Aos 40 anos, Jorge Henrique lidera time de garotos que busca o acesso em MG
Campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Corinthians, em 2012, dono de um currículo recheado de conquistas também em outros tradicionais clubes do país, Jorge Henrique não tem mais o que provar no futebol. Com uma carreira muito bem-sucedida, o atacante de 40 anos topou desafio inusitado: liderar um time de garotos na Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, que equivale à Terceirona, por um clube fundado em junho de 2022.
"Jogar futebol é o que mais gosto de fazer, independentemente da divisão. Nunca sai de casa para passear, sempre foi para conquistar e sempre conquistei por onde passei. A motivação vem de mim mesmo, pois eu sempre quero mesmo, independentemente da idade, da situação e da divisão. Eu sempre quero conquistar e fazer história. Isso é fundamental para mim", disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Jorge Henrique não só topou encarar o desafio como está a um empate de conquistar o acesso ao Módulo II do Mineiro. Vestindo a camisa 10 do North Esporte, de Montes Claros, cidade localizada no Norte do Estado e a mais de 400 quilômetros de distância de Belo Horizonte, Jorge Henrique é o principal nome da competição que é para jogadores sub-23, sendo que cada equipe pode inscrever até cinco atletas acima da idade limite.
O North Esporte está na semifinal do torneio e enfrenta o Valério, amanhã (29), às 15h, no estádio José Maria Melo, em Montes Claros. Como o duelo de ida empatou sem gols, em Itabira, o clube fundado há pouco mais de quatro meses joga por uma nova igualdade para avançar e conquistar o acesso, já que fez melhor campanha na primeira fase da competição.
"Quero é título. O jogador que vai disputar um campeonato e que não almeja o título, se torna apenas mais um na competição. Independentemente de ter conquistado vários campeonatos, eu tenho como motivação que o próximo sempre será o mais importante. Eu tenho isso na minha cabeça, no meu dia a dia. Eu quero fazer história aqui, apesar do pouco tempo de clube. Quando eu sair, eu quero deixar meu nome marcado na história do North Esporte. Meu próximo objetivo é conquistar o acesso e depois, se Deus quiser, buscar o título."
Eleito o jogador mais irritante do futebol brasileiro na temporada 2012, de acordo com o Pesquisão UOL, feito entre os jogadores da Série A, Jorge Henrique lembra do 'título inusitado', que recebeu como um elogio dos adversários na época de Corinthians.
"Eu era chato porque marcava bastante, voltava muito e não dava espaço para o adversário. Provocava também. Agora a velocidade não é a mesma. A resistência e o futebol continuam o mesmo, mas velocidade não mais. Era um elogio, pois eu não deixava o adversário jogar um bom futebol. Era direito que eu recebia reclamação dos laterais adversários: 'pô, você é muito chato. Ataca e marca o tempo todo", sempre me diziam. Mas é isso, um treinador pedia para fazer uma função e eu cumpria", comentou o veterano atacante, que também acumula passagens por Náutico, Athletico-PR, Ceará, Botafogo, Internacional e Vasco, entre outros.
Mas dez anos depois, o cenário é completamente diferente. Num torneio feito para jogadores abaixo de 23 anos, Jorge Henrique está atuando ao lado de atletas que eram crianças quando ele conquistou a América e o Mundo. O que vale também para adversários. Tanto que dentro de campo os jogadores das equipes que enfrentam o North Esporte revelam admiração e idolatria.
"Recebo muito carinho, é o reconhecimento do trabalho, da minha carreira. Eles me respeitam muito dentro de campo, como eu também respeito os garotos. Eles sabem disso, nunca faltei com respeito a nenhum atleta. Dentro de campo, receber o carinho do adversário é muito gratificante e fico muito feliz", comentou.
Além de usar a camisa 10 e carregar a braçadeira de capitão, Jorge Henrique é também o goleador do North Esporte na Segunda Divisão Mineira. Com quatro gols, ele divide a vice-artilharia da competição com alguns outros atletas. O primeiro lugar é Everton, do já eliminado América de Teófilo Otoni, com sete gols. Com mais uma partida para disputar e a possibilidade de jogar outras duas, caso o North avance até a final, Jorge Henrique não esconde que sonha com a primeira artilharia da carreira.
"Eu estava observando aqui que eu estou perto, mas ele não joga mais. Em nenhum clube eu fui artilheiro, até porque tive grandes atletas na minha frente, como o Ronaldo Fenômeno, o Guerrero, o Liedson e tantos outros. Não tinha como ser artilheiros, os caras faziam muitos gols. Aqui eu tenho essa oportunidade. Indo para a final eu tenho mais jogos pela frente e tenho chance de brigar pela artilharia."
Outros trechos da entrevista de Jorge Henrique:
Competição sub-23
"Eu fico muito feliz, pelo carinho que eles têm comigo, pelo respeito no dia a dia. Isso é muito legal. Eu entendo o regulamento, é para dar oportunidade para os meninos, até para os garotos da cidade. Eu acho legal esse regulamento, pela oportunidade que os garotos têm."
Nível do campeonato
"É uma competição bastante disputada, os clubes têm pouco investimento, mas conseguem montar grandes equipes. Posso garantir que tem muitos atletas de qualidade, mas nem sempre o investimento do clube é o suficiente para eles possam render o máximo. Mas é uma competição que é bastante equilibrada."
Sequência da carreira
"Ainda não conversei com o pessoal aqui, mas pretendo jogar mais um ano. Depois vou estudar para tirar a licença de treinador, pois quero seguir no futebol. No ano que vem eu já vou colocar em prática, para que no final de 2023 eu já tenha as licenças em mãos para dar sequência na minha carreira como treinador."
Conversas com Milagres, o técnico do North Esporte
"Eu converso com ele no dia a dia, é um cara que é muito inteligente, que gosta e conhece o futebol, ele tem história no futebol. A gente vai trocando ideia, e eu pergunto muito como é estar do outro lado (treinador). Ao mesmo tempo, ele sente saudades de ser atleta. Ele me dá conselhos, para ir me preparando e ter a cabeça boa. É um cara sensacional que vem nos ajudando muito dentro e fora de campo. É um grande treinador."
Dez anos da Libertadores e do Mundial
"O Mundial foi bom, mas o mais importante e marcante foi a Libertadores. Ganhamos um campeonato invicto, um título que a torcida tanto queria. Ganhar daquela forma, com o Diego Souza saindo cara a cara do Cássio, que fez um grande defesa. A Libertadores foi mais marcante para mim."
O hexa vem?
"Estou muito confiante. A seleção encontrou um belo futebol e eu tenho certeza que o Neymar e o Vinícius Júnior vão brilhar nesta Copa do Mundo."
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