Santos: ex-presidente é acusado de negociar para liberar droga em delegacia
Um caminhão com um adesivo do Flamengo no para-brisa foi o começo de uma trama que envolve o desvio de 790 quilos de cocaína por parte de quatro policiais civis da cidade de Santos. Um deles é o ex-presidente do Santos Orlando Rollo, que participou da negociação para a liberação de carga em plena delegacia. O valor estipulado para o negócio foi de R$ 4 milhões.
Segundo apurou o UOL Esporte, o ex-dirigente santista negociou a devolução da carga apreendida com o advogado João Manuel Armôa Júnior, que defende o traficante de drogas Vinicyus Soares da Costa, 33, o Evoque, ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
Rollo, Armôa, Evoque e os demais policiais estiveram reunidos no 3º DP de Santos, na noite do dia 7 de agosto. O encontro começou às 23h51 e foi até 2h29 do dia 8. No minuto seguinte, Armôa escreveu para Rollo:
"Por favor, depois veja a matemática final da devolução da cerveja! Abraço." O ex-dirigente santista responde: "tá bom. Vamos tentar agilizar esse retorno".
Análise dos registros telefônicos encontrados no aparelho celular de Armôa feita pela polícia mostra a negociação entre Armôa, Rollo, Evoque, e um quarto elemento, identificado até o momento como "Todo Peligro se convierte en plata". O Ministério Público acredita que "Peligro" também é agente do estado e precisa ser identificado o mais rapidamente possível.
A partir daí, eles passam a negociar como será feito o pagamento do "resgate" da cocaína. "Peligro" argumenta que "3 (milhões) é desrespeitoso. Vocês sabem disso. 4 também é tiração (sic), mas acho que está de bom tamanho".
Para a polícia, "4" só pode corresponder a R$ 4 milhões. Foi combinado também que o pagamento seria feito em duas parcelas de R$ 2 milhões.
Por tudo isso, foi decretada a prisão dos agentes envolvidos. Segundo o Ministério Público, o pedido se justifica para desarticular as atividades destes agentes e, eventualmente, identificar outros envolvidos. Ainda de acordo com o MP, a permanência dos agentes em liberdade colocaria a investigação em risco, uma vez que eles poderiam destruir provas, intimidar testemunhas e ocultar produtos ilícitos.
Segundo o MP, há indícios de que a primeira parcela acertada entre as partes foi paga, uma vez que Armôa mandou áudio para Evoque dizendo que era necessário acertar a logística para fazer a troca. Aparentemente, a troca só não foi concretizada porque o traficante foi preso no dia 8 de agosto.
Ainda de acordo com o MP, após o insucesso da negociação, já que Evoque foi preso, Rollo tentou vender 50 quilos de cocaína para outro traficante da cidade de Santos, que recusou a mercadoria por saber que a droga pertencia a Evoque.
O Ministério Público agora quer encontrar os 790 quilos de cocaína que foram tomados do traficante, além dos R$ 2 milhões em propina, que teriam sido adiantados para os agentes.
Entenda o caso
O caso começou em agosto deste ano. No início da madrugada do dia 6, um caminhão Mercedes-Benz foi abordado por Rollo e mais três agentes da polícia civil. No teto do veículo, escondidos, foram encontrados 958 quilos de cocaína. O motorista que dirigia o veículo deixou o local durante a abordagem policial e não foi preso em flagrante.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, a droga encontrada na Ilha Barnabé, na Baixada Santista, teria como destino o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e seria destinada à facção "Amigos dos Amigos (ADA)", que é aliada ao PCC, segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo. Na ocasião, os policiais só apresentaram 168 quilos da droga como apreendidos. Assim, aproximadamente 790 quilos foram subtraídos pelos agentes do Estado.
A operação que prendeu Rollo é um desdobramento de uma ação da Polícia Federal que prendeu três policiais civis da 2ª Delegacia de Combate a Entorpecentes de Santos, acusados de desviar 400 kg de cocaína, na quinta-feira (17).
Segundo o mandado de prisão ao qual o UOL Esporte teve acesso, Rollo, que é policial civil, foi procurado em três endereços distintos em Santos. Em um deles, no bairro do Boqueirão, onde moram a mãe e o irmão de Rollo, a polícia encontrou R$ 70 mil em um saco de papel que estava no meio das roupas. Segundo a polícia, o armário em que a grana estava continha somente objetos de Rollo.
Além do dinheiro, no local foram apreendidos também um notebook e um aparelho celular, que segundo a polícia, também seriam de Rollo. Após esta diligência, a mãe do policial civil indicou o endereço correto dele, que possibilitou a prisão do ex-presidente santista.
Na residência de Rollo, a polícia apreendeu mais um aparelho telefônico, além de uma pistola Taurus, de uso permitido.
A reportagem tentou contato com o advogado de Orlando Rollo, mas não obteve resposta. Assim que ele se manifestar, o texto será atualizado.
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