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Por que estamos falando tanto de liga de clubes no futebol brasileiro?

Do UOL, em São Paulo

02/03/2023 12h00

Os clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro estão mobilizados na discussão do futuro do futebol nacional a partir de 2025.

Mas por que só a partir de 2025? Isso acontece porque nesta temporada e na próxima, ainda está em vigor o contrato em que a Globo paga pelo direito de transmitir os jogos na TV aberta, TV fechada e pay-per-view (Premiere).

Esse dinheiro é a maior receita dos clubes brasileiros, que a partir de 2025 ficam livres para negociar uma importante propriedade e eventualmente embolsar mais grana. Atualmente, a soma de todos os contratos de transmissão é de R$ 2,1 bilhões.

Vem dessa possibilidade aquilo que os dirigentes viram como ponto de partida para se organizarem em liga: se estiverem unidos, os clubes podem negociar melhor com as empresas de mídia e aumentar a arrecadação.

O problema é que os clubes não conseguiram entrar em acordo ao longo dos últimos meses e se dividiram em duas diferentes propostas de liga.

LFF - Divulgação - Divulgação
LFF
Imagem: Divulgação
Libra - Rodrigo Corsi/FPF - Rodrigo Corsi/FPF
Libra
Imagem: Rodrigo Corsi/FPF
  • LiBRA (Liga do Futebol Brasileiro): criada em maio de 2022, reúne 18 clubes (11 da Série A): Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Flamengo, Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Grêmio, Bahia, Vitória, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Novorizontino, Guarani, Ituano, Mirassol e Sampaio Corrêa.
  • LFF (Liga Forte Futebol): criada em junho de 2022, reúne 26 clubes (9 da Série A): Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Coritiba, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, ABC, Atlético-GO, Avaí, Chapecoense, Ceará, Criciúma, CRB, Juventude, Londrina, Sport, Vila Nova, Tombense, Brusque, CSA, Figueirense, Náutico e Operário.

No começo da discussão sobre essas ligas, a ideia era controlar o regulamento, mudar o calendário e diminuir o controle das federações nas decisões da CBF, mas hoje a captação de receitas é o grande ponto do debate e gera divergências:

  • Os clubes da Libra acham que as decisões da liga de clubes precisam ser unânimes, mas já admitem mudar para 85%. A LFF discorda, acha que esse número dá poder de veto a poucos clubes. A proposta da LFF é de dois terços dos votos para uma mudança de estatuto ser aprovada.
  • Há uma longa discussão sobre determinar uma diferença mínima entre o time que recebe mais e o time que recebe menos do dinheiro da TV. O objetivo é que ninguém ganhe muito mais do que o outro, como acontece hoje. A LFF acha que essa diferença tem que ser de no máximo 3,5 vezes, para chegar até 2,8 vezes. A Libra tem um modelo que parte de 3,9 vezes para o mínimo de 3,4 vezes dentro de cinco anos.
  • Do total de dinheiro embolsado com direitos de TV, 40% serão divididos igualmente entre todos, 30% serão pagos de acordo com o desempenho do time e 30% dependerão da audiência da TV. A LFF paga 8,9% dentro desse montante de desempenho ao campeão e distribui 6,8% para os quatro rebaixados em cotas diferentes (2,3% para o 17º colocado, 1,9%, 1,5% e 1,1% para o lanterna). Já a Libra propõe 9,5% para o campeão e reparte 5% para os rebaixados, em cotas iguais de 1,25%.
  • A CBF não autoriza que a liga de clubes controle a Série C, mas a LFF tem entre seus membros times desta divisão e diz que 20% do dinheiro da TV precisa ir direto para a Série B e a Série C. A Libra separa 15% para a Série B e não considera a Série C.
  • O atual modelo dos direitos de TV garante uma receita mínima de pay-per-view para os clubes, um valor que não varia de acordo com as vendas. Isso gera distorções como em 2022, quando o Flamengo recebeu R$ 163,9 milhões e Red Bull Bragantino e Cuiabá, R$ 146,7 mil. A LFF é contra a garantia mínima e a Libra não tem tratado do assunto porque alguns de seus membros podem eventualmente embolsar menos dinheiro do que hoje sem tais garantias.
  • Libra e LFF têm parcerias comerciais diferentes. A Libra está com o fundo investidor Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, e assessoria financeira do Banco BTG Pactual e Codajas Sports Kapital. Já a LFF trabalha com o fundo investidor Serengeti Asset Management, dos Estados Unidos, e tem como assessores financeiros XP Investimentos, Life Capital Partners, Monteiro de Castro, Setoguti Advogados, Álvarez & Marsal e LiveMode. Há quem diga em tom de brincadeira que virou uma guerra de bancos, que o controle dos clubes ficou para trás.
Taça - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Taça do Brasileirão, que sofre indefinição para 2025
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

E se não tiver acordo?

As duas ligas independentes estão se aproximando de um acordo nas últimas semanas, mas ainda existem pontos de divergência. A Libra nomeou uma comissão para conversar com a LFF, mas ainda não há reuniões previstas. Alberto Guerra, presidente do Grêmio, diz que o prazo "é para ontem".

O mesmo dirigente fala que "não descarta nada" quando perguntado sobre a possibilidade de acontecerem dois Campeonatos Brasileiros se as ligas não se acertarem. Os clubes não acreditam que esse limite seja atingido na prática, veem como um retrocesso histórico. Por outro lado, a negociação separada dos direitos de transmissão é possibilidade concreta.