Focado, Scarpa não tira o pé: 'Ainda tenho um Brasileiro para resolver'
Gustavo Scarpa está cercado de contagens regressivas por todos os lados. Seu contrato com o Palmeiras, que acaba no fim de 2022, e sua vida no Brasil estão com os dias contados. A data em que se tornará pai está cada vez mais perto, bem como a chegada ao seu futuro clube, o Nottingham Forest, da Inglaterra.
Mas, até para não alimentar demais a ansiedade, o foco do jogador está direcionado com mais força para algo que também está muito perto. "Ainda tenho um Campeonato Brasileiro para resolver", disse o palmeirense, em entrevista ao UOL Esporte.
Scarpa recebeu a reportagem enquanto gravava um depoimento para o documentário "Além do Atlântico", do diretor Gabriel Vinícius, sobre a garota russa Julia Lyandrush, 13. Nascida em Kazan, onde vive, ela é apaixonada pelo Palmeiras e pelo camisa 14 do clube alviverde, apesar do oceano que os separam.
Já acertado com o clube inglês, Scarpa vive o melhor ano de sua carreira, o que deixa claro que ele não está passando nem perto de "tirar o pé". Até o início da rodada, ele era o único no Campeonato Brasileiro deste ano a superar a marca de 100 finalizações e 100 chances criadas nesta edição.
"Eu acho que sim [é minha melhor temporada], já tive anos muito bons, mas acho que esse é 'o ano' por diversos fatores", disse ele.
"Conseguir jogar na minha posição de origem foi extremamente importante na minha retomada de confiança e na minha boa sequência de jogos, nos meus números expressivos. Então, acho que são vários fatores que ajudaram para que eu tivesse uma temporada top", disse.
Gustavo Scarpa não tinha opção
Dedicar-se ao máximo para jogar bem, na realidade, era a única escolha caso Scarpa quisesse sair com as portas abertas do Palmeiras, clube que afirma ter se tornado um torcedor.
"Fica um peso de, se você jogar mal, a pessoa vai falar que você não está com a cabeça aqui. E foi um conflito de emoções com que consegui lidar super bem, graças a Deus. Vencer essa guerra na mente é um pouco difícil, mas deu certo", afirma.
Saber que 2022 era seu último ano no Palmeiras também ajudou na subida de desempenho do jogador. "Ficou um pouco mais leve por eu saber que eu estava de saída e que iria realizar outros sonhos", disse.
"Eu já sou um pouco ansioso por natureza. Vou realizar um dos meus maiores sonhos, então não quero confundir as coisas assim e acabar perdendo foco. Tenho tentado pensar o mínimo possível", disse ele, ao falar sobre questões como moradia, hospital onde seu filho provavelmente vai nascer e a adaptação ao inglês britânico.
Scarpa afirma que o Palmeiras está sabendo lidar bem com a ansiedade com a aproximação da conquista do título.
"Estamos bem tranquilos em relação a isso, porque a gente sabe que, apesar da diferença de pontos, o campeonato ainda não acabou", disse. "Nosso foco é jogo a jogo. A gente sabe que não pode dar mais brecha na questão de pontuação e tal", diz.
Skate como terapia
O discurso claro e elaborado de Scarpa dá a impressão de que o jogador se submete a algum tipo de terapia psicológica ou psicanalítica. Mas não. A terapia de Scarpa tem quatro rodas e uma prancha de madeira.
"Falo meio que zoando, mas o skate me ajudou demais na minha personalidade, [ajudou a] aceitar as coisas que eu perdi ou que não saíram do jeito que eu queria", analisa.
"Não é que eu era passivo, eu ficava bravo com a mesma frequência, com a mesma intensidade, mas eu não conseguia externar isso. E acho que, com o skate, eu aprendi a externar algumas insatisfações. Não digo de chutar copo quando sou substituído, mas coisas do dia a dia assim que sem dúvida me fortaleceram", conta.
"O skate é um negócio que, toda manobra que eu vou mandar, eu tô correndo um risco ali, é um medo. Eu preciso vencer meu medo. E toda vez que a gente faz algo mesmo com medo, acaba fortalecendo. Então, eu tenho sentido isso, nessa prática do skate. Porque é uma coisa que eu tenho medo de fazer, mas toda vez que eu consigo vencer o medo e acerto, é graficamente".
Talvez o maior momento na vida de uma pessoa
O mecanismo de encarar o medo sistematicamente do skate é mesmo uma boa metáfora para o atual momento de Scarpa. "Eu e minha esposa, a gente está super feliz, mas um pouco receosos", confessa.
"Todo mundo fala que o pai só se dá conta de que é pai na hora que nasce, na hora que colocam o bebê na sua mão. Aí é que você fala: 'putz, agora a minha vida mudou'. Eu estou quase com a mesma rotina, mas eu já estou super empolgado, porque eu sempre tive o sonho de ser pai", conta.
"Acho que é um dos maiores momentos, talvez o maior, na vida de uma pessoa, é pegar o filho pela primeira vez nas mãos", acredita. "É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas a gente tem certeza que vai dar tudo certo, se Deus quiser".
Acostumado a lidar com os portugueses que o comandam no Palmeiras, Scarpa vai ter a ajuda de outro luso na Inglaterra. "O médico do clube é português. Então, vai facilitar um pouquinho para aprender como é que funcionam as coisas na cidade", diz.
Realmente, o que não vai faltar no futuro de Scarpa são coisas para aprender. E ele sabe disso.
"[São] momentos marcantes para mim, coisas grandiosas que estão para acontecer. E eu tenho me preparado mentalmente para receber essas coisas boas. Eu acho que estou preparado, mas, na verdade, só quando elas acontecerem é que eu vou saber se eu realmente estou preparado", diz, consciente. "Mas, pelo menos, eu estou me preparando", conclui.
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