Topo

Ex-árbitros lamentam morte de Romualdo Arppi: 'sabia conduzir partidas'

Romualdo Arppi Filho apitou a final da Copa de 1986, entre Argentina e Alemanha Ocidental - Reprodução/Redes Sociais
Romualdo Arppi Filho apitou a final da Copa de 1986, entre Argentina e Alemanha Ocidental Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Fabio Donato

Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/03/2023 13h35

Morreu hoje (5), aos 84 anos, em Santos, o ex-árbitro Romualdo Arppi Filho, vítima de complicações de um tratamento renal que fazia no Hospital Ana Costa.

Romualdo é um dos dois únicos árbitros brasileiros que apitaram uma final de Copa do Mundo. Arppi Filho foi o dono do apito na decisão da Copa do Mundo de 1986, no México, quando a Argentina superou a Alemanha Ocidental por 3 a 2 e conquistou o bicampeonato mundial. Naquela partida, Romualdo distribuiu seis cartões amarelos, inclusive para o craque daquela Copa, Diego Maradona.

Referência para gerações

Apenas Romualdo Arppi Filho e Arnaldo Cezar Coelho representaram a arbitragem brasileira no maior palco do futebol Mundial, uma final de Copa do Mundo. Em finais consecutivas - Arnaldo em 1982 e Romualdo em 1986.

O recordista brasileiro em número de jogos e edições de Copa do Mundo é Carlos Eugênio Simon, com sete jogos como árbitro em três Copas diferentes - 2002, 2006 e 2010. "Foi um dos maiores da história da arbitragem mundial", declarou Simon sobre Romualdo para o UOL Esporte.

Arnaldo Cezar Coelho, com 52 anos dedicados à arbitragem - 23 como árbitro profissional e mais 29 como comentarista - também elogiou o antigo colega. "Foi um dos árbitros que apitava por vocação. Chamava a todos de ganso, era magrinho e pequenino, mas sabia se impor. Respeitava os jogadores e era respeitado, tinha uma habilidade muito grande de conduzir partidas sem criar grandes atritos. O bom senso imperava, era a principal qualidade do Romualdo", afirmou Arnaldo.

Romualdo Arnaldo - Arquivo pessoal/Arnaldo Cezar Coelho - Arquivo pessoal/Arnaldo Cezar Coelho
Romualdo Arppi filho (esq.) e Arnaldo Cezar Coelho
Imagem: Arquivo pessoal/Arnaldo Cezar Coelho

Arnaldo lamentou a morte e revelou detalhes sobre os últimos dias da vida de Romualdo Arppi Filho. "Para mim, foi uma grande perda. Convivi com o Romualdo e, nos dias que antecederam sua morte, eu conversava muito com ele. Estava sofrendo bastante e perdia a alegria de viver. Ele fazia três diálises por dia e pegava ônibus de São Vicente para Santos para fazê-las. Descansou", contou Arnaldo ao UOL Esporte. "A arbitragem brasileira perdeu um grande ídolo", finalizou.

Outro árbitro brasileiro que teve oportunidades em Copa do Mundo foi Renato Marsiglia, nos Estados Unidos como árbitro brasileiro em 1994. Apitou dois jogos no Mundial, mas não teve oportunidade de comandar a final, disputada e vencida pela seleção brasileira.

Marsiglia detalhou ao UOL Esporte a convivência que teve com Romualdo Arppi Filho. "Convivi com o Romualdo Arppi Filho por seis anos. Entrei no quadro da CBF em 1984 e o Romualdo era árbitro da Fifa. Convivemos até 1989, quando eu entrei na Fifa e ele estava saindo. Era um árbitro à frente do seu tempo, de uma técnica inigualável, não vi outro no mundo com a técnica de arbitragem que ele tinha. A inteligência de levar o jogo nas piores circunstâncias, jogos dificílimos, que outros árbitros teriam grandes problemas, ele conseguia desatar o nó. Era um fenômeno", afirma Marsiglia sobre o antigo colega.

Marsiglia relembra um conselho que recebeu de Romualdo antes de apitar um jogo de Libertadores da América. "Gaúcho, você vai apitar na Bombonera, Defensores del Chaco, Medellín e outros piores. Não ponha o livro de regras embaixo do braço e sai apitando! Apite com inteligência e lembre-se: pênalti nesses estádios é só quando o pipoqueiro fora do estádio gritar que é pênalti. Uma metáfora que ele fazia sobre apitar com absoluta convicção", conta.

Romualdo Arppi Filho atuou no ramo imobiliário após pendurar o apito. O ex-árbitro deixa três filhos e três netos e o legado de um profissional exemplo para os colegas e diferentes gerações da arbitragem brasileira.

Mais sobre a carreira de Romualdo

Além da final da Copa de 1986, o brasileiro comandou outros dois jogos daquele Mundial, França 1x1 União Soviética, na fase de grupos, e México 2x0 Bulgária, nas oitavas de final.

No Brasil, Romualdo Arppi Filho apitou duas finais consecutivas de Campeonato Brasileiro: o segundo jogo entre Fluminense e Vasco, em 1984, empatado sem gols, que deu o título ao Tricolor Carioca, por ter vencido o primeiro confronto por 1 a 0, além da final de 1985, entre Bangu e Coritiba, decidida nos pênaltis, que terminou com o único título brasileiro do Coxa.

Entre os jogos mais marcantes da carreira de Romualdo estão as finais da Libertadores de 1973, da Copa São Paulo de 1975, da Copa Intercontinental de 1984, Copa América de 1987 e Recopa Sul-Americana de 1989. Arppi Filho também participou de três Olimpíadas: México-1968, Moscou-1980 e Los Angeles 1984.