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Abraji envia ofício a presidente do Fla e fala em censura do clube ao UOL

Reportagem do UOL teve a entrada proibida no CT do Fla - Alexandre Araújo/UOL
Reportagem do UOL teve a entrada proibida no CT do Fla Imagem: Alexandre Araújo/UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

24/03/2023 18h04

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) enviou um ofício a Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, com questionamentos sobre o fato de o clube ter vetado o acesso do UOL aos treinos no CT Ninho do Urubu.

A Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj) também se manifestou e afirmou que a atitude da gestão "não se coaduna com a história democrática do clube mais popular do país, além de ferir a liberdade de expressão, direito garantido pela Constituição brasileira".

O que aconteceu?

  • A Abraji publicou uma nota na tarde de hoje (24) e afirmou que "o direito de contestar uma reportagem (...) é uma forma sadia de aprimorar o exercício do jornalismo", mas salientou que "não pode ser aplicado na forma de censura ou de impedimento de trabalho".
  • A entidade repudiou a "decisão do clube de manter esse veto ao trabalho jornalístico".
  • No documento, a Abraji aponta que enviou um ofício a Landim ainda na noite de ontem (23), salientando que houve uma "afronta ao direito fundamental da liberdade de expressão e de imprensa".

Outras entidades repudiaram

  • A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPRJ) também emitiram posicionamento sobre o episódio.
  • A Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI citou que sempre "se posicionou firmemente a favor da democracia e contra qualquer cerceamento à liberdade de expressão e ao exercício da função jornalística".
  • O SJPMRJ e a Fenaj apontaram que "a atitude dos dirigentes do clube não só desrespeita a liberdade de imprensa como ataca o jornalista em seu exercício profissional e seu compromisso com a informação bem apurada".
  • O SJPRJ salientou que a atitude do Flamengo "agride, desrespeita e fere os princípios básicos e constitucionais da liberdade de Imprensa".

Entenda o caso

  • O Rubro-Negro proibiu o UOL de entrar no Ninho do Urubu e acompanhar os treinos abertos à imprensa.
  • A equipe de reportagem foi barrada ontem (23) e hoje (24).
  • No segundo episódio, além do treino, também não pôde participar da entrevista do zagueiro David Luiz.
  • A ação do clube acontece após a publicação da matéria em que o engenheiro eletricista José Bezerra diz ter visto o CEO Reinaldo Belotti ordenar a retirada de partes de uma instalação elétrica problemática. A ação alteraria a cena do incêndio no Ninho enquanto a perícia ainda acontecia.
  • O clube foi procurado à época e as respostas foram publicadas pelo UOL.
  • O UOL procurou o Flamengo após ser barrado ontem e aguarda diretamente um posicionamento oficial sobre os motivos de o veículo ter sido impedido de entrar. O clube se manifestou apenas por nota em seu site.

Veja nota da Abraji na íntegra:

"Na quinta-feira (23.mar.2023), o Clube de Regatas Flamengo impediu que a equipe de reportagem do UOL tivesse acesso ao treino do time no CT Ninho do Urubu, no Rio. Havia mais de uma dezena de veículos e comunicadores que fazem a cobertura esportiva e, por volta das 11h, a assessoria de imprensa liberou o acesso dos jornalistas ao treino. No entanto, o UOL foi vetado.

Segundo apuração do site, tratou-se de uma retaliação do clube contra a entrevista de um ex-funcionário do time, que relatou ter havido alteração na cena do incêndio que matou dez crianças do futebol de base do Flamengo, quatro anos atrás. À noite, o Flamengo divulgou nota confirmando o veto ao UOL como forma de retaliação.

Ainda na noite de ontem, a Abraji enviou ofício ao presidente do Clube de Regatas Flamengo, Rodolfo Landim, questionando a atitude do time. "Esta decisão do clube se caracteriza como restrição do exercício do trabalho jornalístico e é uma afronta ao direito fundamental da liberdade de expressão e de imprensa, além de restringir o acesso à informação da população e dos próprios torcedores", afirma a Abraji no texto. E reforça: "um direito constitucional deve ser respeitado não apenas pelo Estado, mas por toda a sociedade, incluindo empresas e clubes esportivos."

No ofício, a Abraji pede informações sobre o ocorrido e a liberação da reportagem do UOL nas áreas de cobertura jornalística do Flamengo. Isso não ocorreu nesta sexta-feira (24.mar.2023), quando o UOL foi mais uma vez barrado no CT.

A respeito das críticas do Flamengo sobre as reportagens do site, a organização lembra que a Constituição prevê um sistema de freios e contrapesos que garantem o direito de resposta e a possibilidade de busca por reparação em caso de informações contestadas.

Nenhum veículo de comunicação está acima de críticas. O direito de contestar uma reportagem não é apenas garantido pela lei, mas também é uma forma sadia de aprimorar o exercício do jornalismo e do contraditório. No entanto, não pode ser aplicado na forma de censura ou de impedimento de trabalho, como fica claramente demonstrado na atitude praticada pelo Flamengo.

A Abraji reitera seu repúdio à decisão do clube de manter esse veto ao trabalho jornalístico."

Nota da Acerj na íntegra:

"A Acerj lamenta e repudia a decisão do Flamengo de impedir o acesso ao CT George Helal (Ninho do Urubu) da equipe de reportagem do Portal UOL, nesta quinta, 23 e sexta, 24 de março. O fato se deu em retaliação a matéria publicada pelo Uol, considerada ofensiva ao clube, coisa que pode ser resolvida em conversações diretas ou mesmo à luz da justiça. Porém, o cerceamento ao trabalho de cobertura priva os torcedores do Flamengo de receberem informações e não se coaduna com a história democrática do clube mais popular do país, além de ferir a liberdade de expressão, direito garantido pela Constituição brasileira. Rogando que a diretoria do Flamengo tenha a sensibilidade de rever sua posição, a Acerj se coloca à disposição para ajudar na solução do conflito".