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Em recurso, Daniel Alves rejeita fuga e promete distância de denunciante

Talyta Vespa e Thiago Arantes

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo e em Barcelona

01/02/2023 13h44

Daniel Alves está disposto a entregar tudo em troca de liberdade. É o que mostra o recurso da defesa do jogador, ao qual o UOL teve acesso com exclusividade, e em que o advogado Cristóbal Martell tenta demonstrar que, solto, Daniel Alves não será uma ameaça às investigações -principal motivo pelo qual a prisão provisória foi decretada pela juíza do caso em 20 de janeiro. Ele está preso desde então.

A defesa tenta provar que a chance de Daniel Alves deixar a Catalunha e voltar para o Brasil é nula. Entre as ações cautelares com as quais o jogador se compromete, está o cumprimento de uma ordem de restrição que o proíbe de ter qualquer tipo de contato com a denunciante, bem como manter uma distância superior a 500 metros.

Outras medidas do recurso:

  • Apresentar-se pessoalmente às autoridades em local e periodicidade definidos pela Justiça -o recurso inclui a possibilidade de que o jogador o faça diariamente.
  • Notificar as autoridades sobre toda e qualquer mudança de endereço por parte do acusado.
  • Entregar os passaportes (brasileiro e espanhol) e não deixar o território nacional.
  • Uso de pulseira eletrônica que monitore a localização de Daniel Alves e envie os dados à polícia.

Além das medidas cautelares, o recurso concorda que o jogador pague uma fiança para deixar a prisão preventiva. O valor não foi estipulado no documento.

Comportamento como moeda de troca

A defesa tenta usar como argumento pela liberdade a conduta de Daniel Alves antes da prisão. Segundo o documento, o jogador "sabia qual era a unidade policial que o investigava (uma unidade que investiga crimes sexuais), e mesmo assim se apresentou voluntariamente". De acordo com a defesa, esse comportamento no início da investigação é um indício de que não existem riscos de que Daniel Alves fuja: "o risco de fuga, portanto, não existe, já que ele se apresentou quando foi chamado".

As empresas e a residência que o jogador têm em Barcelona também foram utilizadas na argumentação. O documento afirma que Daniel Alves "tem conexões pessoais, familiares, sociais e empresariais" com a cidade. O brasileiro tem dupla nacionalidade, e, apesar de ter companhias em Barcelona, também é dono de 15 estabelecimentos no Brasil.

O documento afirma que, com a demissão do Pumas, o brasileiro não tem mais um contrato de trabalho no exterior. A defesa elenca outros casos julgados em Barcelona em que a prova de residência e empresas na cidade, junto de medidas cautelares, foram suficientes para descartar o risco de fuga.

Busca por inconsistências

Ao se deparar com um depoimento quase isento de inconsistências por parte da mulher que o acusa - o que é incomum em casos de violência sexual-, a defesa de Daniel Alves buscou contradições na acusação. Um dos motivos que levaram à prisão do brasileiro foram os depoimentos consistentes da mulher contra as diversas versões apresentadas por ele.

Ainda assim, a defesa afirma, no recurso, que diferentemente do que disse a possível vítima, a área VIP onde ela e Alves estavam não era isolada do restante da discoteca Sutton. "Observa-se um grupo de cinco pessoas, em um clima lúdico e festivo, rodeados de muitíssima gente em um espaço aberto". Assim, a defesa alega que não houve "intimidação ambiental" contra a mulher.

Em entrevista exclusiva ao UOL, a advogada da mulher que acusa Daniel Alves afirma que uma violência sexual, muitas vezes, tem consequências similares às de um choque pós-traumático -o que, em muitos casos, justifica as inconsistências em depoimentos de vítimas. Ester diz, ainda, que não foi o caso de sua cliente. Mas, que caso houvesse inconsistências, elas seriam comuns em casos desse tipo.

"Por sorte, minha cliente praticamente não tinha bebido, e isso é importante, porque em casos de submissão química — quando se misturam álcool e medicamentos — pode haver lapsos de memória imensos. Nesse caso isso não aconteceu, e isso ajudou para que a declaração fosse persistente. Ela tem alguns pequenos lapsos de memória, mas é pelo choque traumático, não pela ingestão de álcool. São lapsos que não influem nos fatos mais importantes para a investigação",

A defesa de Daniel Alves tenta relacionar a inconsistência citada acima com a possibilidade de haver outras inconsistências no depoimento da possível vítima. Em momento algum do recurso, entretanto, a defesa contesta as afirmações de que Daniel Alves havia colocado as mãos da mulher em seu pênis; também não há menção ao tempo em que eles ficaram no banheiro, nem à saída de ambos e à denúncia de violência que teria acontecido depois.

Outro lado

Procurada, a assessoria de imprensa de Daniel Alves não se manifestou até a publicação desta reportagem.