Topo

'Ritmo', 'chão' e 'agride': o que significam os gritos de Tite na seleção

Tite durante o treino desta quarta-feira (16) da seleção: orientações a todo momento - Lucas Figueiredo/CBF
Tite durante o treino desta quarta-feira (16) da seleção: orientações a todo momento Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Do UOL, em Turim

16/11/2022 19h48

Classificação e Jogos

O treino da seleção brasileira desta quarta-feira (16) foi o mais intenso da preparação para a Copa do Mundo até agora. Todos os 26 convocados estiveram em campo e Tite comandou um trabalho tático que já simulou situações de jogo, posicionamentos e funções dos jogadores.

Ainda não rolou desenho de time titular, mas as orientações do treinador ao longo da atividade no CT da Juventus, em Turim, mostraram elementos que Tite espera ver na prática na seleção a partir do dia 24. É a data da estreia na Copa contra a Sérvia.

A todo momento, Tite pedia "ritmo" aos jogadores. Em alguns momentos durante o treino, ele repetiu a palavra gritando enquanto corria ao lado dos atletas que executavam as jogadas: "ritmo, ritmo, ritmo". A ideia é que o Brasil seja um time que propõe jogo, ataca, e que não descanse com a bola no pé ou fique dando passes para trás. É preciso a todo tempo incomodar o adversário.

Os números da seleção ao longo do ciclo para a Copa do Mundo demonstram a ofensividade: foram 111 gols marcados em 50 jogos.

Só que a aplicação do tal "ritmo" não pode ser de qualquer jeito. Tite quer passes rasteiros, curtos e bem direcionados no pé do companheiro, para assim evitar que o adversário roube a bola e assuma o controle das ações. Daí, outro grito muito repetido no treino de hoje: "chão, chão, chão".

Para reforçar esse conceito, ele repetiu ideias parecidas: "veloz, ágil, precisa do passe bom" e "primeiro toque é fundamental para dar velocidade". Aos meio-campistas do time, como Lucas Paquetá, Everton Ribeiro, Bruno Guimarães e Fred, ele pedia "pé de pelica". Pelica é um couro nobre de toque macio e o que Tite cobra quando pede passe com "pé de pelica" é o toque certo, na medida, controlado, sem chance de erro.

Tanto é que num determinado momento do treino, numa tabela entre Everton Ribeiro e Bruno Guimarães que a bola respingou e saiu errada, Tite gritou "esse passe não". Mas quando o treinador entendia que o movimento era certo mesmo que não tivesse resultado em gol, vinha incentivo: "A ideia tá certa".

"Nosso time é time de qualidade técnica, um time com essa característica não abre mão disso" foi outra frase dita em bom volume pelo treinador na atividade desta quarta-feira. Pouco depois, soltou que "a característica da equipe é alternância de ritmo e qualidade individual", numa cobrança a todo momento por dribles e jogadas de um contra um.

Preocupação também é defensiva

Uma das partes do treino desta quarta-feira foi tática. Tite orientou um time com 11 jogadores e depois outro com 12, alternadamente. Ou seja, todos os jogadores de linha da seleção tiveram as mesmas movimentações, exigências e cobranças.

Apesar de o foco maior ter sido no ataque, os trabalhos também tiveram momentos de atenção à defesa. Principalmente no comportamento dos homens de frente para evitar os ataques adversários. O primeiro movimento, como Tite indicou aos gritos, é "só balançando para o lado". Ou seja, diminuindo espaço dos rivais e tirando opções de passe.

O técnico também usou a frase "controla o homem da bola, ele mostra" para dizer que o adversário sempre deixa claro a jogada pela qual vai optar e, portanto, o jogador da seleção não precisa se afobar na tomada de decisão para fazer o desarme.

Depois desse primeiro estágio de controlar a ação do adversário, quando ele passa de uma determinada faixa do gramado na criação da jogada, "grudou". Ou seja, marcação forte para retomar a posse de bola. Ou, em outras palavras usadas pelo próprio Tite, "agride".

Esse gesto de "balançar para o lado" é um conceito tático que orienta posicionamento e organização da defesa quando o time está atacando e do ataque quando o time está defendendo. O balanço pode ser defensivo ou ofensivo. O movimento seguinte é na base do "encurtou, bloqueou", do "grudou" e do "agride". Isso também ajuda a explicar porque a seleção brasileira é forte defensivamente, com só 19 gols sofridos em 50 jogos desde 2018. Foram 33 partidas em branco no ciclo.

Para seguir aprimorando os conceitos táticos trabalhados por Tite, a seleção volta a treinar nesta quinta-feira, às 11h30 (de Brasília).