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Copa do Brasil - 2022

Renato Augusto surgiu em Copa do Brasil do Fla após 'cavada' de dirigente

Renato Augusto em ação no Flamengo x Santa Cruz, no Maracanã, em 01.11.2006 - Rudy Trindade/Folha Imagem
Renato Augusto em ação no Flamengo x Santa Cruz, no Maracanã, em 01.11.2006 Imagem: Rudy Trindade/Folha Imagem
Bruno Braz e Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro

19/10/2022 12h00

Um dos grandes nomes do atual elenco do Corinthians, o experiente Renato Augusto entra em campo na noite de hoje (19) em busca do segundo título da Copa do Brasil da carreira. Quis o destino que essa oportunidade acontecesse no Maracanã, palco onde o então jovem recém-promovido da base do Flamengo sentiu este gostinho pela primeira vez, há 16 anos. Agora, ele reencontra o clube que o revelou defendendo a camisa do Timão.

A expressão "jogar em casa" quase que faz sentido literal ao camisa 8 do Timão. Ele cresceu na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, e foi vizinho do estádio que recebe logo mais, às 21h45 (de Brasília), a grande decisão. A relação, inclusive, está marcada na pele. O jogador tem o Maracanã — onde também foi campeão olímpico — tatuado no braço direito.

Cria da base do Rubro-Negro, Renato Augusto saiu da arquibancada para o gramado do Maracanã para conquistar o Brasil pouco após ter chegado de vez ao elenco profissional, em uma história que passa por nomes como Kleber Leite, então vice-presidente de futebol, e o técnico Ney Franco.

Renato chegou à Gávea em 2001, para o sub-13. Em 2005, teve alguns minutos em campo no decorrer do Brasileiro. A estreia na equipe principal foi, justamente, contra o Corinthians, quando entrou no segundo tempo e atuou por pouco mais de 10 minutos — ele ainda enfrentaria o Athetico-PR, na rodada seguinte do Brasileiro, nos mesmos moldes.

Voltou à base e, como torcedor, viu o Fla eliminar o Ipatinga na semifinal da Copa do Brasil do ano seguinte. Mal sabia, porém, que a carreira dele e do treinador do time mineiro se cruzariam muito em breve.

"Sempre gostei de acompanhar as divisões de base e me encantava um jogador que, nesta categoria, jogava com a camisa 10. Naquela época, a garotada fazia preliminar do time principal. Conseguimos sair do sufoco em 2005 e, enfim, a vida recomeçou em 2006. O Ney [Franco] foi contratado porque achávamos que precisávamos de uma guinada, ele estava muito bem", lembra Kleber Leite, ex-presidente e ex-vice de Futebol do clube da Gávea.

Ex-presidente do Flamengo, Kleber Leite concedeu entrevista exclusiva ao UOL Esporte - Vinicius Castro/ UOL - Vinicius Castro/ UOL
Imagem: Vinicius Castro/ UOL

"Tínhamos dois meses de treinamento porque, entre a semifinal e a final, que seria contra o Vasco, tínhamos a Copa do Mundo. Havia tempo de trabalhar. Foi feita uma excursão no Norte-Nordeste. Eu cheguei para o Ney e perguntei quantos jogadores íamos levar. Ele respondeu que seriam 20. Eu falei: 'vamos fazer o seguinte: você leva 20 e eu levo um. Você topa?' (risos). Eu disse que queria muito que ele observasse um jogador que pouca gente conhecia, e ele disse que não havia problema algum. Era o Renato Augusto, que eu já conhecia de ver os jogos da base. Renato Augusto foi com ele como observação e voltou titular", completa.

Mudança para a final

Ney Franco começou a temporada de 2006 no comando do Ipatinga, quando foi vice do Campeonato Mineiro e chegou à semifinal da Copa do Brasil, sendo eliminado pelo Flamengo. O trabalho chamava a atenção e acabou contratado pelo próprio Rubro-Negro, e ocupou a vaga que era até então de Waldemar Lemos.

O treinador chegou ao Fla no final de maio, com algumas pendências mais imediatas. Uma delas, era a preparação para a final da Copa do Brasil, e a outra era observar carências no elenco.

"Depois da semifinal, houve uma parada para a Copa [na Alemanha]. Neste período, respiramos a Copa do Brasil e mobilizamos o clube. Eu tinha assumido um pouco antes. Na época, o Flamengo estava carente de um meia de ligação, e olhamos o mercado. Mas, para a final da Copa do Brasil, não poderia inscrever [novos jogadores]. A primeira vez que ouvi falar do Renato Augusto foi através do Kleber Leite. Ele sugeriu que eu olhasse o Renato Augusto, que era um menino da base", conta Ney Franco.

Ney Franco, técnico do Cruzeiro - Bruno Haddad/Cruzeiro - Bruno Haddad/Cruzeiro
Imagem: Bruno Haddad/Cruzeiro

O técnico recorda que o jovem se destacou nos treinamentos e conquistou espaço no time. Para a decisão contra o rival Vasco, Ney Franco optou até mesmo por uma mudança tática.

"Fomos para Manaus e coloquei o Renato na lista. Ele começou a treinar comigo, entrou em jogo amistoso e foi bem. O que mais chamou a atenção, além da qualidade técnica, foi o amadurecimento emocional. Ele já estava preparado para uma oportunidade. Logicamente que, no início de tudo, não imaginava utilizá-lo em uma final de Copa do Brasil, mas ele se desenvolveu tanto, se adaptou bem ao grupo e foi se destacando nos treinamentos. O coloquei para jogar no Brasileiro, antes da final, e, na final, mudei a forma da equipe jogar, de um 4-4-2 para um 3-6-1. Coloquei o Renato como esse meia. Fez dois bons jogos na final, e fomos campeões. No ano seguinte, ele também foi muito importante no Carioca. Então, foi aquele tipo de lançamento que deu certo (risos)", ressalta.

Camisa 10 e amizade

Coube a Kleber Leite avisar que Renato jogaria aquela final e com a camisa 10. "Ele não sabia. Eu era quase que o meio do caminho e falei para ele. Quando ele voltou [de Manaus]... Jogador é muito sensível, e ele voltou já sabendo que lugar ocuparia. Tive esse prazer de dizer isso para ele".

Ao falar do meia, o ex-dirigente flamenguista não esconde o carinho que eles têm um pelo outro, e faz elogios também à família. "Ele é um ser humano muito especial, que tem como origem uma família muito especial. A Salete, mãe dele, é uma figura adorável, extraordinária, e que lutou muito por ele. Ele é a união de um ser humano maravilhoso com o talento que Papai do céu deu".

"Não falei com ele ainda, só depois do jogo (risos). Mas são paixões distintas, a que tenho por ele, como figura humana, e minha paixão definitiva pelo Flamengo. Mas falo sempre com ele e torço muito por ele", completa.

Renato Augusto em Flamengo X Internacional, no Maracanã, pelo Brasileiro de 2006 - Fernando Soutello/AGIF/Folha Imagem - Fernando Soutello/AGIF/Folha Imagem
Renato Augusto em Flamengo X Internacional, no Maracanã, pelo Brasileiro de 2006
Imagem: Fernando Soutello/AGIF/Folha Imagem

Treino secreto

O título de 2006 foi o segundo do Flamengo na Copa do Brasil — havia conquistado em 1990 e, posteriormente, levou também em 2013. Ney Franco recorda alguns pontos que fizeram parte daquele título.

"Eu fiz uma mudança porque tinha dois laterais, Léo Moura e Juan, que apoiavam muito. Então, montei um esquema porque precisava explorar isso. Algo muito interessante também foi o trabalho do departamento médico para a recuperação do Luizão, que vinha de lesão. Jogou a final e fez o segundo gol no primeiro jogo", recorda.

"Eu acho que essa Copa do Brasil deu uma alavancada no Flamengo nesta necessidade de utilizar o centro de treinamento. Eu me lembro que treinávamos na Gávea, e eu fui ao Ninho do Urubu, que era só usado pela base, conheci o campos. Não tinha a mesma qualidade da Gávea, mas era um local em que conseguiríamos fazer um treino fechado. Eu queria mudar a forma do time jogar e, à época, era muito difícil fazer um treino fechado. Naquele momento eu precisava e conseguimos fazer dois treinos no Ninho. E foi interessante porque fiz ajustes na equipe, e, por incrível que pareça, não vazou nem uma sugestão de escalação. Isso foi um detalhe importante", enfatiza.

Campeão no Corinthians

Renato Augusto beija camisa do Corinthians após marcar na partida contra o Fluminense -  JHONY INACIO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO -  JHONY INACIO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: JHONY INACIO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Após passagem pelo Bayer Leverkusen, da Alemanha, entre 2008 e 2012, Renato Augusto desembarcou no Corinthians em 2013. No Parque São Jorge, foi campeão do Paulista de 2013, da Recopa Sul-Americana de 2013 e do Brasileiro 2015. Posteriormente, embarcou para a China, país onde atuou pelo Beijing Guoan, e retornou ao Timão no ano passado.

FICHA TÉCNICA:

FLAMENGO x CORINTHIANS

Competição: Copa do Brasil, jogo de volta da final
Data e horário: 19 de outubro de 2022, às 21h45 (de Brasília)
Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (Fifa/GO)
Assistentes: Bruno Raphael Pires (Fifa/GO) e Bruno Boschilia (Fifa/PR)
VAR: Pablo Ramon Goncalves Pinheiro (VAR-Fifa/RN)

FLAMENGO: Santos; Rodinei, David Luiz, Léo Pereira e Filipe Luís; Thiago Maia, Vidal, Éverton Ribeiro e Arrascaeta; Pedro e Gabigol. Técnico: Dorival Jr

CORINTHIANS: Cássio; Fagner, Balbuena, Gil e Fábio Santos; Du Queiroz, Fausto Vera e Renato Augusto; Adson, Róger Guedes e Yuri Alberto. Técnico: Vítor Pereira