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Maradona, zagueiros e mais: Os 10 maiores rivais da carreira de Pelé

Estudiosos da história do futebol divergem sobre as origens da rivalidade entre Pelé e Maradona - EPA
Estudiosos da história do futebol divergem sobre as origens da rivalidade entre Pelé e Maradona Imagem: EPA

Do UOL, em São Paulo

30/12/2022 04h00

A grandeza de Pelé também consagra seus adversários, principalmente os que conseguiam marcá-lo e os que de alguma forma foram comparáveis a ele. Um dia após a morte de Edson Arantes do Nascimento, o UOL Esporte lista dez grandes rivais do Rei do Futebol.

1 - Eusébio

Pelé e Eusébio se cumprimentam e posam para foto em amistoso entre Brasil e Portugal, em 2000 - AOP.Press/Corbis via Getty Images - AOP.Press/Corbis via Getty Images
Imagem: AOP.Press/Corbis via Getty Images

Rotulado de Pelé Europeu nos Anos 1960, Eusébio foi o grande nome da Copa do Mundo de 1966, artilheiro com nove gols e destaque que levou a seleção de Portugal ao terceiro lugar —na primeira edição que o país disputou. O habilidoso atacante nascido em Moçambique era perfeito em quase todos os atributos, como cabeceio, chute com ambos os pés, visão de jogo e posicionamento, e apareceu para o mundo em um jogo justamente contra Pelé.

Foi em 15 de junho de 1961, no Torneio de Paris. O Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe era praticamente imbatível e fez cinco gols seguidos nos portugueses enquanto Eusébio estava no banco. Aos 19 anos, ele havia estreado três semanas antes, mas passaria a ganhar fama mesmo após sair da reserva para marcar três gols no time brasileiro em 20 minutos —o jogo terminou 6 a 3.

Pelé e Eusébio voltariam a se encontrar várias vezes. A primeira delas já no ano seguinte, quando o Santos se tornaria campeão mundial sobre o Benfica; depois em amistosos pela Europa; e também na Copa de 1966, na qual o português fez dois gols e foi o carrasco da eliminação da seleção brasileira ainda na fase de grupos.

2 - Maradona

Pelé, Maradona e Vladimir Putin juntos no sorteio da fase de grupos da Copa do Mundo de 2018 - Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images - Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images
Imagem: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Alguns juram que foi o melhor da história, e este já é um motivo suficiente para torná-lo um dos grandes antagonistas do Rei do Futebol. Mesmo jogando em diferentes épocas e sem nunca terem se enfrentado em campo, os dois viveram décadas entre farpas, brigas e reconciliações até finalmente se acertarem.

A história de Diego Armando Maradona todo o mundo conhece: jovem do Argentinos Jrs. que fez história no Napoli e no Boca Juniors, tornou-se herói nacional com os gols históricos contra a Inglaterra (a Mão de Deus e o Gol do Século) e ainda ganhou aquela Copa do Mundo de 1986 para a Argentina. Foi fantástico em campo e sofreu muito fora dele pelo vício das drogas.

Maradona quase jogou no Santos em 1995, chegou a ter uma reunião com Pelé presente, mas a negociação esfriou. Em 2000, os dois pisaram no mesmo palco para receber da Fifa o prêmio de melhores jogadores do Século XX, o que aumentou a rixa entre eles. Foram anos de provocações e declarações atravessadas, com uma trégua em um programa na TV argentina em 2005, com direito a uma tabela de cabeça, e finalmente as pazes mais recentemente. A última aparição pública dos dois juntos foi no sorteio da Copa do Mundo de 2018, quando Maradona deu um beijo em Pelé.

3 - Garrincha

Pelé e Garrincha, em partida no Maracanã entre Santos e Botafogo, em 2 de fevereiro de 1968 - Pictorial Parade/Archive Photos/Getty Images - Pictorial Parade/Archive Photos/Getty Images
Imagem: Pictorial Parade/Archive Photos/Getty Images

Garrincha foi ao mesmo tempo parceiro e rival de Pelé. Na seleção brasileira os dois foram imbatíveis, jogaram juntos 40 vezes e nunca perderam; mas nos clubes foram adversários por quase uma década, nos dois times que reinaram no futebol brasileiro nos Anos 1960.

O grande ano da rivalidade foi 1963. O Botafogo de Mané e cia. era bicampeão carioca e um dos únicos a fazer frente ao Santos de Pelé, tricampeão paulista e já dono do mundo. Naquela temporada os dois se enfrentaram na decisão do título brasileiro e também na semifinal da Libertadores, e o time paulista levou a melhor ambas as vezes. Um dos jogos teve em campo nada menos do que 11 campeões mundiais com seleção no ano anterior.

Ícones daquela década, Pelé e Garrincha foram também os responsáveis por sarar o trauma do Brasil em Copas do Mundo, foram bicampeões juntos e sempre com estilos muito diferentes: o camisa 10 com sua eficiência impressionante, e camisa 7 com estilo mais arteiro, travesso com os marcadores. Juntos, os dois traduzem perfeitamente o futebol brasileiro.

4 - Beckenbauer

Pelé dá boas-vindas a Franz Beckenbauer na segunda passagem do alemão pelo New York Cosmos, em 1983 - Bettmann Archive - Bettmann Archive
Imagem: Bettmann Archive

Enquanto Pelé reinava no futebol sul-americano, já no final dos Anos 1960 Beckenbauer começava a despontar na Europa como um dos melhores do mundo. Líbero de classe e extrema qualidade, travou grandes duelos com o Rei em jogos de seleções, recuado de propósito justamente para ficar o jogo inteiro na cola de Pelé.

Em um dos jogos, em 1968, Pelé fez Beckenbauer passar vergonha com uma caneta que o deixou estatelado no chão, um lance histórico. O alemão ganhou todos os títulos possíveis em mais de uma década com o Bayern de Munique, e em 1977 foi reencontrar Pelé nos Estados Unidos, onde os dois jogaram juntos no New York Cosmos e se tornaram pilares do ainda insipiente futebol local.

Beckenbauer já disse diversas vezes que Pelé é o melhor da história, e o Rei devolve a gentileza sempre incluindo o amigo na curta lista de jogadores que vê como mais próximos dele.

5 - Romário

Romário e Pelé - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Calado é um poeta" virou um bordão do futebol brasileiro após Romário rebater Pelé, e esta única frase já bastaria para incluir o senador entre os rivais do Rei. O episódio aconteceu em 2005, após Pelé aconselhar Romário a encerrar a carreira. "A gente já sabe que o Pelé só fala merda. Ele deveria se meter só na vida dele; tinha que colocar um sapato na boca", seguiu na ocasião o camisa 11, que voltaria a repetir o insulto por anos a fio.

Anos depois, Romário afirmou que nunca se arrependeu do comentário. Mais recentemente, já como senador, chegou a insinuar que Pelé "levava dinheiro da CBF" e por isso não se posicionava de maneira clara contra os desmandos da entidade. Quando questionado sobre o atrito em 2020, o Rei pôs panos quentes. "Eu agradeço ao Romário, porque poeta é uma coisa importante", riu.

Romário conseguiu seu feudo no futebol e reinou na grande área. Foi herói do Vasco da Gama, ídolo do Flamengo, melhor jogador do mundo e campeão da Copa de 1994 com a seleção brasileira e, assim como Pelé, também chegou aos mil gols na carreira.

6 - Vicente

Pelé e o meio-campista português Vicente Lucas, antes de partida entre Brasil e Portugal nos Anos 1960 - Arquivo Diário de Notícias - Arquivo Diário de Notícias
Imagem: Arquivo Diário de Notícias

Nascido em 24 de setembro de 1935, Vicente Lucas é uma lenda do Belenenses, de Portugal, o único clube de sua carreira. Ele jogava de forma elegante e sabia marcar como poucos: chegou a passar 11 anos sem receber um cartão amarelo, era especialista em roubar bolas de forma limpa e por isso foi apelidado de Pezinhos de Lã. Não à toa, foi reconhecido pelo próprio Pelé como o melhor defensor que já enfrentou.

Nascido em Moçambique, Vicente foi para Portugal por intermédio do irmão Matateu, que também era jogador do Belenenses. Estreou em 1954 e nunca mais vestiu a camisa de outro clube. Tido como um dos melhores meio-campistas da Europa à época, era figurinha fácil em convocações da seleção portuguesa. Em uma delas, para um amistoso contra o Brasil, foi tão dominante na vitória por 1 a 0 que no dia seguinte virou manchete de jornal: "Vicente meteu Pelé no bolso".

Vicente foi convocado para a primeira Copa do Mundo da seleção portuguesa, em 1966, e de novo assumiu a missão de marcar Pelé. Desta vez não foi tão limpo como de costume, pelo contrário, foi ativo no rodízio de faltas duras que acabou por lesionar o Rei e obrigá-lo a usar apenas a canhota. Portugal venceu por 3 a 1.

O meio-campista foi obrigado a se aposentar naquele mesmo ano, após um acidente de carro que o fez perder a visão de um olho. A vida o derrubou. Tentou ser treinador, mas teve as duas pernas amputadas por gangrena e não conseguiu seguir no futebol. "Fico triste de ver os outros jogando e eu numa cadeira de rodas", disse em entrevista de 2018. Atualmente vive em um asilo.

7 - Trapattoni

Giovanni Trapattoni e Pelé durante partida entre Brasil e Itália no Estádio San Siro, em Milão, em 12 de maio de 1963 - Wikimedia Commons - Wikimedia Commons
Imagem: Wikimedia Commons

Toda uma geração conhece Giovanni Trapattoni como o treinador super campeão pela Juventus, que só nos Anos 1980 venceu cinco cinco títulos italianos, mas este ex-treinador foi também zagueiro. Fez história no Milan por 13 anos e foi peça central na conquista de dois títulos europeus. Ganhou notoriedade também por anular Pelé em alguns jogos amistosos, por clubes e seleções, mas levou a pior na maior decisão que teve contra o Santos.

Trapattoni esteve a 45 minutos de ser campeão mundial com o Milan no Maracanã. Os italianos haviam vencido o primeiro jogo daquele Mundial em casa, e no segundo jogo abriram 2 a 0 no Rio de Janeiro quando só precisavam do empate. Pelé nem estava em campo, mas o Santos reagiu de forma espetacular, virou a partida e dois dias depois foi campeão com nova vitória.

8 - Aldemar

Palmeiras venceu o Santos por 2 a 1 no terceiro jogo desempate que definiu o título do Campeonato Paulista de 1959 - Folhapress - Folhapress
Imagem: Folhapress

Aldemar Santos defendeu o Palmeiras por cinco anos e é considerado um dos melhores zagueiros que Pelé já enfrentou. Hábil e inteligente, destacou-se no Vasco e brilhou no Santa Cruz por seis anos antes de se mudar para o futebol paulista em 1959. Foi campeão três vezes pelo Alviverde e ainda passou por América-MG e Guarani antes de se aposentar em 1966.

Sua atuação mais lembrada é a do terceiro jogo desempate do Supercampeonato Paulista de 1959, no qual marcou Pelé em um Pacaembu abarrotado (foto). O Rei chegou a fazer um gol, o 44º naquele torneio, mas Aldemar conseguiu marcá-lo de perto. O Palmeiras venceu por 2 a 1 e ergueu a taça.

Aldemar chegou a estar em uma primeira lista da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1962, mas acabou cortado. A situação o deixou abatido, e ele passou a ter problemas com a bebida, um fator relevante para sua saída do Palmeiras em 1964. Ele ainda tentou ser treinador, mas teve de desistir por sofrer de amnésia. Sua saúde piorou gradativamente, e o ex-jogador morreu de forma precoce aos 45 anos, sem dinheiro e morando na casa dos pais.

9 - Vitor

Vitor Ratautas, o Lituano ou "Vitor Paulada", zagueiro do São Paulo nos Anos 1950 - Reprodução/A Gazeta - Reprodução/A Gazeta
Vitor Ratautas, o Lituano ou "Vitor Paulada", zagueiro do São Paulo nos Anos 1950
Imagem: Reprodução/A Gazeta

Um dos maiores algozes de Pelé, Vitor Ratautas, foi um zagueiro mal-encarado que fez sucesso no São Paulo entre 1954 e 61, também considerado à época como um dos grandes marcadores do Rei do Futebol. Sua marca registrada eram as entradas violentas, que motivaram seu apelido de Vitor Paulada.

Uma das principais vítimas, naturalmente, era Pelé. O Rei não gostava nada da brutalidade do marcador e deixou isso claro após um certo clássico: o camisa 10 santista havia deixado de marcar um gol por que o tricolor Roberto Dias tinha se deitado em sua frente para impedir o chute. "Se fosse o Vitor Paulada, com certeza teria chutado a bola e sua cabeça", falou Pelé.

Vitor foi revelado pelo Juventus-SP e rodou por vários times paulistas, incluindo a Ponte Preta, até a aposentadoria em 1969. Ele morreu aos 62 anos, em 1996.

10 - Piter

Pelé e o zagueiro Piter, o Rocha Negra, defensor do Comercial-SP considerado um dos melhores que já o marcou - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Outro zagueiro que passou à história pela marcação cerrada a Pelé. De tanto ser atazanado durante os jogos, o Rei do Futebol tentou levar o defensor ao Santos para jogarem juntos, mas o então presidente do Comercial de Ribeirão Preto não quis saber do negócio.

Eurípedes Fernandes, o Piter, encontrou Pelé várias vezes em jogos do Campeonato Paulista. O zagueiro não saía do pé do camisa 10, que durante as partidas teria dito mais de uma vez: "Puxa, mas como você enche o saco!".

Apelidado de Rocha Negra, o defensor atuou pelo comercial por 13 anos até ser vendido ao Atlético-GO e se aposentar três anos depois, em 1976. Ele chegou a ser taxista e monitor de escolinhas de futebol no interior paulista, sofreu com Alzheimer e morreu aos 81 anos, em fevereiro de 2022.