Por presidência do conselho, Leila cede e libera ingressos a conselheiros
A noite regada à pizza, que selou a candidatura da situação à presidência do Conselho Deliberativo, foi considerada pelos conselheiros o reconhecimento de derrota pela presidente Leila Pereira, que recuou em suas posições e aceitou negociar pontos que ela considerava inquestionáveis.
Tudo isso, claro, para que a dirigente conquistasse o apoio para os seus candidatos, Alcyr Ramos da Silva Júnior, atual vice-presidente do Conselho Deliberativo, que concorrerá à presidência, e Maurício Camargo, o seu vice na chapa da situação, e assim ficar com o caminho tranquilo para manter o controle do órgão.
A presidente aceitou fazer de tudo para ajudar a eleger pessoas da situação na disputa de cinco vagas restantes de conselheiros vitalícios e voltar a dar desconto de 50% para a compra de ingressos por parte dos conselheiros, que ela havia cortado em outubro do ano passado.
Segundo o UOL apurou, a insatisfação de alguns conselheiros cresceu porque eles se sentem traídos pela presidente com o que ocorreu na última eleição de vitalícios.
Sem se preocupar em fazer a articulação, Leila viu, dos dois eleitos como vitalícios, apenas um ligado à situação, entre os 17 candidatos que disputaram as sete cadeiras disponíveis.
A oposição se sentiu fortalecida e comemorou o resultado porque, além de ter o mais votado entre os dois eleitos, cinco vagas não foram preenchidas.
Como parte do acordo, ela promete se empenhar para garantir que as cinco cadeiras sejam preenchidas, ainda neste ano, com candidatos da situação.
Em agosto do ano passado, na reforma estatutária, a quantidade de vitalícios foi reduzida. Anteriormente, 148 das 300 cadeiras do Conselho Deliberativo poderiam ser destinadas a esse tipo de conselheiros. Agora, apenas 130 podem ter esse direito.
Na reunião com cerca de 40 conselheiros, coube ao ex-presidente Maurício Galiotte manter o protagonismo, já que é ele quem faz o corpo a corpo com os conselheiros no Palestra Itália, a sede do clube. Além dele, o vice-presidente Paulo Buosi, ligado à cúpula do futebol, ajuda também a "domar" os mais insatisfeitos da ala da situação.
Internamente, eles formam a trinca de poder e estão à frente de tudo o que acontece no Palmeiras.
Na presidência, administrando como se fosse sua empresa, Leila é quem aparece, fala pelo clube e toma as decisões, a maioria delas, sem ouvir as pessoas mais próximas.
Se fosse um regime parlamentarista, Maurício Galiotte seria o primeiro-ministro. O ex-presidente aparece sempre ao lado de Leila. Em todas reuniões está junto da presidente. Uma espécie de "chancela" para ela nas decisões. Segura o conselho na "unha" e nas conquistas do passado, entre elas as duas Libertadores.
Livre trânsito e respeito gigante das duas chapas da situação. Hoje é o dono da política do Palmeiras.
Paulo Buosi é o primeiro vice- presidente. Amigo de todos. Sempre atende os conselheiros com respeito e velocidade. Um cara do bem. Super bem relacionado com os sócios. É o elo da presidente com o futebol profissional e também os departamentos do clube social.
Atual presidente do Conselho Deliberativo, Seraphim Carlos Del Grande era o quarto elemento, e, por isso, foi pressionado a concorrer à reeleição, mas ele se manteve firme e declarou que não há a menor chance de mudar de ideia.
Seraphim cansou de ser uma espécie de ouvidoria das queixas dos conselheiros e desistiu de seguir na presidência, já que sua eleição era dada como certa, por não conseguir que Leila, ao menos, revisse alguns pontos para estancar a crise interna. Diante disso, a situação resolveu lançar os dois candidatos citados acima.
Mais tensão no ar
Mesmo com toda essa articulação, em outro sinal do racha, a presidente Leila Pereira se irritou ao ser surpreendida com a decisão de Roberto Silva, que foi vice-presidente na gestão de Galiotte, de se lançar como candidato independente, o que será prejudicial à unidade da situação.
Isso porque, unidos, na eleição de 2021, Seraphim Carlos Del Grande derrotou Mario Giannini, candidato da oposição, por 129 votos a 114.
Apesar disso, pelo espaço curto de campanha, tanto situação quanto a oposição avaliam como improvável uma candidatura de terceira via.
Chegar a um candidato de consenso também é o desafio da oposição, que ficou em segundo lugar com a chapa Todos Palmeiras. No grupo, ao menos cinco conselheiros se dizem preparados para encarar a disputa.
Porém, apenas três são realmente postulantes sérios e vão precisar de muita articulação para aglutinar a oposição em torno dos seus nomes: Mário Giannini e Savério Orlandi, que já trabalharam no futebol profissional.
O terceiro postulante é Élio Esteves, que já foi vice-presidente do Conselho Deliberativo e ocupou o cargo de secretário-geral do clube em parte da primeira gestão de Maurício Galiotte, mas deixou o posto por discordar de pontos do novo acordo do Palmeiras com a Crefisa.
Caso mais do que um deles se candidate, como deve acontecer com a situação, avaliam os oposicionistas, é dar de bandeja a vitória para o candidato apoiado por Leila Pereira.
Outro lado
Após a publicação desta reportagem, pessoas ligadas à presidente Leila Pereira entraram em contato com o UOL para negar que ela tenha prometido retomar o desconto concedido a conselheiros.
Segundo essas fontes, foi o candidato à presidência do Conselho Deliberativo, Alcyr Ramos da Silva Júnior, quem falou, durante o jantar, que conversará com a direção executiva sobre a possibilidade de os conselheiros voltarem a comprar ingresso com desconto, caso seja eleito — o benefício foi suspenso no ano passado por orientação da polícia, que abriu inquérito a pedido do clube para apurar a venda irregular de entradas em jogos do Verdão.
A reportagem do UOL, que checou a informação com cinco pessoas, três que estavam presentes na reunião e duas que não compareceram, obteve a confirmação que a promessa partiu da presidente como forma de pedir apoio ao seu candidato.
Uma delas, inclusive, alertou para que a presidente iria dizer que essa ideia faz parte de uma das pautas que o seu candidato, caso eleito, vai pleitear para atender o desejo dos conselheiros, insatisfeitos com a retirada de benefícios na compra de ingressos.
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