência o tirou relevância na equipe e foi combustível para um debate gigantesco nos bastidores do clube.
Foram 40 jogos com oito gols e três assistências em 2020, e mais 39 partidas com quatro gols e quatro assistências no ano passado. Renato Gaúcho, técnico da equipe, cobrava constantemente correções do jogador e não escondia tal situação em suas manifestações públicas. Segundo ele, Jean precisava 'se ajudar'.
"Às vezes, ele fica chateado com algumas cobranças que eu faço. Eu cobro todo mundo. O jogador fica bravo, mas sabe que é para o bem dele. Ele tem que se ajudar, estar pronto. Eu fico feliz quando ele volta a jogar, é um jogador importante, mas precisa se ajudar", disse Portaluppi em uma coletiva. Tanto foi que o treinador perdeu a paciência com ele.
Enquanto isso, polêmicas tomaram o ambiente externo. Jean Pyerre foi flagrado em uma festa durante um dos picos da pandemia de covid-19. Um vídeo, registrado na comemoração, tomou as redes sociais. Em março de 2021, o pai de Jean, Eduardo Luiz Correa, afirmou em um vídeo que Renato Gaúcho "não treinava o time", tornando o ambiente ainda pior para o atleta.
No fim daquele ano, o armador acabou afastado do elenco gremista junto a outros seis jogadores na reta final do Brasileirão. A razão dada pelo departamento de futebol para o desligamento foi a suposta "falta de empenho" para contribuir na luta contra o rebaixamento.
Negociação, tumor e temporada no Avaí
No início deste ano, o destino de Jean já estava definido: a saída do Grêmio. Então se iniciou uma negociação para empréstimo fora do país e o acordo foi selado com o Giresunspor, da Turquia, que chegou a anunciar o atleta.
Porém, no início de fevereiro, ele foi diagnosticado com tumor no testículo e o vínculo com o clube europeu foi cancelado. Jean, então voltou ao Brasil, onde passou por cirurgia e realizou tratamento.
Os turcos, ainda, se negaram a custear o tratamento do jogador e o retorno ao Brasil, além de quebrarem o contrato pela 'reprovação nos exames médicos'. O atleta entrou com uma ação na Fifa e o clube foi condenado a pagar 765 mil euros (R$ 3,9 milhões) na cotação atual.
Completamente recuperado, ele foi anunciado pelo Avaí em abril com vínculo até o fim da temporada e opção de compra após o empréstimo.
"Eu e o Avaí estamos passando por um momento de reconstrução. Ano passado, eu não tive um ano bom na questão individual e com clube, então é uma oportunidade para ambos os lados. Quero agradecer ao clube, atletas e torcedores pelo carinho que me receberam. Espero poder retribuir dentro de campo", disse em sua apresentação. "Muitas portas se fecharam para mim depois que eu tive um problema de saúde, mas o Avaí me apresentou o projeto e estou muito feliz por esse novo desafio", completou.
Após mais um período longo sem jogar, e até sem treinamentos, ele precisou de um tempo para encontrar o melhor ritmo. A estreia veio em maio, contra o Inter, pelo Brasileirão, e faltou sequência depois disso.
Jean acabou muito cobrado nos bastidores do clube para ter mais intensidade em seu jogo. Com Eduardo Barroca, tal característica era a principal arma da equipe. Por isso, ele jogou pouco. Com Lisca no comando, ele até começou algumas partidas como titular e ganhou sequência, mas recentemente voltou ao banco.
Foram apenas 21 jogos até agora, sendo cinco como titular. Um total de 667 minutos em campo, que dá média de aproximadamente 31 minutos por jogo, e só um gol marcado.
Perto do fim do Brasileirão, o Avaí não irá exercer a opção de compra ao fim do contrato. Jean vive uma fase de análise da carreira e recentemente foi sondado por um clube de Portugal.
Futuro no Grêmio
Até mesmo no Grêmio o que vai acontecer com ele é um grande ponto de interrogação. Com vínculo até o fim do ano que vem, o meia só terá alguma situação mais concreta para 2023 a partir da eleição gremista, marcada para novembro. Até lá, qualquer cenário sobre retorno ou nova saída não poderá ser tratada.
O clube que foi casa dele desde as categorias de base pode lhe fechar as portas. A partir do acesso para Série A — que está próximo de ser confirmado — as coisas devem começar a caminhar nos bastidores da equipe gaúcha. Mas certezas só partirão do novo comando e da definição de uma comissão técnica para o ano que vem.
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