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Rockeiro milionário? Conheça o lado B de Rueda, que busca reerguer o Santos

Rueda, presidente do Santos Futebol Clube - Ivan Storti/ Santos FC
Rueda, presidente do Santos Futebol Clube Imagem: Ivan Storti/ Santos FC
Lucas Musetti Perazolli e Gabriela Brino

para o UOL, em Santos (SP)

02/11/2022 04h00Atualizada em 02/11/2022 13h55

Andres Rueda, numa primeira impressão, parece um dirigente convencional do futebol brasileiro: o presidente do Santos tem discurso sério e moralista, está sempre de roupa social e faz algumas promessas difíceis de serem cumpridas. Por trás dele e da fase ruim do Peixe, porém, existe um perfil bem peculiar.

Rueda é espanhol, se formou em matemática, trabalhou na bolsa de valores e é (bem) milionário, mas não ostenta e tem um carro antigo: uma Zafira, que acredita ser um símbolo de sua passagem pelo Santos. Ele anda de bengala por causa de doença na infância (mas também pelo vício em aventuras) e até tenta ouvir outros ritmos, mas só escuta rock.

"Hoje eu estou calmo, já sou velho e curto bem menos, mas já fui meio maluco", disse Andres Rueda, entre um cigarro e outro, numa entrevista de quase duas horas ao UOL Esporte.

Atualmente no cargo mais importante do seu time do coração, ele abandonou a rebeldia e tenta melhorar o clube ferido por gestões irresponsáveis. O problema é que a tentativa de avanço administrativo contrasta com desempenho ruim dentro das quatro linhas.

Um santista na Europa

Andres Rueda nasceu na Espanha e conheceu o Brasil quando tinha 3 anos, numa viagem. Ainda na adolescência, ele era estimulado a ler pelos seus pais. Em 20 de novembro de 1969, abriu o jornal ABC e viu na capa o milésimo gol do Pelé. Naquele momento, a curiosidade pelo Santos do Rei do Futebol apareceu: "Claro que era o Santos, mas era mais o Pelé. Eu fiquei encantado".

Pouco tempo depois, a família de Rueda decidiu sair da Espanha, dominada pelo Regime Franquista, e escolheu o Brasil como destino. Para o atual presidente do Santos, foi fácil escolher um time no novo país. A família de Andres Rueda se instalou em São Paulo, mas ia para a Baixada Santista com frequência. A cidade do Guarujá se tornou a segunda casa.

Ao fim do domínio de Francisco Franco na Espanha, os parentes de Rueda voltaram, mas ele, já casado, ficou no Brasil. O dirigente mudou seu estado civil aos 21 anos. Sua esposa tinha apenas 15 à época.

Planilhas desde sempre

Um dos rótulos do presidente Andres Rueda é o gosto por planilhas. De forma pejorativa, a oposição chama ele e seus aliados de "Zé Planilhas". O mandatário presta contas para conselheiros e associados com frequência.

Rueda, presidente do Santos Futebol Clube - Arquivo - Arquivo
Rueda, presidente do Santos Futebol Clube
Imagem: Arquivo

Esse gosto pela organização financeira foi estimulado pela formação como matemático. Na faculdade, Rueda procurou usar a matemática como trampolim para desafios tecnológicos.

Foi assim que o presidente chegou na Bolsa de Valores e depois na Bolsa Mercantil de Futuros (BMF). Ele foi programador, analista, gerente e diretor durante 20 anos. Em 2000, começou carreira solo na Uranet, empresa de tecnologia voltada para o atendimento.

A decisão de largar uma trajetória consolidada foi difícil, mas um fato curioso mostrou que Rueda estava no caminho certo. O presidente da BMF tentou, sem sucesso, convencer Andres a continuar. Quando viu que ele estava irredutível, pediu para ser sócio da Uranet.

A empresa chegou a ter seis mil funcionários e faturamento anual de R$ 400 milhões. Em 2019, a firma foi vendida por R$ 250 milhões para o grupo espanhol Konecta, ligado ao Banco Santander.

Uma das motivações de Rueda para vender a Uranet foi o desejo de ser presidente do Peixe. Em 2017, ele ficou no segundo lugar das eleições. Em 2020, viria nova votação. E ser morador de Santos era um dos pedidos da torcida.

Rueda mora em Santos com a sua esposa, cachorro e papagaio. O filho tem uma pizzaria na Austrália. O presidente possui uma casa na Espanha e queria ir com mais frequência visitar o filho, mas a função no Peixe não permite.

"Eu chego no Santos por volta de 8h30 e tem dias que vou embora 19h ou 20h, não tenho feriado ou fim de semana. Eu sabia que seria assim e foi decisão minha, mas não é fácil. Tem dias que percebo que não almocei, mas isso é assim desde a bolsa de valores [risos]", brincou o presidente.

Presidente Andres Rueda, do Santos, em momento de lazer - Reprodução - Reprodução
Presidente Andres Rueda, do Santos, em momento de lazer
Imagem: Reprodução

Rock na veia

Andres Rueda teve poliomielite na infância e a doença prejudicou a sua movimentação das pernas. Acidentes mais recentes, porém, foram os grandes responsáveis pelas bengalas usadas pelo presidente do Santos.

"Tem gente que reclama, mas não viajo por falta de acessibilidade. O acordo que eu tenho com o Comitê de Gestão desde o começo é esse. Sempre viaja alguém do CG. É muito difícil para mim, um sufoco. Aqui estou sempre, só fica mais difícil me deslocar", explicou Rueda.

Ele teve três acidentes de moto. No primeiro, ficou quase um ano de cama e precisou fazer o tratamento na Espanha. Antes mesmo de terminar a recuperação, tentou descer as escadas de bengala, caiu e ficou mais um ano de molho.

O terceiro, há oito anos, ocorreu no Guarujá. Ele estava de quadriciclo e o veículo morreu. Ao ligar, havia uma lombada e Rueda acelerou. A perna apoiada entrou na roda de trás. Sem fazer fisioterapia, a mobilidade piorou de vez

Mesmo com as sequelas da poliomielite, Rueda nunca deixou de se exercitar na medida do possível. Ele sempre gostou de moto, barco e jet-ski. Outro hobby é o poker: "Me ajuda a ler as pessoas", diz.

Presidente Andres Rueda, do Santos, em momento de lazer - Reprodução - Reprodução
Presidente Andres Rueda, do Santos, em momento de lazer
Imagem: Reprodução

Para acompanhar as altas velocidades e a adrenalina, o rock no ouvido. Andres Rueda é fissurado em rock das antigas e tem dificuldade para ouvir outra coisa. As bandas mais ouvidas são Black Sabbath, Led Zeppelin e Pink Floyd.

"Eu passei por cirurgia, internei... Depois desse último acidente, aquietei. Acho que aquietei [risos]".

Hoje não falta dinheiro a Rueda, mas na época da faculdade a grana era curta e uma noite em Santos acabou inesquecível. Ele e amigos combinaram de descer a serra para "torrar o salário com camarão".

Um dos colegas de viagem sugeriu dormir na praia para sobrar mais dinheiro. Eles juntaram tudo em uma mochila e dormiram ao lado da conhecida estátua do leão na orla de Santos. Quando acordaram, haviam levado tudo. Eles precisaram andar até o porto e pedir dinheiro na estação de trem para voltar.

Político por acaso

Presidente Andres Rueda durante campanha pelo Santos - Reprodução - Reprodução
Presidente Andres Rueda durante campanha pelo Santos
Imagem: Reprodução

Antes de vender a Uranet, Andres Rueda se aproximou de dirigentes do Santos por acaso. No início do Século XXI, o atual presidente foi chamado por candidatos para ajudar nos processos de comunicação das campanhas.

Essa proximidade fez Rueda se tornar suplente por uma vaga no Conselho Deliberativo e depois eleito na gestão de Modesto Roma, em 2014. Foi quando, numa tarde despretensiosa, ele se tornaria conhecido no mundo do Santos Futebol Clube.

O delegado Nico Gonçalves, atualmente no Conselho Fiscal do Santos, é amigo de Rueda e o apresentou a Modesto. Naquele dia de 2015, o ex-presidente do Peixe tinha poucas horas para pagar R$ 1 milhão ao Internacional para ficar com Lucas Lima. Rueda falou: "Se precisar, me liga".

No dia seguinte, Modesto Roma ligou. Rueda emprestou o dinheiro sem juros e multa e foi receber quase dois anos depois. Como agradecimento, o mandatário da época chamou Rueda para o Comitê de Gestão, responsável por tomar as principais decisões do Santos

No começo de 2016, veio a grande decepção de Andres Rueda. Com Modesto Roma internado, o atual presidente do Santos participou ativamente da venda de Geuvânio ao Tianjin Quanjin, da China. Rueda acertou 17 milhões de euros. No dia seguinte, o Peixe confirmou a venda por 11 milhões de euros. Intermediários ficaram com 6 milhões de euros. Rueda denunciou ao Conselho e pediu para sair do CG.

Andres Rueda, então decidiu ser candidato à presidência do Santos em 2017. Ele ficou em segundo lugar e foi chamado pelo vencedor José Carlos Peres para voltar ao Comitê de Gestão. Rueda novamente viu atitudes suspeitas, pediu desligamento e voltou a ser postulante em 2020, quando venceu as eleições.

Rueda já era favorito, mas a chance de vitória aumentou quando ele emprestou dinheiro ao Santos para quitar a dívida com o Hamburgo (ALE) por Cleber Reis e evitar a punição da Fifa de perda de pontos no Campeonato Brasileiro. Semanas depois, foi eleito com 3936 votos e o Conselho foi formado integralmente por membros de sua chapa.

Salvador da pátria?

Machucado por gestões irresponsáveis, o torcedor do Santos viu em Andres Rueda uma espécie de herói. O novo presidente poderia ajeitar as finanças do clube e tentaria conciliar a reformulação administrativa com bons resultados em campo. Menos de dois anos depois, a tentativa de avanço nas finanças contrasta com a melancolia nas quatro linhas.

Quem acompanha mais de perto o Peixe sabia que o clube dificilmente competiria com os principais concorrentes por títulos. O discurso, porém, sempre foi de "colocar o Santos onde ele merece". Com 22 meses de gestão, o Santos brigou contra o rebaixamento no Campeonato Paulista e Brasileirão e passou longe de erguer troféus nas copas. Neste momento, está na parte de baixo da tabela do Nacional.

"No campo, não somos os melhores, mas não somos os piores também. E foi o que eu falei, se computar os erros são nove pontos, 10 pontos que ficam caro. A nossa meta como resultados sempre foi se classificar pela Libertadores. Se não fossem os erros de arbitragem, estaríamos na zona de classificação", se defendeu, lembrando do afastamento dos árbitros de Flamengo x Santos em menos de uma hora.

"Sei que o torcedor não quer saber, mas pagamos quase R$ 100 milhões em dívidas de gestões passadas", fala Rueda, orgulhoso.

O Santos se livrou de punições da Fifa, fez acordos de curto prazo e geralmente paga as contas em dia, mas ainda respira por aparelhos. Recentemente, a Receita Federal da Espanha conseguiu bloquear o dinheiro da venda de Kaiky ao Almería (ESP). A dívida de 2023 reteve parte dos R$ 26 milhões a serem recebidos pelo Peixe e comprometeu o fluxo de caixa. Pagar os salários virou um grande desafio.

Em relação ao futebol, o Santos se encontra sem diretor e gerente e tem o técnico Orlando Ribeiro, do sub-20, no comando. Andres Rueda tenta, sem sucesso, acumular as funções. Para 2023, mais uma vez, o Peixe será reformulado.

Rueda fez escolhas erradas para técnico e diretor e, após Lisca se demitir, entendeu que daria conta de ser presidente e dirigente do Santos até encontrar "substitutos ideais". Ele se instalou no CT Rei Pelé e efetivou Orlando Ribeiro até o fim do Campeonato Brasileiro.

A decisão não funcionou. O Santos tem o mesmo aproveitamento ruim de Lisca e está longe de cumprir o objetivo de se classificar para a Libertadores. Além disso, o dia a dia do Peixe, pelo que o UOL Esporte apurou, está "carregado"

"Não é que eu escolhi levar porrada, a porrada sempre vem para o presidente. E tem que vir. Presidente é responsável, pelo bem e pelo mal. Não tem como eu repassar a responsabilidade. Por que não trago um diretor técnico? Eu respondo para todo mundo: me fala um nome. Está muito difícil", comentou.

"A parte financeira está andando, temos um ritmo. A base está redondinha, melhoramos muito. Então resolvi vir para o CT e tomaremos as decisões que temos que tomar depois do Campeonato Brasileiro", emendou.

Rueda, presidente do Santos Futebol Clube - Ivan Storti/ Santos FC - Ivan Storti/ Santos FC
Rueda, presidente do Santos Futebol Clube
Imagem: Ivan Storti/ Santos FC

Só que existe um "vácuo" entre elenco e diretoria. Por mais que as salas de Rueda estejam sempre abertas, vários têm receio de falar com o presidente. Sem um diretor ou gerente e com o presidente ausente das viagens por causa da falta de acessibilidade, o departamento de futebol derrapa. Membros do Comitê de Gestão e o gerente de base Ricardo Luiz tentam preencher essa lacuna.

Orlando Ribeiro viveu a expectativa de ser o treinador em 2023, mas a tendência é do Santos buscar outro profissional mais experiente, além de um diretor. O Peixe ouviu "não" de Marcelo Bielsa e Sebastián Beccacece. Rueda sugeriu Vanderlei Luxemburgo, mas o Comitê de Gestão vetou.

Amigos de Andres Rueda não entenderam a tentativa de contratar Luxemburgo. Eles aconselharam o presidente, mas foi em vão. Após jantar com o "pofexô", Rueda se convenceu e levou o nome ao Comitê de Gestão. O experiente profissional foi barrado por quatro votos a dois.

"Achava que naquele momento, precisava vir... Eu tive uma conversa com ele e estava claro o que ele poderia fazer e o que não. Não poderia contratar, por exemplo. Naquele momento, a gente estava com assombração de rebaixamento. A gente tem que entender a pressão, pô, a gente também é torcedor. Não é uma pedra de gelo. Mas o Comitê de Gestão não quis e tudo bem. Não existe ninguém mais democrático que eu", justificou.

Perto de chegar no último ano do seu mandato, Andres Rueda está pressionado e vê o Santos terminar mais uma temporada longe de títulos. O último troféu do clube foi o Campeonato Paulista de 2016.

Milionário "mão de vaca"

Parte da expectativa do Santos por dias melhores vem do sucesso de Andres Rueda na sua carreira. O presidente trocou a aposentadoria milionária pela gestão de um clube quase falido.

Rueda teve, para alguns, a fama de "mecenas". Mas ele nunca foi, pelo contrário: sempre pregou responsabilidade com o dinheiro do Peixe e evitou misturar a sua conta com as contas do clube.

Exemplo dessa austeridade se vê no carro do presidente. Rueda tem a mesma Zafira desde quando era conselheiro. Ele costuma dizer que o "carro leva ele para os lugares do mesmo jeito que um importado".

"A Zafirinha virou um símbolo mesmo. Me sinto mal. O clube falido, sem dinheiro, e eu de carrão? Me sentiria mal, pô. Não vou esbaldar".

A credibilidade no mercado fez Rueda preencher as vagas de diretoria com o que chamou de "notáveis". A primeira formação tinha o vice José Carlos de Oliveira e os membros Walter Schalka, José Renato Quaresma, Ricardo Campanário, Dagoberto Oliva, Vitor Sion, Rafael Leal e José Berenguer. Só o vice Zé Carlos e Dagoberto Oliva e Rafael Leal continuam. Renato Hagopian e Thomaz Côrte Real entraram durante a gestão. E três vagas não foram repostas.

O presidente ainda tem seus aliados, mas está mais isolado. Ele ouve poucas pessoas de confiança e tem cada vez mais desafetos no Conselho Deliberativo. 2023 é novo ano de eleição, e a expectativa é de reuniões cada vez mais acaloradas.

Quem convive com Rueda desde o início afirma que o presidente mudou. Decepcionado com algumas decisões próprias e também de quem confiou, ele estaria mais "teimoso" e "centralizador". Ele discorda.

"P... Mesmo os que deixaram o Comitê de Gestão me apoiam e ajudam. Tenho poucos e bons [amigos] sem interesse. Sabe qual é o problema? Quebramos a estrutura. Hoje se você botar seu sobrinho na base, tem que passar pela assinatura de seis caras. Acabou aquela coisa de pagar. Não está 100%, mas pô, isso quebra estrutura. Gera inimigos. Eu ouço todo mundo, mas a decisão final é minha e do CG. E aí quem discorda me chama de teimoso".

Andres Rueda já avisou que não será candidato à reeleição. O presidente, desde a campanha, se mostrou contra o continuísmo, mas comentava sobre a necessidade do novo mandatário ter "ideias semelhantes" pois o Santos "não resolveria tudo em três anos".

Para 2023, último ano da sua gestão, Rueda promete um "Santos mais competitivo". O presidente sempre comentou sobre precisar de "dois anos para arrumar a casa" até poder investir mais na terceira temporada.

Ao mesmo tempo, Rueda não esconde a necessidade de vender jogadores e deve ver o Santos fora da Libertadores, diminuindo seu orçamento. Há quem diga no Santos que o cenário no ano que vem será o mesmo deste ano.

"Teremos de vender alguém, essa é a verdade. Mas quando a grana entrar, terminamos de pagar os acordos e sobra. Aí posso mudar a estratégia de contratação. Ao negociar com o Lucas, posso oferecer 1,5 milhão se quiserem 2. Quando formos contratar a Brino, teremos mais poder de negociação para negociar as cláusulas", previu.

O moralista

Rueda, presidente do Santos Futebol Clube - Ivan Storti/ Santos FC - Ivan Storti/ Santos FC
Rueda, presidente do Santos Futebol Clube
Imagem: Ivan Storti/ Santos FC

Andres Rueda sempre disse que "o futebol é feito para roubar". Numa negociação feita com um clube europeu, por exemplo, o dirigente falou que a proposta oficial seria de X e o valor real cinco vezes maior. O restante seria dividido entre ele, empresário e Rueda. Rueda conta que desligou o telefone e encerrou a transação.

Sem a necessidade de enriquecer por meio do Santos, o presidente cortou algumas práticas habituais, como as comissões para empresários. O Peixe resiste em ressarcir os agentes e virou uma espécie de "vilão" entre os clubes da Série A.

"O Santos voltou a ter credibilidade. Para mim, é bom escutar em negociação: "Aceito isso, mas que seja pago até o fim da sua gestão'. Acreditam no Rueda", afirmou.

Outra novidade foi o fim da multa rescisória para técnicos. O Santos chegou a pagar sete treinadores ao mesmo tempo. Com Rueda, o contrato é feito nas normas básicas da CLT. O presidente abrirá exceção se o profissional for "unânime", como seria Juan Pablo Vojvoda.

As medidas fazem o Santos perder algumas oportunidades. Entre o clube que paga comissão e o que não paga, qual o empresário vai escolher para o seu cliente? O presidente do Peixe entende, mas mantém sua conduta.

"O futebol faz jogadores e empresários ficarem ricos, mas os clubes endividados", é a frase que Andres Rueda já repetiu diversas vezes durante seu mandato e voltou a dizer na entrevista ao UOL Esporte.

O Santos passou a ter mais credibilidade no mercado, mas, ao mesmo tempo, encontra dificuldade para contratar jogadores, técnicos e dirigentes. Sem pagar altos salários e com essas condições "anticorrupção", o Peixe ouviu vários "não" no mercado.

Rueda, à direita, presidente do Santos FC - Ivan Storti/ Santos FC - Ivan Storti/ Santos FC
Rueda, à direita, presidente do Santos FC
Imagem: Ivan Storti/ Santos FC

Também pesa contra o presidente o histórico de demissões. Quando assumiu, o Santos estava na semifinal da Libertadores da América e tinha Cuca no comando. Cuca decidiu sair após o vice para o Palmeiras na final. O substituto foi Ariel Holan, que se demitiu em dois meses. A partir daí, o Peixe teve Fernando Diniz, Fabio Carille, Fabián Bustos e Lisca, sem contar Marcelo Fernandes e Orlando Ribeiro.

Entre os dirigentes, Rueda assumiu com Felipe Ximenes, Jorge Andrade e Renato Florêncio no departamento de futebol. Eles saíram e o Santos contou com rápidas passagens de André Mazzuco, Edu Dracena e Newton Drummond. Hoje, o Peixe não tem ninguém à frente do departamento de futebol.

"Não podem subestimar a força do Santos. As pessoas querem trabalhar aqui, todos têm orgulho. A gente não demite por demitir".

O caso de Newton Drummond é emblemático: pressionado para substituir Edu Dracena e nervoso por receber recusas de profissionais como Paulo Bracks e Ricardo Moreira, o presidente Andres Rueda tomou um café com Drummond e, poucos minutos depois, fechou a sua contratação.

Aliados de Rueda alertaram sobre a escolha errada, mas o presidente falou: "Agora já foi". Chumbinho, como é conhecido no mercado, durou um mês e foi demitido por suspeita de favorecer o seu filho, empresário no meio do futebol.

Andres Rueda admite que, "por pressão", errou ao trazer Newton Drummond. No mais, ele só questiona as demissões do diretor André Mazzuco em 2021 e de Fabio Carille neste ano: "Difícil ser engenheiro de obra pronta, mas talvez a gente devesse esperar mais, principalmente com o Mazzuco. Me arrependi", analisou.

Em entrevista recente ao GE, Andres Rueda mostrou mágoa com executivos de futebol e disse que eles são "empresários frustrados". A declaração pegou mal no mercado.

Futuro do Santos

Sem projeto de reeleição, Andres Rueda evita pensar no assunto, mas tem dificuldade de projetar quem poderia apoiar na presidência do Santos para manter o processo de reestruturação do clube.

Independentemente de quem venha substituir Rueda, a ideia é apoiar a reforma do Estatuto Social para que os dirigentes sejam punidos por decisões irresponsáveis. Com essas "travas", o Santos poderia se tornar menos dependente de seus presidentes.

As pessoas mais próximas a Rueda lamentam que ele ainda não tenha conseguido ser "valorizado como merece" pela torcida. A família torce para 2023 ser mais tranquilo para que, a partir de 2024, Andres curta de fato a sua aposentadoria milionária.

"Não vim para cá para ser reconhecido. Vim para tirar o Santos da falência. Ponto. Já fui reconhecido pela minha carreira. A política suja que o Santos tem é um triturador de reputação. Seria horrível se eu fosse triturado nisso com peso de culpa. Mas não estou fazendo de errado. Durmo com a consciência limpa pois faço exatamente o que precisa ser feito", concluiu.

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