Quem é a japonesa que sempre faz perguntas nas convocações da seleção
Classificação e Jogos
Em convocação da seleção brasileira, sempre há mistérios no ar. Apesar disso, uma coisa é certa: aquela voz feminina fininha e com um sotaque muito carregado vai aparecer durante a coletiva de imprensa do treinador. Ontem, o técnico Tite anunciou a lista de jogadores que irão representar o Brasil na Copa do Mundo do Qatar e ela estava lá. Mas quem é essa jornalista? Estamos falando de Kiyomi Nakamura, a repórter japonesa que acompanha a seleção brasileira há 24 anos.
A paixão pelo futebol brasileiro despertou em Kiyomi a partir do momento em que Zico foi defender as cores do Kashima Antlers entre 1991 e 1994. Quando soube que o ídolo iria ser coordenador da seleção brasileira na Copa de 1998, a jornalista fez um projeto para acompanhar a equipe no Mundial da França.
"Como todo mudo sabe, Zico é o 'Deus do futebol' no Japão. Quando ele assumiu como coordenador técnico da seleção brasileira em 1998, eu fiz um projeto para televisão, editoras e revistas para fazer a cobertura. Uma editora e a TV acreditaram no meu projeto e passei a cobrir a seleção brasileira focando mais no Zico, mas não deixando o time de lado. Acompanhei desde a preparação na Granja Comary até a final", contou Kiyomi.
Kiyomi Nakamura viu a seleção brasileira perder a final para a França e ficar com o vice-campeonato, mas ficou encantada com a experiência de conviver com a equipe do Brasil e entendeu que precisava compartilhar esse sentimento com a sociedade japonesa. A jornalista, então, decidiu estudar a língua portuguesa para viver em terras brasileiras.
"Eu vi que seleção brasileira não é apenas uma seleção como a de qualquer outro país. Não é apenas um time. Seleção brasileira significa muita coisa: paixão, amor, tradição, cultura... É muita coisa do Brasil. E eu quis explicar esse sentimento para o povo japonês e, então, para entender melhor ainda eu achei que era melhor morar no Brasil e respirar a mesma coisa, conversar todos os dias para sentir a cultura de verdade. Pensei: vou chorar pelo mesmo motivo, sorrir pelo mesmo motivo. Assim, eu me preparei e consegui me mudar para o Rio em janeiro de 2001 e sigo aqui desde então", relatou a jornalista, que presta serviço para quatro emissoras de TV do Japão: Fuji, NHK, J Sports e Sky PerfecTV.
Com a rotina intensa de jornalista, Kyiomi precisou estudar português sozinha. "Peguei livros básicos e me comprometi a abri-los por pelo menos meia hora, uma hora por dia. Cheguei a tentar aula particular, mas meus horários malucos não permitiram. E aqui muitas pessoas me ajudaram", disse.
Além de chamar atenção com o sotaque e o tom de voz, Kiyomi se destaca pelas perguntas leves e o bom humor nas coletivas. Por esse motivo, os assessores que acompanham a seleção brasileira correm para dar o microfone à japonesa quando o clima esquenta durante as entrevistas.
"Não é algo combinado com os assessores de imprensa, mas sinto que acontece isso mesmo. Não é minha intenção. Eu faço as perguntas mais positivas, primeiro porque eu estou passando material para o Japão e quero mostrar as coisas boas do futebol brasileiro, então não venho com críticas ou polêmicas. Gosto muito de perguntar sobre filosofia e o lado humano do Tite. Na época do Felipão era assim também", explicou Kiyomi.
Colega de trabalho virou a família
Quando se mudou para o Brasil em 2001, Kiyomi trabalhava sozinha com sua câmera. Até que um dia, conseguiu uma entrevista com João Havelange, então presidente da Fifa, e sentiu que precisava de algo mais profissional.
"Pedi ajuda e o pessoal da comunicação da CBF me ajudou a encontrar o Jorge Ventura. Logo que vi ele de costas, tive a impressão de que ele era bravo, até que me deu um bom dia super animado, fiquei feliz. Fomos fazendo outras parcerias, os trabalhos foram aumentando e estamos sempre juntos desde então", contou a jornalista.
Sem familiares no Brasil, Kiyomi acabou acolhida pela família de Ventura. Ela participa das reuniões, como aniversários, e também curte Natal e Ano Novo com eles. São nesses raros momentos que ela deixa um pouquinho de lado a seleção brasileira. Kiyomi também curte tomar um chope nos quiosques do Rio e conversar com os amigos que fez nestes mais de 20 anos.
O hexa vem, Kiyomi?
Kiyomi respira seleção brasileira desde 1998 e, segundo ela, ainda vai ser assim por muito tempo: "Até que ver que não consigo mais trabalhar ou se o Japão perder o interesse pelo futebol daqui", diz ela. Por esse motivo, nada mais justo que entender a visão da japonesa sobre o futuro da seleção. O tão sonhado sexto mundial vem aí?
"Eu sempre acreditei. Mas no caso de Tite, já é a segunda Copa consecutiva. Ele fez muitas coisas boas. A comissão técnica também é muito experiente, tem César Sampaio, Juninho Paulista... Os jogadores também estão com boas experiências. Além disso, tem os atletas novos que surgiram recentemente, com novas características e estilo. A mistura toda é muito positiva. Ultimamente Tite falou que finalmente está chegando no ataque ideal, isso já mostra um sentimento bom. Os jogadores também estão confiantes e esse clima ajuda demais, é muito bom, esperançoso. Acho que com esse ambiente, vontade e nível é possível que ganhamos o hexa", finalizou.
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