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Filho de Lula busca paz no futebol do Amazonas: 'Ninguém me queria perto'

Luis Claudio Lula da Silva, filho do presidente Lula - Reprodução/Instagram
Luis Claudio Lula da Silva, filho do presidente Lula Imagem: Reprodução/Instagram

Luis Augusto Simon

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/02/2023 04h00

Luis Cláudio da Silva é filho de Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia. É formado em Educação Física e tem cursos de gestão e de marketing esportivo. Se tornou conhecido no Brasil ao trabalhar em grandes clubes do futebol. Esteve com Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes, no Palmeiras, Santos e Corinthians. E também na base do São Paulo.

Em 2015, migrou para outro futebol, o americano. Era dono da Touchdown, empresa que organizava um campeonato do esporte norte-americano no Brasil. O negócio tinha patrocinadores fortes como Ambev, Tigre e Caoa.

Até que chegou a operação Lava Jato.

"Meu pai foi acusado de tudo o que se sabe. Inclusive de haver optado pela compra de caças suecos Grippen em troca de uma propina que iria para a Touchdown. Ora, meu pai já não era presidente e a compra era feira pela Aeronáutica. Não tinha nada a ver com isso, mas fui perdendo todos os patrocinadores", conta, em entrevista ao UOL.

"Você se sentia como uma pessoa radiativa?", questionou a reportagem.

"Prefiro falar o termo exato. Eu me sentia cagado. Ninguém me aceitava por perto. Tudo o que fiz pela empresa foi ficando para trás. Não havia mais patrocinadores, nada. Saí e fiz um curso de treinador de futebol na CBF. Também não arrumei nada e fui trabalhar com o deputado (estadual) Emídio de Souza (PT), onde me dediquei bastante, mas estava longe do que eu gosto".

A insistência nos cursos da CBF tinha razão de ser. Apesar da experiência com a versão estrangeira, a paixão de Luis era, mesmo, o nosso futebol. Anos depois, ele conseguiu retornar para o esporte.

Um encontro que parece ficção

Lula e Lulinha - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Luis Claudio Lula da Silva ao lado do pai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Imagem: Reprodução/Instagram

O roteiro desse retorno parece de um filme de ficção. No meio do Amazonas, em Parintins, um empresário coreano e o filho de um presidente do Brasil se uniram para criar um time de futebol com preocupações sociais. Como acontece com muitos roteiros, a ideia que saiu desse encontro foi modificada várias vezes, mas é dele o ponto de partida para contar essa história desde o início.

Sung Un Song é um coreano que vive no Brasil desde os quatro anos de idade. É formado em engenharia eletrônica na USP e dono da empresa Digitron, de computadores. Foi para o Amazonas em busca das vantagens oferecidas pela Zona Franca de Manaus.

Em junho de 2021, um advogado tributarista, amigo de de Sung e de Luis Cláudio, os apresentou. Disse que um estava precisando do outro. E deu match.

Sung, também fanático por futebol, queria participar do esporte no Amazonas. Viu uma porta se abrir quando a sede do Rio Negro, tradicional clube de Manaus, foi colocada à venda. Ele a arrematou em março de 2021, por R$ 3,78 milhões. Prometeu manter a estrutura intacta e investir no futebol, construindo um CT e chegando à Série A no prazo de cinco anos.

Dois meses depois da compra, entretanto, o empresário desistiu da operação e devolveu todo o dinheiro ao clube, exceto a comissão de leiloeiro.

O que Luis Cláudio mais queria era um time de futebol. Ele trabalhava na época, no gabinete do deputado Emídio de Souza, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não era seu sonho. "Se eu ficasse ali, não teria como crescer, teria de ser candidato a algum cargo e não queria. Gosto de política, mas não a esse ponto. Tinha dado um prazo para mim mesmo para definir o que fazer na vida", conta.

Então, houve o encontro entre Sung e Luis Cláudio.

"Eu sugeri que ele começasse do zero, com um trabalho de base. A ideia era montar categorias menores e com trabalho social, com as crianças recebendo atenção médica, de dentistas, alimentação. De cada cem, ele poderia formar um jogador, mas teria a certeza de formar 99 cidadãos", diz Luis Claudio

A proposta soou como música para Sung, que é presidente da Fundação Matias Machline, que faz trabalho social em Manaus. Em 2022, ele foi eleito o Industrial do Ano do Amazonas, também por causa de seu trabalho na fundação.

Decidiu-se então que o time ficaria em Parintins, cidade que tem um forte campeonato amador, mas nunca profissional. Luis Claudio se tornaria diretor de futebol. Parintins é conhecida mundialmente por seu festival que reúne o Boi Garantido e o Boi Caprichoso. Lá, ou se é azul ou vermelho. A rivalidade é imensa.

As cores do uniforme do novo time foram escolhidas. Azul e vermelho, é claro. O mascote? Um touro. E o nome, Parintins FC.

Parintins - Chicão produções - Chicão produções
Jogadores do Parintins celebram gol no amazonense
Imagem: Chicão produções

Tudo certo. Tudo caprichoso. Tudo garantido. E, então, total mudança de rumos.

A Federação Amazonense convidou o Parintins para montar um time profissional e jogar a segunda divisão. O convite foi aceito, mas os outros clubes se assustaram pelos custos da logística de deslocamento.

Parintins está a 370 quilômetros de Manaus e não se chega de carro. É avião, muito caro, ou barco, muito demorado. "São 16 horas", explica Luis Cláudio. A cada deslocamento para Manaus, haveria necessidade de estadia em hotéis. E, pensando tragicamente, e se torcedores se deslocassem até Manaus de barco e houvesse um naufrágio. Quantas pessoas morreriam?

O clube, então, se deslocou para Rio Preto da Eva, a 50 quilômetros de Manaus. Lá, já houve um time chamado Holanda, mas o futebol estava parado. O projeto foi muito bem recebido pelo prefeito e Parintins conseguiu o acesso à elite do futebol amazonense.

Agora na primeira divisão, o Parintins sonha alto, mas com os pés no chão. ''Estamos aprendendo e conhecendo o campeonato. A meta é não cair, conseguir a manutenção", projeta Luis Cláudio.

O caminho está sendo traçado e ele está feliz. Voltou a fazer o que gosta, mas ainda precisa responder a pergunta: o parentesco com o atual presidente do país pode atrapalhá-lo outra vez, como no caso da Touchdown?

"Olha, faço meu trabalho e nunca fiquei falando de quem sou filho. No caso da Touchdown, não foi culpa dele. Tenho muito orgulho de ser filho dele e mais ainda da minha mãe. Todo ser humano convive nove meses a mais com a mãe do que com o pai. É muito amor", diz.