Após caos na Libertadores, agência promete paz em pacotes do Mundial do Fla

Marcada pelo caos que se instaurou no aeroporto do Galeão antes da final da Libertadores em outubro, a agência carioca de turismo "Outsider Tours" reapareceu comercializando quase 300 pacotes para o Mundial de Clubes que será disputado pelo Flamengo no Marrocos. As vendas acontecem enquanto a empresa ainda enfrenta centenas de processos judiciais de clientes frustrados que não conseguiram embarcar para Guayaquil naquela ocasião.

• Diretor comercial da Outsider Tours, Fernando Sampaio, concedeu ao UOL sua primeira entrevista exclusiva após os problemas.
• Sampaio foi questionado sobre todos os problemas nos pacotes vendidos para Guayaquil, além dos acordos feitos e processos que têm sofrido dos clientes que foram lesados.
• A agência promete que, com menos pacotes para o Mundial, conseguirá entregar um "serviço seis estrelas".

"É uma empresa que já levou 1.800 pessoas pra Montevidéu, 1.600 para Guayaquil, embora tenham ocorrido os problemas. Agora, para o Mundial, nós vamos fechar em 300 pacotes para ver como será a resposta do público. Para fazermos um serviço impecável mesmo, que costumamos fazer. Com 300 pacotes a gente consegue fazer um serviço seis estrelas", declarou.

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'É uma empresa que não está dando golpe'

O episódio que acabou marcando negativamente a Outsider Tours aconteceu na semana da final da Libertadores de 2022, em outubro, quando Flamengo e Athletico-PR se enfrentaram em Guayaquil, no Equador. Cerca de 1.800 pessoas compraram os pacotes da agência, mas uma resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) proibiu os fretamentos feitos pela empresa já que o país da companhia contratada não possuía acordo para realizar tal tipo de viagem. Com o contratempo, o saguão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, transformou-se num verdadeiro caos.

Fernando Sampaio, que na ocasião precisou ser escoltado por policiais, relembra a correria para fechar novos aviões e embarcar, nas contas dele, exatas 1.643 pessoas.

"É uma empresa que não está dando golpe, que está dando a cara, aparecendo, porque o que acontece? Tivemos que recomprar nove aviões do dia para noite, com um fluxo de caixa absurdo que tivemos que disponibilizar para fazer dar certo da forma que era possível dar certo", disse o diretor, ressaltando:

"Então, se não fosse uma empresa séria, que sabia fazer o negócio, eram mais de 700 pessoas no chão certamente. Óbvio que teve o transtorno, barulheira, gritaria, mas ficou uma imagem como se muito mais gente não tivesse conseguido embarcar".

Diretor diz já ter feito acordo com mais de 50% dos clientes que não embarcaram

Ainda segundo o diretor, a Outsider Tours já teria feito acordo com mais de 50% dos clientes que não embarcaram para Guayaquil.

"Nossa estratégia é a seguinte: chamamos todas as pessoas que não voaram. Oferecemos um reembolso completo e damos 'X' reais em crédito de viagens ou 'X' reais em cash. Isso já fizemos com mais de 50% das pessoas que não voaram", declarou, complementando:

"Esses 40% que ainda não foram reembolsados se dão única e exclusivamente porque tomaram o caminho da Justiça. E aí a gente está se defendendo juridicamente, mas acreditamos que eles devem, sim, ser reparados de alguma forma. Caso eles queiram entrar em contato para tentar fazer um acordo extrajudicial, estaremos super abertos".

Clientes lesados alegam que não foram procurados

O UOL Esporte ouviu dois dos clientes que ingressaram com ações na Justiça contra a Outsider Tours e ambos confrontam a versão apresentada por Fernando Sampaio.

Ronaldo Souto, por exemplo, passou por grandes contratempos na ocasião. Ele alega que teve seu passaporte perdido por um funcionário da agência e não conseguiu embarcar junto com seus outros nove amigos. Somente à noite, segundo o torcedor, o documento foi achado e ele foi realocado para uma companhia equatoriana, mas diz ter esperado dentro da aeronave mais de duas horas sem ar condicionado e, cansado, acabou desistindo. O rubro-negro nega ter sido procurado posteriormente para um acordo.

"A empresa Outsider não fez contato com 100% das pessoas que entraram com solicitação de reembolso. Eu fui uma dessas pessoas que não foi contatado. Entrei com uma ação judicial solicitando reembolso, tendo em vista o desgaste que aconteceu, a perda do meu passaporte, Até agora, nenhum tipo de contato por parte deles", disse.

Outro que, na época, desistiu de viajar diante dos problemas e agora está processando a empresa foi o advogado Fernando Barbalho.

"Mandaram um email na semana seguinte à final, dizendo que iriam entrar em contato para combinar o pagamento mediante estorno no cartão, em dinheiro ou por meio de um desconto na viagem para o Mundial. Depois nunca mais, muito embora eu tenha tentado contato. Tentei cancelar a despesa no cartão, mas não consegui, pois já tinha passado do prazo da contestação. Duas das seis parcelas foram pagas antes da viagem. E já tive que pagar outras duas", declarou o torcedor, que recentemente foi procurado, mas já havia ajuizado a ação.

Anac explica motivos do veto aos fretamentos

Ao UOL Esporte, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) enviou uma nota explicando os motivos que a levaram a vetar os fretamentos feitos pela Outsider Tours na ocasião da final da Libertadores, alegando que o país da companhia contratada [Euroatlantic] não possui acordo para este tipo de viagem:

"O transporte aéreo público não regular internacional, do qual fazem parte voos fretados, é delineado por Tratados, Convenções e Acordos Internacionais de que o Brasil é parte, bem como por legislação complementar, como a Resolução ANAC nº 692/2022. Conforme previsão legal, o acesso ao mercado de transporte aéreo internacional com origem ou destino no Brasil por empresas estrangeiras depende de autorização. No Acordo de Serviços Aéreos firmado entre Brasil e o país de registro das empresas estrangeiras que solicitaram os voos, no caso, o Equador, não havia previsão de realização de transporte aéreo público não regular internacional (voos fretados). Por essa razão, a ANAC indeferiu os voos solicitados, nos termos da Resolução 692/2022, art. 6º, incisos I e II".

'Entregando o Mundial, voltaremos para o jogo'

A Outsider Tours aposta no Mundial de Clubes como uma chance da empresa virar a página perante ao público e seus clientes. O 1º lote do pacote para o Marrocos estava saindo a R$ 16.990 com direito a passagem, hospedagem, transfer e ingresso para a semifinal e a final.

"Entregando o Mundial, voltaremos para jogo e iremos resgatar a confiança do torcedor do Flamengo e de outros clubes que, eventualmente, comprarem conosco. Estamos todos aqui mega empolgados para chegar logo o Mundial. Vamos com uma equipe grande lá para dar suporte aos clientes. Está todo mundo contando os dias para chegar nessa viagem, entregar, virar a página e agora ser vida nova", ressaltou o diretor.

Confira outros trechos da entrevista exclusiva

Ameaças de morte

"Foram mais de 200 ameaças de morte no meu Instagram. E gente que nem era meu cliente. Era quem queria disseminar o ódio só por disseminar. Das 1.800 pessoas que eram nossos clientes, dentro das que voaram ou não, dificilmente você vê comentando negativamente. Quem você vê xingando é gente que não é nosso cliente. A Outsider é conhecida por ter um atendimento super humanizado".

Rescisão da parceria com o Flamengo

"Essa parceria com o Flamengo ficou secundária no momento para nós. Foi uma coisa muito legal ter fechado com o Flamengo, mas depois de todos os problemas que aconteceram, nossa maior preocupação não era ser patrocinador do clube, e sim reparar nossos clientes. A gente com certeza prefere conversar em um outro momento, e o Flamengo também".

Não fretou aviões para o Mundial

"Estamos muito acostumados a fazer fretamento, mas conversando com o pessoal achamos melhor não fazer dessa vez. O cliente vai ficar muito mais seguro e confiante se comprar e receber o bilhete aéreo dele da Air France, da TAP... A notícia iria se espalhar que estavam comprando e recebendo os bilhetes aéreos. Foi uma estratégia que deu certo".

Lições

"A lição que eu tiro é que sempre tem que mostrar a cara em qualquer tipo de problema. Se a empresa existe hoje, é porque eu estava lá [no aeroporto], por mais que a minha imagem tenha se desgastado. Muita gente que hoje é nosso cliente e comprou pacote de novo, foi porque botei a cara lá. E foi algo que fiz meio que intuitivamente. Achei que tinha que realmente botar a cara. Muitos botariam outra pessoa no meu lugar".