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Abel diz que Palmeiras fez história: 'daqui 15 anos vão entender'

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante jogo contra o América-MG no Campeonato Brasileiro - Ettore Chiereguini/AGIF
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante jogo contra o América-MG no Campeonato Brasileiro Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Thiago Braga

Do UOL, em São Paulo

10/11/2022 01h59

Após conquistar o único título que faltava desde que chegou ao Brasil, Abel Ferreira valorizou a campanha do Palmeiras no Campeonato Brasileiro e disse que as pessoas reconhecerão as conquistas do atual elenco daqui a alguns anos. Questionado se esta seria a "Terceira Academia" do Palmeiras, o português desconversou.

"Acho que não tenho competência nem conhecimento do passado para dizer se esta é ou não é. Agora, é um orgulho muito grande ouvir isto. Acredito que tudo o que fazemos no presente, algum dia vai recuar. E na minha opinião, o trabalho que esses jogadores fizeram, já disse várias vezes, esses jogadores nasceram para fazer história neste clube. Daqui a dez, 15 anos, as pessoas vão entender o que fizemos aqui. Agora ainda é muito cedo. O tempo é que vai dizer o que nós aqui fizemos", analisou o português.

Campeão Paulista, da Copa do Brasil, bicampeão da Libertadores e agora campeão Brasileiro, Abel enalteceu a força mental de seus comandados e registrou que a vitória sobre o América-MG foi a sétima virada da equipe no ano.

"Para ser sincero, o que me vem à cabeça foi a categoria que fizemos este Brasileirão. Uma equipe com uma mentalidade muito forte, que sabe jogar muito bem. Uma equipe europeia, em todos os níveis, com foco, concentração, sempre ligada, como vimos hoje. Sétimo jogo [que ganhamos] de virada. Em 2022 tinham sido quatro e em 2021 outras quatro. Isso me dá orgulho de ser treinador desses jogadores. Mesmo tendo garantido o título há quatro rodadas do fim, é muito difícil. Você tem de ser regular, mostrar a qualidade da sua equipe, do seu elenco, dos seus jogadores, do todos somos um, dos 23. Por isso colocamos todos os jogadores na foto antes do jogo. Porque todos contribuíram para a conquista do troféu. Uns mais, porque jogaram mais. Mas todos ajudaram. Gostaria de dividir esse troféu com toda a estrutura do Palmeiras, como a formação também. E de forma muito especial e carinhosa, ao nosso médico, Gustavo Magliocca", afirmou Abel.

O treinador alviverde aproveitou para exaltar os números do Palmeiras na competição. A regularidade em campo foi uma das marcas do time.

"Teve mais qualidade, organização, foi mais time, teve mais vontade, equilíbrio, mentalidade. Fez mais gols, sofreu menos. Foi limpinho. Imaculado. Um grande trabalho da nossa equipe. Ficam aqui atravessadas as duas competições, que foram a Copa do Brasil e a Libertadores. Nem sei se ganharíamos ou não as duas competições. Mas fica a sensação de que algo não correu como deveria ter corrido. Mas nós não perdemos o nosso foco, o nosso equilíbrio. Fiquei muito feliz com nossos jogadores, em momentos difíceis, após eliminações, não só o apoio dos nossos torcedores, nossos jogadores entenderam que só tinha um caminho. Se alguém tinha dúvidas do que o 'todos somos um' resulta, acho que ficou muito evidente neste campeonato. Jogando onde for, contra quem for, jogar para ganhar. Não foi um jogo, dois, três. Não foi uma virada, foram sete. Mostra muito a capacidade desta equipe. Não sei se temos os melhores jogadores, o melhor treinador. O que eu sei é que juntos somos muito fortes", justificou.

Abel também lamentou a saída de Scarpa e revelou que aconselhou o jogador a não sair para um outro país, que ele preferiu não citar, no meio da temporada.

"Eu não quero compartilhar o que eu disse a ele pessoalmente. A única coisa que eu acho é que nós devemos seguir os nossos sonhos. Ele tinha um sonho. E quando começou o 'fica, não fica', foi extremamente bem tratado por mim, por ele, pela diretoria. A ponto de ele sair com todo esse reconhecimento. Um jogador que quando chegou aqui passou muito mal, cara que estava encostado. E aos poucos, com o trabalho dele, foi adquirindo confiança, foi percebendo que nós valorizamos todos os jogadores. E por mérito próprio, tivemos várias conversas. Lembro de uma conversa no meio do ano, que ele me ligou falando 'quero ir para ali' e eu respondi que 'para ali não, não te deixo ir'. Se aparecesse a proposta de um clube ou outro campeonato de maior dimensão, que poderíamos deixá-lo ir. Ele percebeu que ficar aqui poderia juntar mais títulos à carreira dele, e acho que ele acabou por tomar a melhor decisão. A decisão de ir para a Inglaterra. Eu disse a ele para ele se preparar porque lá vai ter de defender mais do que aqui, vai tocar muito menos vezes na bola", recordou.

O Palmeiras fecha sua participação no Brasileirão no domingo (13), às 16h (de Brasília), contra o Inter, no Beira-Rio.

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Altos e baixos no Brasil


"A regra das 24 horas, ganhar ou perder. Me custa muito perder. Passo mal, demoro a digerir a derrota, durmo mal. Mas depois de 24 horas estou pronto para qualquer desafio. Não vou mentir que eu fiquei muito triste e orgulhoso ao mesmo tempo dos nossos torcedores quando fomos eliminados da Copa do Brasil. E não estou falando dos nossos adversários. Estou falando de uma equipe [de arbitragem] que não esteve à altura das outras duas. Isso são fatos. Um impedimento não pode desaparecer. Há coisas que não podem acontecer no futebol do mais alto nível. E a forma como nós perdemos aqui para o Athletico-PR foi duro."

"Um Palmeiras que enche de orgulho seus torcedores, funcionários, a nossa direção, a nossa presidente. A Leila, desde que entrou, sempre nos ajudou no que podia. Uma palavra para ela porque é importante nesta estrutura. E gostaria de dividir com todos os funcionários, atletas. As pessoas entenderam a filosofia do todos somos um e agora todos somos 11."

Treinadores portugueses

"Eu falo muito com o Andrey (Lopes, auxiliar-técnico) como são os treinadores brasileiros, portugueses. Compartilhamos de muitas coisas, todos nós aprendemos e partilhamos, mas que cada um faça o que quiser. Os treinadores portugueses vão ao shopping do futebol, cada um vende o que tem, bola parada, ataque, escanteio e cada um tira o que quer. A competência em qualquer profissão não tem nacionalidade. Há excelentes treinadores brasileiros. Tem dedicação, trabalho e aprendi muito aqui. Vi Telê Santana para não dizer outros, Klopp, Mourinho, Wenger, Bobby Robson e talvez tenha um bocadinho deles. Não sou nenhum santo, não estou na igreja, vivo o futebol e é só equilibrar isso. O difícil não é chegar, é manter-se de forma convincente. Em duas temporadas. Isso é só para alguns."

Copa do Mundo

"Vou ser muito sincero, eles agora que se lasquem. O Tite, o Fernando Santos. Eu garanto que depois que acabar a temporada, vou desligar a ficha. Eu vivo o futebol muito intensamente. Eles que se danem lá na Copa do Mundo. A minha parte está feita, vou ficar com a minha família. Para poder recarregar a bateria. Teve alguns colegas de vocês que me chamaram para comentar a Copa. Esqueçam isso. Quero ficar quieto, andar descalço, ninguém me chatear, desligar completamente. Devemos ter 45 dias, nós todos merecemos descansar, dois anos com poucas férias, pandemia. Não gosto de falar com a imprensa, porque já falo demais. Me deixem quieto. Muito agradecido ao futebol brasileiro. Foi duro, muito difícil, não minto que queria este Brasileiro. Queria as copas. O Paulista não era o nosso objetivo. Mentalmente fortíssimo. Não vamos ganhar sempre, mas lutaremos para ganhar."

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