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OPINIÃO

Milly sobre cultura do estupro: 'Sociedade não diz para o homem não fazer'

Do UOL, em São Paulo

26/01/2023 10h17

Daniel Alves está detido em Barcelona desde a última sexta-feira, após ser acusado de agressão sexual por uma mulher de 23 anos. O UOL entrevistou de maneira exclusiva Ester Garcia López, advogada da jovem.

O UOL News Esporte trouxe mais detalhes sobre o caso. A colunista Milly Lacombe considera o caso Daniel Alves como um ponto de debate para a cultura do estupro que oprime mulheres.

"Como a gente não pode falar muito minuciosamente esse caso pavoroso que envolve o Daniel Alves, o que a gente pode fazer é usar o que sabemos para falar da cultura do estupro. É uma cultura. Como é uma cultura? O que faz isso ser uma cultura? Coisas do tipo: 'Ela bebeu, então ela estava lúcida para falar'. 'Ela não quer indenização'. A mulher não pode beber. A mulher não poder querer indenização. A mulher precisa sair com uma coisa decente. A mulher não pode rebolar na cara do homem. A mulher não pode dançar provocativamente. A mulher tem hora para sair e hora para voltar. A mulher tem que sentar com a perninha fechada. A gente ouve isso desde sempre. Essa é a cultura", disse Milly Lacombe

"A sociedade diz para a gente 'Não se deixe estuprar'. A sociedade não diz para os homens 'Não estupre'. É diferente. Isso é uma cultura. A mulher que fala: 'Eu fui abusada sexualmente', ao falar a frase, ela já está no banco dos réus", adicionou a colunista.

Estado da denunciante

Ela ainda não dorme à noite. Outra coisa que a Ester disse é que tentam blindá-la dos noticiários, porque você liga a televisão, ainda mais lá (na Espanha), fala-se disso o tempo todo. Então eles estão tentando blindá-la, para que ela se abale menos. Ela está fazendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico, mas ainda não está sendo suficiente, a situação está bem complicada", disse Talyta Vespa.

Caso pode ser um marco no combate à violência sexual

"Sobre ser um marco, acho que com certeza. Vou tomar a liberdade de citar uma frase da Ester, porque achei que ela fala muito bem sobre isso. Ela diz que, muitas vezes, 'esses homens famosos acham que estão acima do bem e do mal'. A partir do momento em que se vê pela primeira vez uma situação contundente, de prisão provisória, acho que é um marco sim, e ela também acha. 'Independentemente de como acabar, a forma como começou foi muito importante. Não só para a gente, mas para todas as mulheres do mundo'. E eu concordo totalmente com ela, acho que é um avanço", disse Talyta Vespa, citando a advogada.

Próximos passos da investigação

"Ainda vamos ter mais depoimentos, de funcionários da discoteca que ainda não foram ouvidos, de pessoas próximas à denunciante também, que estiveram com ela. Vamos ter mais indícios que são recolhidos. Pelo que ela nos explicou, a defesa do Daniel Alves não vai apresentar recurso amanhã porque ganhou um tempo extra até a semana que vem. Até terça-feira, a defesa deve apresentar um recurso pedindo uma liberação, que ele espere o julgamento em liberdade. Durante esse período, com recurso ou não, depois que for feito o recurso, as partes, tanto Ministério Público quanto a assessoria jurídica da denunciante vão apresentar alegações para impedir que esse recurso seja acatado", disse Thiago Arantes.

"Futebol é extremamente machista"

"Não virá (nenhum comentário) porque a cultura é machista. Porque o futebol é extremamente machista. Ninguém vai falar. Não falaram na época do Robinho. Não falaram na época do Cuca. O Mike Tyson, hoje, está sendo acusado de novo de estupro. O mesmo Mike Tyson que já havia sido preso por estupro. Acho que isso aí infelizmente é uma coisa que precisa de muita luta. Mas precisa também de exemplos. Esse caso Daniel Alves pode ser um ótimo exemplo", disse Renato Mauricio Prado.

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