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Uniforme das pessoas mais xingadas do futebol vale milhões em SP

O árbitro Raphael Claus trabalhou na Copa do Mundo do Qatar e hoje apita o Paulistão - Cesar Greco
O árbitro Raphael Claus trabalhou na Copa do Mundo do Qatar e hoje apita o Paulistão Imagem: Cesar Greco

Do UOL, em São Paulo

24/02/2023 04h00

Cinco diferentes marcas estampam o uniforme dos árbitros, bandeirinhas e profissionais do VAR nesta edição do Campeonato Paulista. Além da empresa fornecedora de material esportivo, há patrocínios no peito, costas e mangas.

O número é alto e supera até o de alguns clubes que disputam a competição. É o exemplo do São Bernardo, dono da segunda melhor campanha depois de dez rodadas e que só mostra duas marcas em sua camisa de jogo.

Por que as empresas se interessam?

Associar sua marca a uma figura do futebol que costuma ser alvo de xingamentos de todas as torcidas não é uma preocupação das empresas que assinaram contrato com a Federação Paulista de Futebol. Pelo menos é o que dizem os representantes que conversaram com o UOL. O foco é outro: a visibilidade que esse tipo de patrocínio oferece.

A marca tem um destaque muito grande nos juízes em vários momentos do jogo. Na hora da substituição, a câmera sempre foca nas costas do quarto árbitro mexendo na placa e todo mundo consegue ler. Numa transmissão, sempre que vai começar o jogo apresentam o trio de arbitragem e estamos lá. É diferente de patrocinar um clube, porque na arbitragem você consegue uma visibilidade maior, em todos os jogos." Camilo Leles, gerente de comunicação, branding e marketing da Saint-Gobain

A Saint-Gobain patrocina a parte do superior central das costas do uniforme dos árbitros com suas marcas Quartzolit, Brasilit ou Placo. A parte superior das costas estampa FutFanatics. Nas mangas aparece a Poty e no peito a OdontoCompany. A Kappa é a fornecedora de material esportivo.

Arbitragem - Divulgação - Divulgação
Quarteto de arbitragem do Campeonato Paulista com duas marcas nas costas do uniforme
Imagem: Divulgação

Paulo Zahr, fundador e presidente da OdontoCompany, não acha que a marca se prejudique com possíveis erros dos árbitros: "Com a adesão do VAR as polêmicas com a arbitragem diminuíram. Mesmo que aconteçam erros, as pessoas entendem que a marca patrocina a arbitragem e não um árbitro em específico." Ele fechou um contrato de cinco anos com a FPF.

Os árbitros cada vez mais têm ganhado protagonismo em função do VAR. Decisões importantes da partida são em momentos em que os árbitros estão presentes. A busca dos clientes é por visibilidade, eles entendem que o árbitro é uma peça importante da partida e é interessante apoiá-los, patrociná-los." Fábio Wolff, diretor da empresa que intermediou os contratos da Poty e da OdontoCompany

O uniforme dos árbitros aparece em média 60 vezes na TV durante uma partida, segundo um estudo de marcas a que o UOL teve acesso. Isso significa mais ou menos quatro minutos direto no ar.

Patrocínio de arbitragem já deu polêmica

Árbitros e auxiliares que trabalham em jogos do Campeonato Brasileiro já entraram na Justiça contra a CBF. Os profissionais diziam jamais terem autorizado ou recebido remuneração pelo uso de suas imagens para fins comerciais, como mostrou o UOL em 2019.

Edina - Cesar Greco - Cesar Greco
Edina Alves Batista é árbitra Fifa e uma das principais do Campeonato Paulista
Imagem: Cesar Greco

Os valores anuais superavam R$ 5 milhões quando a CBF cedeu a uma empresa o direito de explorar patrocínio no uniforme dos árbitros nas Séries A, B, C e D do Brasileiro. Não havia obrigatoriedade de repasse de alguma porcentagem para os profissionais, o que gerou as reclamações. Hoje, segundo ouviu o UOL, esse valor a nível nacional já chega a R$ 10 milhões.

Desde então, a cessão de imagem foi formalizada, com autorização de uso e remuneração. Ano passado, a Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) reclamou que a nova gestão da CBF tinha cortado o repasse e isso poderia causar uma greve dos árbitros, mas nada saiu do plano das ideias.

Acordos na casa dos milhões

Marianna - Cesar Greco - Cesar Greco
A quarta árbitra Marianna Nanni Batalha durante o jogo entre Palmeiras e Red Bull Bragantino
Imagem: Cesar Greco

Os valores específicos para cada anúncio na camisa de um juiz do Paulistão são difíceis de calcular. Isso porque os contratos das empresas com a FPF envolvem muito mais do que isso: há placas de publicidade, inserções em redes sociais e apoio a outras competições, inclusive femininas. Tem marca que faz publicidade até dentro do gol. É um pacote, então não há mensuração de valores individuais.

R$ 500 mil é uma estimativa mencionada por uma pessoa do mercado para exibição de marca na parte superior das costas no Paulistão inteiro.

O volume de jogos em que as marcas são exibidas vale muito nos bastidores. São mais de 4 mil partidas, entre quatro divisões profissionais, base e feminino. "Pulverizamos nossa marca em todo o Estado e o interior é uma região estratégica para nós", diz Camilo Leles, da Saint-Gobain.

Fábio Wolff, que intermediou o acordo da FPF com a Poty, pensa igual: "Você faz uma aquisição e ela te coloca em muitos campeonatos ao mesmo tempo. Poty é uma companhia com atuação em capital e interior. Para ela, estar em todos os campeonatos da federação faz bastante sentido."

Outro ponto valorizado é a figura de autoridade do árbitro em campo, conta Leles: "Estar presente no uniforme do comandante do espetáculo tem sua importância."

Mais patrocínios diferentões vêm aí

A propriedade do nome, também conhecida como naming rights, do VAR é um produto que tem sido oferecido no mercado. Placas de publicidade de LED que exibam frases inteiras, não só nomes de empresas, tendem a se tornar cada vez mais populares. São algumas das novas formas de patrocínio que departamentos de marketing elaboram para aumentar a renda.

"Veremos patrocínios nada tradicionais no futebol em breve", diz Camilo Leles, que prevê o uniforme dos árbitros como um espaço cada vez mais concorrido para os próximos anos.