SAF, futebol, dívida: eleição no Fluminense decide rumos do clube
Hoje (26), o sócio do Fluminense vai escolher o presidente do próximo triênio, entre 2023 e 2025. Estão na disputa os advogados Marcelo Souto, Mário Bittencourt, que tenta a reeleição, e Rafael Rolim. A votação será na sede das Laranjeiras, a partir das 9h. Os temas que nortearam a eleição foram majoritariamente a SAF, dívidas, reforma da sede social e, claro, futebol.
O Fluminense terá três candidatos à presidência pela terceira vez na história, desde que as eleições do clube passaram a ser de forma direta, em 2001. Antes disso, o mandatário era indicado por um Conselho Deliberativo eleito. Em 2007, Roberto Horcades saiu vitorioso, enquanto em 2016 foi Pedro Abad.
Os candidatos
Parte do grupo político "Tricolor de Coração", Mário Bittencourt encabeça a chapa "Com Amor e Com Vigor". Como rompeu com Celso Barros ainda nos primeiros meses de gestão, o vice-presidente será Matheus Montenegro, que atualmente está na área de relações institucionais do clube. Ex-advogado do clube nas gestões David Fischel, Roberto Horcades e Peter Siemsen, ele também já foi gerente de futebol com Horcades e vice de futebol com Peter. Em 2019, foi o presidente mais votado da história do Fluminense em eleição antecipada para a saída de Pedro Abad.
Já Marcelo Souto, de 36 anos, pertence ao "Esperança Tricolor". Foi conselheiro na gestão Pedro Abad e chegou a ser pré-candidato em 2019, mas não conseguiu as assinaturas suficientes para registrar a chapa. Desta vez, conseguirá concorrer tendo Sérgio Poggi como o vice-presidente.
Rafael Rolim, de 43 anos, é da chapa "Meu Fluminense Acelera". Jorge Briard, engenheiro e ex-presidente da CEDAE, será o vice-presidente. Ele não ocupou cargos ou foi conselheiro, mas fez parte da chapa de Ricardo Tenório na eleição de 2019 e seria o vice-presidente jurídico em caso de vitória.
Atualmente, atua como subprocurador-geral do Estado do Rio de Janeiro. Sem Pedro Antônio, ex-vice de Projetos Especiais, foi lançado. Os dois, inclusive, passaram o último ano estudando o clube com o objetivo de entender os cenários para migração para a SAF. O responsável por construir o CT do Tricolor está na lista dos 200 sócios e fará parte do Conselho Deliberativo em caso de vitória.
Oposição não se uniu
A oposição passou as semanas anteriores ao prazo de homologação das candidaturas tentando articular uma chapa única para bater de frente com Mário Bittencourt. O consenso, porém, não aconteceu. Ademar Arrais retirou o nome do jogo com o objetivo de facilitar a união, mas Rolim e Souto preferiram rumar caminhos diferentes. Celso Barros demonstrou apoio a Marcelo Souto, enquanto Pedro Antônio está do lado de Rafael Rolim.
O que dizem os candidatos?
Marcelo Souto
O candidato da chapa "Herdeiros de Oscar Cox" quer ter um executivo em cada pasta e indica a covocação para uma reforma no estatuto.
"O lema é transformar o presente e construir um futuro ainda melhor. Nosso planejamento estratégico detalha todas as áreas existentes e as novas unidades que serão criadas para alavancar novas receitas. Cada área terá seu executivo responsável, sairemos de um modelo amador para iniciarmos uma transição ao modelo empresarial. Destaco alguns projetos como a revitalização das Laranjeiras através do projeto Laranjeiras XXI e o centro de inteligência e aperfeiçoamento do departamento de futebol do Fluminense", afirmou.
Marcelo Souto se mostra favorável à SAF e lembra que, em 2019, quando a lei que impulsionou tais projetos no futebol brasileiro ainda nem havia sido discutida, levou ao debate a possibilidade de o Flu migrar para clube-empresa.
"Iremos convocar uma constituinte no ano 01 e dentro das opções que os sócios irão votar para mudar o estatuto estará à previsibilidade do clube ser SAF. Entendemos que é um dos caminhos que pode solucionar a questão financeira, assim como levar a uma profissionalização da gestão. Em 2019, quando a lei da SAF sequer estava aprovada, procurei Pedro Trengrouse, pois gostaria que conduzisse o debate para migrarmos para clube-empresa. Sou favorável. Acreditamos que o sucesso de um clube passa pela gestão empresarial e por boas práticas de governança", lembrou.
Sobre a dívida, Souto projeta uma administração que vai "dimensionar os gastos às suas expectativas de receita":
"O Fluminense, assim como 99% dos clubes brasileiros, possui uma dívida altíssima que não se paga em um curto espaço de tempo, mas que tem de ser controlada para não aumentar e adequá-la a um controle de fluxo de caixa, para pagarmos gradativamente, até porque temos juros em cima dessas dívidas. O principal é ter o cuidado de não materializar em um colapso econômico-financeiro, pois o clube segue com poucas receitas novas. O clube irá adotar uma gestão responsável, que passará a dimensionar os gastos às suas expectativas de receita, priorizando a liquidação de dívidas existentes e especialmente em assumir compromissos que poderiam ser saudados. Precisamos de equilíbrio".
Mário Bittencourt
O atual presidente quer criar, no departamento de futebol, a diretoria de planejamento esportivo, que vai integrar a base e o profissional, e expandir o setor de scout.
"A Libertadores já é uma meta a partir de 2023. Formamos uma equipe que tem uma base sólida e um treinador que iniciará o ano já com um time treinado por ele, escolhido por ele e que, sempre é bom lembrar, superou muitas dificuldades para ser o terceiro colocado no campeonato. Temos um planejamento sólido. No futebol, queremos criar a diretoria de planejamento esportivo, integrando a base e o profissional, e expandir o setor de scout, captação e análise de desempenho", disse.
"Ao mesmo tempo, fortaleceremos as finanças do clube, sua estrutura interna e as condições de seus profissionais em todas as áreas. Vamos seguir investindo no CT, na melhoria da estrutura de Xerém e no projeto de restauração de Laranjeiras", completou.
Sobre a possibilidade de o Fluminense se transformar em SAF, Bittencourt afirma que o clube está buscando investimentos
"Precisamos e estamos buscando investimentos. Esse é o essencial dessa questão. Se o modelo da SAF for o mais adequado ao Fluminense, será escolhido. Mas falar em SAF sem melhor avaliação e sem entender as consequências disso seria uma irresponsabilidade. Grandes clubes viraram SAF e estão agora enfrentando problemas iguais aos que tinham. Já o Bahia me parece ter feito um caminho mais bem planejado. Estamos trabalhando com o BTG para encontrar o modelo ideal".
Questionado sobre a dívida do clube, o candidato afirmou que está "equacionada e estabilizada" e que há a procura por um investidor para reduzir esse déficit.
"Pagamos mais de R$ 290 milhões em dívidas nos últimos três anos e meio. Hoje, nossa dívida está equacionada e estabilizada. Conseguimos a homologação do Regime Centralizado de Execuções (RCE), que evita a penhora das contas e proporciona fluxo de caixa, mas boa parte da nossa receita é direcionada para o pagamento dessas dívidas. Nosso objetivo, daqui para frente, é buscar um investidor que nos ajude a reduzir drasticamente a dívida, que está contida na casa dos R$ 740 milhões, e investir para que consigamos ter uma melhoria ainda maior de performance esportiva.
Rafael Rolim
Rafael Rolim aponta querer uma "ruptura do modelo associativo" e salientou as "cifras bilionárias que circulam no mundo futebol".
"Venho como uma proposta bem definida de ruptura do modelo associativo no clube. Não faz sentido, em pleno de 2022, com as cifras bilionárias que circulam no mundo futebol, adotarmos um modelo que, embora tenha nos dado muitas conquistas, não seja capaz de conferir transparência, profissionalismo e segurança jurídica para enfrentarmos a nossa dívida praticamente bilionária e, ao mesmo tempo, atrair investidores para fazermos um futebol forte. Futebol forte, para mim, significa ganhar grandes títulos, o que sempre foi a essência do Fluminense".
Na esteira deste assunto, Rolim se mostra favorável à criação da SAF com o objetivo de atrair novos investimentos ao Tricolor:
"Sou a favor da entrada de investidores estratégicos. Sempre digo que a SAF não é a solução mágica, mas representa um instrumento legal que permite a entrada de dinheiro novo no clube. Claro que deve ser submetido à votação dos sócios. Se não tivermos a entrada de investidores e a responsabilidade sobre os gastos no clube, continuaremos com o ciclo vicioso de vender jovens de Xerém por preço abaixo de mercado para pagar exclusivamente folha de pagamento, tudo isso sem levantar grandes títulos".
O candidato indica que a chapa estima que a dívida do clube esteja na casa de R$ 1 bilhão, mas diz ser possível reduzi-la com algumas medidas.
"Nossa campanha estima a dívida próxima de R$ 1 bilhão. É uma grande bola de neve, que deve ser enfrentada sem medo. Claro que é possível reduzir despesas, impor teto de gastos nas áreas administrativas, explorar melhor as receita, melhorar a qualidade das vendas dos atletas... Mas a verdade é que, ainda assim, ficaremos com o fluxo de caixa asfixiado em razão do enorme passivo financeiro. Temos que refletir sobre o que queremos para o Fluminense", afirmou.
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