Patrocínios de sites de apostas a clubes da Série A batem R$ 330 mi por ano
O valor de patrocínios de sites de apostas aos clubes brasileiros da Série A em 2023 supera a casa dos R$ 330 milhões por ano.
O que aconteceu
Os valores anuais mais significativos estão no Corinthians (R$ 35 milhões com a Pixbet na omoplata), no Botafogo (R$ 27,5 milhões da Parimatch no master) e no Cruzeiro (R$ 25 milhões da Betfair no master).
Flamengo e São Paulo também estão bem posicionados na arrecadação geral (R$ 24 milhões, embora o rubro-negro tenha negociado a omoplata com a Pixbet e o tricolor, o master com a Sportsbet.io).
Hoje, 19 dos 20 clubes da elite têm algum contrato com sites de apostas.
Em 12 clubes, sites de apostas ocupam o espaço de patrocinador master, o que individualmente mais paga.
O cenário envolve a participação de dez marcas diferentes, que bancam investimentos não só no time profissional masculino, como também no feminino, como é o caso de Fluminense e Palmeiras.
Os números computados pelo UOL consideram montantes divulgados pelos clubes, matérias jornalísticas de fontes renomadas ou informações de agentes do mercado.
Patrocínios de sites de apostas (valores aproximados)
- Corinthians -- Pixbet (Omoplata) -- R$ 35 milhões
- Botafogo -- Parimatch (Master) -- R$ 27,5 milhões
- Cruzeiro -- Betfair (Master) -- R$ 25 milhões
- Flamengo -- Pixbet (Omoplata) -- R$ 24 milhões
- São Paulo -- Sportsbet.io (Master) -- R$ 24 milhões
- Internacional -- Estrela Bet (Costas baixo) -- R$ 23 milhões
- Vasco -- Pixbet (Master) -- R$ 22,4 milhões
- Fluminense -- Betano (Master) -- R$ 20 milhões
- Fortaleza -- Novibet (Master) -- R$ 20 milhões
- Grêmio -- Esportes da Sorte (Peito) -- R$ 20 milhões
- Bahia -- Esportes da Sorte (Master) -- R$ 19 milhões
- Athletico-PR -- Esportes da Sorte (Master) -- R$ 16,6 milhões
- Atlético-MG -- Betano (Master) -- R$ 15 milhões
- Santos -- Pixbet (Master) -- R$ 15 milhões
- Palmeiras -- Betfair (Master do feminino) -- R$ 8 milhões
- América-MG -- Estrela Bet (Master) -- R$ 8 milhões*
- Coritiba -- Dafabet Omoplata -- R$ 7 milhões
- Goiás -- Esportes da Sorte Master -- R$ 5 milhões*
- Bragantino -- Mr Jack.Bet | Manga/Premium -- Não divulgado
- Cuiabá - Não tem contrato
Por que os sites de apostas estão tão presentes?
Essa é uma realidade de mercado. Teve uma época que o Brasil era patrocinado pela Caixa. A economia não está bem, então as empresas não vão investir pesado com publicidade em clubes. Um setor que cresceu rapidamente e virou um setor que demanda publicidade é o de apostas. Ninguém aposta se o site não tiver credibilidade. E eles buscam isso se associando aos clubes. Quem está investindo no mercado publicitário é site de apostas". Marcos Salum, presidente do América-MG
Houve explosão do segmento em 2022. Grandes investimentos em mídia aberta, campeonatos, eventos e clubes de futebol. Acredito que essa dinâmica se manterá pelo próximo biênio, pois o gasto per capita em entretenimento esportivo do apostador brasileiro ainda é bem abaixo do que se depara nos mercados mais desenvolvidos, como por exemplo Inglaterra e Portugal"
Darwin Filho, CEO da Esportes da Sorte
Tem um fator que é fundamental é que o business da casa de apostas é o futebol, é o esporte. A finalidade é essa. Se uma fabricante de TV patrocina algo no esporte, ela quer vender TV. Se uma montadora patrocina, ela quer vender carro. No caso das apostas, é fazer com que as pessoas se engajem com aquela própria competição. Isso desperta o interesse das marcas de investirem no segmento, até porque a atividade não tem regulamentação. Então, não há o pagamento de imposto e outras obrigações que outras empresas precisam seguir. A regulamentação vai ser importante para separar as empresas grandes daquelas que estão fazendo movimento só para mostrar tamanho". Bernardo Pontes, sócio da BP Sports, especializada em intermediação e ativação no mercado esportivo.
Outro caminho
O dinheiro vindo do mercado de apostas entra para os clubes por outra fonte além do patrocínio direto: placas de publicidade estática nos estádios. Mas Bernardo Pontes alerta para uma possível inflação nos valores de patrocínios praticados no Brasil, considerando o retorno que eles dão.
"No mercado esportivo, patrocínio de clube era por visibilidade. Depois, veio a era da ativação, a oportunidade de levar clientes, fazer relacionamento com camisa, visitar o CT. Hoje, estamos na era da conversão. Se estou colocando R$ 10 milhões em um clube, esse valor tem que voltar em vendas, em novos clientes. Então, quando se paga um valor muito alto, a conta não fecha. Isso é fato", diz.
Relevância dos patrocínios
A receita com patrocínios e publicidade nos clubes brasileiros correspondeu a 16% da arrecadação total em 2021. O número é do relatório produzido pela consultoria Convocados/XP. Logo, o papel de maior relevância ficou com direitos de transmissão (53% das receitas totais), sendo seguido por negociação de atletas (18%).
"Temos recebido patrocínios acima da média histórica dos clubes. As empresas de apostas estão girando o dinheiro. Patrocínio é uma parte importante, mas não é expressiva como direitos de transmissão. Por isso essas brigas de liga, que é o que muda a história do clube", explica o presidente do América-MG.
E a regulamentação do setor?
O governo federal ainda não regulamentou a atividade dos sites de apostas no Brasil. Por isso, eles têm base em paraísos fiscais como Curaçao e Malta. A perspectiva é que a regulamentação prometida pelo Poder Executivo mexa com o mercado, porque ela deve trazer exigências às empresas, como ter sede em território nacional e pagar impostos aqui.
"A regulamentação vai deixar uma percepção importante. Na minha visão, as grandes vão ficar maiores e as pequenas vão deixar de existir, porque elas não vão conseguir se adaptar às normas da regulamentação. Eu converso com muitos profissionais de mercado e eles estão loucos. Tem muitas empresas que estão pagando valor acima do que aquela proposta vale, você cria uma bolha. Quando a bolha estourar, fica ruim para todos os lados", completa Bernardo Pontes.
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