Faz o L: Cano diz que comemoração não é política e fala em fé no dinizismo
O argentino Germán Cano é um cara discreto. De fala mansa e paciente, sempre que possível ele está com o chimarrão na mão. Em campo, porém, é quase uma máquina. Aos 34 anos, só perdeu um dos 66 jogos do Fluminense na temporada. Artilheiro do Brasil, ele "fez o L" 36 vezes em 2022.
Candidato do PT à presidência, Lula também "faz o L", mas o argentino esclarece que a comemoração não tem nada de político.
"Não, no futebol sabem que o L é para o meu filho Lorenzo. Quem não sabe, agora está sabendo. Todos já entenderam. Não vi [qualquer cobrança]. Tem muitas mensagens no Instagram, mas não vejo tudo. As pessoas sabem que é por causa do meu filho", disse em entrevista ao UOL Esporte.
Lorenzo, inclusive, é o grande amor da vida de Cano. Sempre que pode está no CT Carlos Castilho, geralmente quando os treinamentos são à tarde. Nas atividades da manhã, quando Fernando Diniz não tem hora para acabar, é comum ver o centroavante sair voado após o final para buscar o filho na escola ou participar de outras atividades. Xodó também da torcida, o camisa 14 garante que Lolo, como é chamado nas redes sociais, curte a atenção.
"É um momento muito legal para ele também. Poder assistir no Maracanã, todos pedem foto para ele. Ele gosta, gosta de ir ao jogo, é muito legal. É torcedor mesmo do Fluminense, tem todas as camisas. É um a mais que está sempre apoiando", afirmou.
Contratação mais importante do Fluminense na temporada, Cano garante que quer ficar no clube. Ele já chegou a receber sondagens de clubes de fora do país, mas, com contrato até o final de 2023, não quer sair tão cedo. A renovação, inclusive, está no radar da diretoria.
"Sabemos que queremos ficar um ano mais aqui. A conversa do Mário com meu empresário sempre está aberta. Não é porque agora é final do ano que estão falando. Sempre falaram o ano todo. Sabemos que estou tranquilo aqui, muito feliz, minha família também. Vou continuar aqui."
Outros "filhos" do futebol
Depois de fazer sucesso no Brasil com a camisa do Vasco, Cano apenas atravessou o muro. Trocou o CT Moacyr Barbosa pelo CT Carlos Castilho, que são vizinhos e terão até a mesma rua de acesso em breve. Quando era do Cruz-Maltino, criou bons laços com diversos atletas, mas foi com o jovem Matías Galarza que desenvolveu uma relação de pai para filho.
"Falo ainda com o Mati. Um cara muito bom, trabalhador. Garoto com muita qualidade e futuro para poder jogar. Agora está na seleção do Paraguai, muito feliz. Continuo falando com ele e dando conselhos. É um cara que também precisa."
Em junho de 2020, Galarza chegou ao Vasco emprestado pelo Olimpia, do Paraguai. Morando fora pela primeira vez, encontrou no centroavante 14 anos mais velho um suporte. Agora, é Caio Paulista quem foi abraçado por Cano.
"Com o Caio eu trato de dar conselho, é um cara que precisa. Tem muita qualidade e muito futuro para crescer no Fluminense. Tento dar os conselhos, principalmente para fazer os cruzamentos dentro da área. A toda hora falamos com ele "cruza, Caio, cruza".
Vai à Copa? Só para torcer
Quando chegou ao Fluminense no início do ano, Germán Cano brincou que voltar à Argentina "só para ficar de férias" e afirmou que aos 34 anos estava longe da seleção. O bom rendimento, porém, fez o debate crescer sobre uma possível convocação, principalmente entre os torcedores, que fizeram até figurinhas da Copa do Mundo com o rosto do atacante. Mas a ida ao Qatar será apenas para torcer.
"É difícil. Tem vários favoritos. Brasil, Argentina, acho que a França está bem. Tem vários que vão brigar. Vou estar lá com a minha família, assistir aos três primeiros jogos da Argentina. Vai ser muito bonito. Vamos ver como funciona tudo, se passarem de fase a gente fica, espero que sim."
Depois da classificação para a semifinal da Copa do Brasil, Jhon Arias chegou a invadir uma entrevista do argentino após a partida diante do Fortaleza para pedir que Lionel Scaloni, técnico da seleção argentina, convocasse o centroavante. O próprio jogador já brincou dizendo que "sonhar é de graça". Cano nega qualquer frustração por nunca ter ido para o time principal do país.
"Não [gera frustração]. Não posso controlar isso. Sabemos que podemos entrar dentro do campo, fazer o melhor para o time e do outro lado, sim, tem que ter a resposta. Mas fico tranquilo, sempre fui um cara para frente, nunca desisti em nenhum lugar ou momento. Se não deu, sem problemas."
Amizades e torcida pelo Vasco
Depois de dois anos consecutivos na Série B, o Vasco pode, enfim, sacramentar o acesso amanhã (27), em São Januário. Jogador do clube entre 2020, ano da queda, e 2021, quando o Cruz-Maltino acabou permanecendo na Segunda Divisão, Cano revelou que torce para a volta à Série A e com quem mantém contato.
"Tenho meu amigo Martín Sarrafiore, que é argentino e jogamos juntos no Vasco. Sempre estamos vendo os jogos, quero que ele vá bem e o Vasco também. Que possa subir esse ano. Continuamos falando com os caras que fiz amizade", disse o jogador.
Cano ganhou rapidamente o carinho da torcida do Fluminense, que fez a música em homenagem a ele dizendo "chora vascaíno, o sonho acabou, o Germán Cano é tricolor". Especialmente em comemorações, como a do título do Campeonato Carioca no qual foi herói, o centroavante já apareceu cantando ao lado de companheiros. Ele, porém, nega que isso tenha gerado algum atrito com os vascaínos.
"Não, não acontece nada. A torcida que canta isso, não tem problema nenhum."
Fé no Dinizismo
A instabilidade do Fluminense na temporada faz o torcedor questionar o trabalho de Fernando Diniz, mas quem está no dia a dia ressalta, até sem ser perguntado, sobre a importância do treinador. Cano, que já havia trabalhado com ele nos tempos de Vasco, não é diferente.
"É um cara que representa muito para nós. É como um pai dentro do time. Sempre trata de apoiar o jogador e tirar o melhor de cada um. Acho que é um professor que ajuda muito o jogador, muda o pensamento, o que tem que fazer. No dia a dia é muito bom trabalhar com ele, sempre tem uma coisa a mais para fazer. É muito legal."
Diniz agora discute a permanência no Flu. Com contrato apenas até o final do ano, a diretoria ofereceu mais duas temporadas ao treinador e acredita em um projeto a longo prazo envolvendo até as categorias de base.
Claro [pedem para ele ficar]. Diniz é um cara que tem que ficar no próximo ano. Precisamos dele e dos nossos companheiros para melhorar no dia a dia. Nesses três jogos que perdemos ficamos muito tristes, porque não merecíamos. Temos que ajustar mais, entender melhor dentro do campo o que fazer, quando subir, quando descer, para poder ganhar. Aprendemos isso, que temos que melhorar. Tudo serve de experiência para o próximo jogo. Mas o time está junto, fazendo o melhor para ganhar.
Veja outras partes da entrevista
O que faltou para o Fluminense brigar mais pelos títulos neste ano?
Em alguns jogos aconteceram várias situações de coisas que para o próximo ano tem que melhorar, fazer melhor. O time cada vez está jogando melhor, fazendo mais coisas juntos. Não merecíamos ficar onde estamos hoje. Poderíamos estar mais na frente, ficar perto do Palmeiras. Deixamos muitos pontos para trás que poderiam ser diferentes. Para o próximo ano vamos melhorar.
Imaginava que seu primeiro ano no Fluminense seria assim?
A gente tinha um desafio muito grande aqui, mas dia a dia foi o próprio desafio para poder fazer dentro do campo o melhor possível. E continuar fazendo gols e ajudando o time.
Chegou a falar com o Fred depois de bater a melhor temporada dele pelo Fluminense?
Não liguei para ele, acho que deve saber. O Fred disse que sou um justo merecedor disso, mas estamos aqui para continuar fazendo história e deixando meu próprio legado no Fluminense. Vou seguir fazendo o que já estou. Sabíamos que eu chegava com um desafio muito grande e importante. Substituir o Fred não é fácil, sabemos o que ele representa para o Fluminense. Estamos trabalhando duro dia a dia para continuar do mesmo jeito, trabalhar e ajudar o time para brigar pela vaga para a Libertadores.
Colocou uma meta de gols para o ano?
Meta não. Nunca coloquei metas. Sempre que tem um jogo pela frente tento fazer tudo que posso dentro do campo. Mas meta nunca teve.
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