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Presente em todas as finais, rubro-negro viverá emoção diferente no Equador

Torcedor Claudio Cruz esteve no Uruguai para a final da Libertadores de 1981 - Arquivo pessoal
Torcedor Claudio Cruz esteve no Uruguai para a final da Libertadores de 1981 Imagem: Arquivo pessoal

Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

29/10/2022 12h00

Ele vendeu um carro para ver o Flamengo conquistar a América pela primeira vez, em 1981. À época, imaginava que o Rubro-Negro voltaria à decisão logo, logo. O clube da Gávea, porém, só voltou a disputar o título em 2019, e virou a página na competição continental. Claudio Cruz acompanhou tudo de perto e, agora, estará em Guayaquil. Vai ser a quarta decisão em que estará presente, mas, desta vez, com uma sensação diferente, e sob diversos aspectos.

Esta será a primeira vez que o fanático torcedor do Flamengo estará acompanhado da filha Cecília e da enteada Paula. Sem esconder a emoção, mostra o celular: eram fotos que a filha havia enviado naquela tarde, uma do ingresso do jogo contra o Athletico-PR e uma selfie com lágrima nos olhos, seguido de uma mensagem de agradecimento.

"Não tem preço que pague isso. Para mim, é uma felicidade. Eu tinha de ir e vou realizar isso com elas. Elas são Flamengo pra caramba e estar com elas neste momento importante...", diz, com um choro contido. O voo chegará na cidade equatoriana logo pela manhã de hoje e ele mostra empolgação.

Desde a classificação à final, muitos rubro-negros reclamaram dos preços das passagens e logística para chegar a Guayaquil. Claudio também sentiu esse efeito para realizar o desejo, mas reforça o sentimento de gratidão.

"Em 1981, quando eu vendi o carro, o pessoal falou que eu era maluco. 'Pô, com esse time vamos toda hora!'. Fomos quando de novo? Quase 40 anos depois. Agora, me ferrei todo para pagar as passagens, mas não sei até quando eu vou estar aqui, não sei quando vou estar com as minhas filhas em um cenário como esse. Elas vão, e vão estar comigo", ressalta o torcedor, que desembarca no Brasil no fim da manhã de domingo, após planejar tudo para que houvesse tempo de votar no segundo turno presidencial.

Moraes e Claudio Cruz, torcedores do Flamengo, em viagem a Dubai, no Mundial de 2019 - Reprodução redes sociais - Reprodução redes sociais
Imagem: Reprodução redes sociais

Apesar da expectativa pela final ao lado das filhas, Claudio, por outro lado, não terá a companhia de um velho parceiro de arquibancada. Francisco Moraes, considerado uma lenda na torcida do Fla, não vai estar no Monumental por causa dos obstáculos que a viagem impõe.

Claudio, inclusive, soube pela reportagem e, na mesma hora, entrou em contato com o amigo, que confirmou a ausência. "É um baque para mim. Moraes é como se fosse um irmão. Ele é meu amuleto da sorte e eu sou o dele, precisamos um do outro", salientou, novamente secando as lágrimas:

"Quero ganhar pelo meu irmão [César], que era um rubro-negro que você nem acredita, e, agora, quero ganhar pelo Moraes. É um cara pelo qual tenho um carinho e um amor muito grande".

Moraes, Tuninha e Lúcio não vão para Guayaquil

Presentes nas três finais anteriores em que o Flamengo esteve presente, em 1981, 2019 e 2021, Francisco Moraes, Antônia Medeiros, a Tuninha, e Lúcio Soares serão ausências no Equador.

Moraes, com 82 anos, já rodou o mundo para acompanhar o Rubro-Negro e esperou até a última quarta-feira para conseguir definir, mas citou "logística desesperadora" ao explicar a decisão de não viajar.

Antônia Medeiros, a Tuninha, torcedora do Flamengo, em frente ao Pacaembu - Reprodução redes sociais - Reprodução redes sociais
Imagem: Reprodução redes sociais

"Não vou, galera. Digo isso com o coração partido. Ralei muito, mas muito nesses 50 anos para ganhar a Libertadores. Era obsessão. Está aqui registrado minha luta para 'impingir' essa cultura de viajar para acompanhar o Flamengo em qualquer lugar do mundo. (...) Mas o tempo passou. A idade chegou. A cidade de Guayaquil é um dos piores lugares do mundo para marcar esse jogo. A logística é desesperadora. Não dá. Para mim, não dá. Preço, acomodação, altitude, etc. (...) Vocês podem imaginar como vão ser esses dias até chegar o jogo de sábado. A emoção manda ir, a razão brecou. Lamento. Fiz minha parte. Agora é com vocês. Boa sorte, Mengão", disse, em trecho de uma publicação em rede social.

Tuninha, por sua vez, realizou diversas pesquisas em busca de alternativas, mas citou os altos custos da viagem para não ir a Guayaquil.

"Ficou muito caro. O mais barato que achamos foi a R$ 5.500, saindo por São Paulo, chegando lá na terça e voltando apenas no dia 2. Geraria outros custos, de qualquer forma Já fui a Guayaquil outras vezes, em jogos da Libertadores, e é uma cidade que não tem muitos voos, acomodações... Acho que a Conmebol teria de rever esses lugares"

"Acompanhar de longe acho que vai ser um sofrimento maior, mas vou manter tudo que eu faço antes dos jogos. Fazer minhas orações, tudo. E nós vamos ganhar, tenho certeza".

Lúcio Soares, torcedor do Flamengo que esteve nas finais de 1981, 2019 e 2021 - Reprodução Facebook - Reprodução Facebook
Imagem: Reprodução Facebook

Já Lúcio fez críticas ao modelo adotado pela Conmebol, com final única, e à estrutura oferecida em Guayaquil, que dificultou a logística.

"Desta vez, não vou poder ir. Vou, inclusive, viver esse ineditismo de ver uma final de Libertadores de longe por causa de toda essa situação, e dos desmandos da Conmebol. Querem fazer um modelo de competição europeia, sendo que, lá, as distâncias são menores a serem percorridas, e colocando em lugares sem condições de estrutura mínima. Já estive em outros lugares da América do Sul que, no final das contas, tinha condições de abrigar a competição mais importante do continente", aponta Lucio.

"Tenho 60 anos e já tive muitas oportunidades de ver essas finais, sou abençoado por isso. Desta vez, estarei longe, mas minha vaidade é ver o Flamengo campeão", completou.