Topo

Diretora acirra ânimos no Flamengo e divide atenções em tempos de títulos

Angela Machado é diretora social do Flamengo - Reprodução
Angela Machado é diretora social do Flamengo Imagem: Reprodução

Luiza Sá

Do UOL, no Rio de Janeiro

04/11/2022 04h00

O Flamengo conquistou dois títulos importantes na temporada depois de um início conturbado dentro do campo. Os últimos dias, porém, fizeram o noticiário não se resumir apenas às taças. Com a declaração de cunho xenofóbico de Ângela Machado e os problemas com a Outsider Tours antes da Libertadores, as glórias dividiram espaço com as polêmicas.

No caso da diretora de responsabilidade social do Flamengo e esposa de Rodolfo Landim, a declaração contra nordestinos após o resultado das eleições presidenciais do Brasil foram dadas na segunda-feira (31). Com cobranças por parte da torcida, de conselheiros — um deles pediu seu afastamento — e de embaixadas, o momento de celebração dos êxitos esportivos ficou quase em segundo plano.

Siro Darlan, do grupo político Fla-Tradição, que pediu o afastamento de Ângela, mandou o requerimento para o Conselho Diretor e para o Conselho Administrativo do clube. Ainda que a tendência seja de arquivamento, o caso gerou um desgaste inesperado para o atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores.

Ontem (3), a história teve dois desdobramentos. Primeiramente, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou um inquérito para investigar Ângela Machado por crime de xenofobia. Ela ainda será chamada para prestar esclarecimentos. Depois, a diretora se desculpou pela publicação. A mensagem foi publicada no Instagram, que era aberto no momento da ofensa, mas que agora é fechado.

O Nordeste é onde se concentra a maior quantidade de torcedores do Flamengo no país e a equipe irá disputar partidas do Campeonato Carioca de 2023 na região.

Clube se distancia

Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral do Flamengo, disse ao Charla Podcast que não haverá pronunciamento do clube sobre a questão por entender que é um problema pessoal de Ângela. O Rubro-Negro, porém, recomendou que os funcionários evitassem publicações sobre política nos últimos tempos antes da eleição.

"Esse episódio foi uma questão pessoal da Ângela, que por acaso é esposa do Landim. Na conta privada dela. Ela pessoalmente que tem que falar. As pessoas adoram envolver o Flamengo em todos os problemas e pode raspar no clube, que não tem nada a ver com isso. Em qualquer empresa do mundo, o funcionário tem o direito de escrever em sua rede social algo que ele queira. Ela nem funcionária é, é diretora voluntária. Ela faz o bem para as pessoas, é de responsabilidade social, fez vários trabalhos na pandemia. Ela que tem que responder. Não tenho nada a ver com isso", disse.

"Se tiver algum interesse do Flamengo em algum lugar, vou defender. Se uma pessoa vinculada ao Flamengo falar alguma coisa na sua conta privada, não tenho que me meter. Admiramos o Nordeste e os torcedores. Por respeitar a privacidade das pessoas [não haverá posicionamento do clube]. Ela que tem que falar e não temos nada a ver com isso. Foi na conta privada", completou.

Ele seguiu a mesma linha de Rodolfo Landim, que afirmou que a postagem foi uma decisão de "foro íntimo" e que Ângela tem o direito de "agir e pensar como quiser". Mesmo com a insatisfação dentro do clube e na torcida, a postura dos dois foi de distanciar o Flamengo de responsabilidade no caso. O estrago, no entanto, já estava feito e integrantes da ala cúpula não esconderam a irritação com o desvio de foco após dias de vitórias expressivas nos gramados.

O Flamengo se fechou para entrevistas antes das finais da Copa do Brasil e da Libertadores, cumprindo apenas os compromissos comerciais que não poderia recusar. A tendência era que, com os títulos, os jogadores ficassem novamente liberados para atender a imprensa, mas não é o que se desenha no primeiro momento após as polêmicas.

Landim fez propaganda para Bolsonaro em Guayaquil - Marcelo Cortes/Flamengo - Marcelo Cortes/Flamengo
Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim (ao centro) faz o número 22 após o título da Libertadores em Guayaquil
Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

Ligações políticas

O mesmo benemérito que pediu o afastamento de Ângela Machado também abriu um requerimento para o impeachment de Rodolfo Landim. Ele afirma que o presidente do Flamengo cometeu crime eleitoral ao permitir que Jair Bolsonaro fosse ao aeroporto receber os atletas após o título da Libertadores.

Darlan também acusa Landim de ter feito propaganda a favor do então candidato ao posar para foto com Bolsonaro ao lado dos jogadores. Nos últimos meses, é inegável a relação da atual diretoria do clube com o atual mandatário do país.

Outsider Tours

O Flamengo também precisou lidar com outra pressão na última semana, às vésperas de entrar em campo pela final da Libertadores. Anunciada como patrocinadora do clube no dia 24, segunda-feira, a Outsider Tours proporcionou a partir da quarta vários episódios de tensão aos torcedores que tinham comprado pacotes para a decisão em Guayaquil, no Equador, e não conseguiam embarcar.

Neste caso, Rodolfo Landim ficou bastante irritado com as cenas no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o Galeão, e o Flamengo começou a estudar uma forma de rescindir o contrato. Mesmo que a venda dos pacotes não tivesse a ver diretamente com o clube, entendeu-se que a imagem pode ficar manchada diante das falhas, especialmente tão próximo de uma final continental.

Em todos os casos, há algo em comum: o clube optou por não falar nada de maneira oficial. Na situação de Ângela, somente Rodolfo Landim deu uma declaração defendendo a esposa e, agora, Rodrigo Dunshee. Já no episódio da operadora, o Fla evitou pronunciamentos por conta do temor jurídico, mas, mesmo passados alguns dias, não emitiu qualquer comunicado aos torcedores.