Scarpa diz adeus à torcida do Palmeiras com gol e lágrimas: 'Foi surreal'
A última resposta de Gustavo Scarpa, ao passar pela zona de entrevistas do Allianz Parque, resume o sentimento com que o meia se despediu do estádio do Palmeiras na quarta-feira (9), após Palmeiras 2 x 1 América-MG.
Indagado sobre algo do clube de que não teria saudade, o camisa 14 pensou, pensou e não achou uma resposta: "Eu vou deixar essa, [sobre] do que eu não tenho saudade para lá. Eu não consigo pensar em nada", disse.
Que Scarpa deixa o Palmeiras em seu auge técnico, os números e os prêmios que ele deve conquistar, como melhor meia e jogador do Brasileiro, comprovam. Mas ele também sai do clube que o recebeu em 2018 no pico de amor da torcida por ele, e dele pelo Palmeiras.
Scarpa não é um jogador emotivo. Quem procurar vai ter trabalho para achar uma cena dele chorando por causa de uma conquista futebolística ou um fato importante dentro de campo. Mas ontem, faltou pouco.
Antes da tradicional rodinha que antecedeu o pontapé inicial, ele ouviu a torcida gritar seu nome e colocou as duas mãos espalmadas no rosto por um tempo.
"Eu confesso que hoje foi uma surpresa muito grata, assim, para mim. E receber esse carinho do estádio. A minha despedida foi um negócio surreal, que eu não esperava. Achei que não fosse viver isso", confessou.
Scarpa queria se despedir do Allianz Parque com um gol. Entre outros motivos, também por ter trazido vários familiares para ver o jogo. Por isso, antes mesmo de o VAR confirmar pênalti sobre Marcos Rocha, ele já estava com a bola na marca do pênalti.
A cobrança saiu seca, no canto baixo esquerdo de Cavichiolli, aos 42 minutos do 1º tempo. Scarpa empatou o jogo que o Palmeiras perdia por 1 a 0, com um golaço de falta de Benitez, aos 15'.
Após fazer o gol, depois dos abraços, ele ajoelhou sozinho e cobriu o rosto mais uma vez. "Ali, eu estava dizendo: 'Deus muito obrigado. Obrigado por tudo que eu vivi aqui. Só gratidão'".
Gustavo Scarpa deixou uma ótima impressão. Além do gol, mandou bola na trave logo aos 6' do segundo tempo. Foram dele os melhores lances do jogo. Cruzamentos, giros, dribles.
A cada escanteio que ia cobrar, todos os torcedores mais próximos, nas quinas do setores de cadeiras inferiores,, gritavam seu nome. E o pedido, insistente, era sempre o mesmo.
"É claro que o coração aperta um pouco mais porque a galera pede fica 'Scarpinha, fica Scarpinha' e é muito legal de receber o carinho. E as crianças tipo, mano, apaixonadas, assim, abraçando", contou.
Mas ele não ficaria nem mesmo em campo, mais. Aos 33', Scarpa foi substituído. Era paixão, de fato, que se via no rosto de alguns torcedores, que choravam. O meia foi abraçado por Rony. Depois, Mayke. Gabriel Menino, que acabara de entrar, veio na sequência. Scarpa abraçou até jogadores adversários.
Passou então pela área técnica e abraçou o assistente João Martins, com entusiasmo. Com Abel, o gesto foi mais contido. Em seguido, veio Victor Castanheira, o outro assistente. Bateu no escudo do Palmeiras, apontou para a torcida e encerrou sua história no campo do Palestra correndo para o vestiário, sozinho.
"[Eu corri porque] as emoções começam a ficar, nem sei explicar. Eu estava muito agitado", contou. "Acabou, mas acabou da melhor maneira possível. Foi a despedida dos sonhos".
Sem arrependimento pelas decisões
Scarpa teve de tomar decisões difíceis na carreira. A chegada ao Palmeiras, por exemplo, se deu após uma disputa judicial com o Fluminense.
"Não saí do jeito que queria, mas também não me arrependo, mesmo sendo moleque de Xerém (bairro de Duque de Caxias onde fica o CT das categorias de base do Flu)", disse.
Assim como também está muito convicto da ida para o Nottingham Forest, que hoje é o lanterna do Campeonato Inglês.
"Confesso que não [bateu qualquer arrependimento], mas não por falta de empatia ou alguma coisa do tipo. É porque eu sou muito convicto das minhas decisões. É um sonho de criança que eu tenho. Então, quando surgiu a oportunidade de jogar a Premier League, eu fui muito sincero com todos no clube", disse.
"A situação do clube não está boa, mas também, estando em último não tem como piorar. Ao menos, essa responsabilidade, a gente não tem", brincou.
Um jogador diferente, um cara diferente
Com a saída de Gustavo Scarpa, o futebol brasileiro perde um jogador muito diferente dos colegas. Um cara que gosta de ler e leu tanto que se sente confortável para criticar Shakespeare e dizer que Hamlet é "legalzinho". Ou que indica a alegoria política de George Orwell, "A revolução dos bichos", para Raphael Veiga, por exemplo. Que, de repente, se tornou um expert em cubo mágico porque sim.
Diferente também na forma como lida com seus problemas. O skate não começou em sua vida como um mero passatempo. O novo esporte foi a terapia que o jogador precisou num momento em que não estava bem consigo mesmo. Por isso, tanto quanto a despedida de ontem, a comemoração na quarta passada (2), foi também muito marcante para o jogador.
"Eu falei para o Daniel e para o Luan (assessores de imprensa do Palmeiras), que a emoção que eu senti na semana passada foi demais. Eu nunca imaginei que montariam uma pista de skate por minha causa. Não imaginava que eu conseguiria mover tudo aquilo", disse o meio-campista, que levou seu skate para os vestiários da partida de ontem.
Scarpa pretende jogar no domingo (13), contra o Internacional, no Beira-Rio. Terá, assim, um último jogo com a camisa do Palmeiras. Quanto ao futuro do time, e sobre um nome para substituí-lo, ele faz quase um apelo à torcida:
"Tem muito moleque talentoso aqui no Palmeiras, como o John John, um moleque do bem. E da mesma forma que muitos acham que eu demorei para vingar aqui, é necessário ter muita paciência com todo mundo. Demorou um pouco com o Veiga, demorou um pouco com o Zé. Então, eu espero que tenham muita paciência com todo mundo que está chegando, porque as conquistas não vêm do dia para a noite", disse.
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