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Abel diz que teve arritmia e revela 'banho de humildade' no Palmeiras

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante o segundo jogo da final do Paulistão, contra o Água Santa - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante o segundo jogo da final do Paulistão, contra o Água Santa Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Do UOL, em São Paulo (SP)

09/04/2023 20h11

O técnico Abel Ferreira falou em entrevista coletiva após o bicampeonato paulista pelo Palmeiras.

Preocupação com a saúde. "Minha mulher diz que tenho menos cabelo, mais barba e cabelo branco. Não sei se ela vai deixar continuar muito mais. Fui fazer exames há três meses e deu arritmia no coração, nunca tinha tido isso na minha vida".

Gabriel Menino: "Ele é um jogador absolutamente extraordinário, com capacidade incrível, mas não pode ter moral. Tem que estar sempre com a faca aqui [aponta para o pesçoço]".

Rony e Raphael Veiga lesionados: "É muito difícil, hoje tivemos lesão do Veiga. Vamos ficar sem o Rony, que jogou duas partidas com o braço quebrado".

Reação: "Não encararam como adversário que podia nos ganhar e às vezes precisávamos de um banho de humildade para pisar na terra. O treinador também. Não somos invencíveis e hoje fomos muito melhores. Meus jogadores aprenderam essa lição".

Veja a entrevista completa de Abel Ferreira

Emoção com o título

"São esses moleques que vão cometer erros, mas dão muita alegria. Difícil traduzir em palavras meu sentimento de trabalhar com esses jovens, com essa estrutura desde a base com excelente treinador, o João [Paulo Sampaio, coordenador da base]... Comunicação perfeita, e resultados não aparecem por acaso. Dá muito trabalho, mas não é por acaso. Não vamos ganhar sempre, mas vamos lutar sempre para ganhar".

Lado pessoal de Abel Ferreira

"Falar do ser humano Abel... Eu gosto muito que essa parte fique para mim. Vocês já entenderam que há um animal competitivo dentro de mim. Quando acaba competição, desliga e eu tenho meus medos, inseguranças, uma pessoa normal. O Brasil é um desafio, perguntaram ao Guardiola sobre recorde de demissões. Eu falaria 'Bem-vindo ao Brasil'. Treinador só sobrevive com resultado. Abel é resultadista, todos são, todos jogam para ganhar. Esse lado pessoal eu gosto muito de deixar para mim, reservado. Quero muito preservar. O Brasil te dá uma experiência extraordinária para esses desafios. Estaduais acabaram, dou parabéns a todos os campeões, mas o Brasileirão está aí, portanto vamos passar isso dentro de campo, de chegar ao final tentando o título, defendendo o título. É muito difícil, hoje tivemos lesão do Veiga. Vamos ficar sem o Rony, que jogou duas partidas com o braço quebrado. É bom vocês saberem. Por isso gosto de estar aqui, é muito desafiador. Vi o Guardiola respondendo essa pergunta. Isso é o Brasil. Na Inglaterra também. Quando há estrutura com todos congruentes... Não é só o bom treinador. Estou no futebol desde os 18 anos e é necessário ter bom presidente, bom diretor. Tem que ser forte, comunicativo, dizer na cara. Esse tripé é importante e aqui é extraordinário. Quando presidente diz A, diretor B e treinador, por melhor que seja, diga C, não há sucesso. Falem com o Ancelotti, Guardiola... Todos dirão o mesmo. É disto que eles falam, o segredo é muito simples".

Como continuar vencendo?

"Uma palavra muito simples: trabalho. Palavra mágica. Ter jogadores, estrutura, clube que apoia e perceber que não vamos ganhar sempre. Nós não vamos conseguir sempre. O Liverpool passa por momento e colocam em pauta a demissão do treinador. Isso que vai acontecer comigo se não ganharmos, criamos expectativa grande e nosso clube tem limite. Em dois anos vamos estar financeiramente mais fortes e poderemos fazer outras movimentações. Clube com responsabilidade social grande, com fair play financeiro que há na Europa e não aqui. Lá é rigoroso para a competição ser justa. O Palmeiras tem esse valor, é um clube que paga os funcionários, fornecedores, patrocinadores. É um clube com credibilidade e isso traz vantagens e parceiros no futuro".

Críticas ao Palmeiras após perder o primeiro jogo da final

"Estar no futebol é estar numa selva. Prefiro ser o caçado do que o caçador, olhar para a frente. O futebol para mim é simples, ganha ou há críticos. Saída a três, a quatro, Rocha zagueiro... Aqui há muitas religiões e muitos profetas do acontecido. Sentar em uma cadeira para falar de fazer assim ou aquilo... Já fui comentarista e jornalista, sei como é fácil dar pitacos. Difícil é sentar na bunda no nosso lugar, no lugar do treinador e tomar decisões. Plano de jogo do Água Santa não funcionou no primeiro jogo e funcionou hoje".

Problemas de saúde

"Minha mulher diz que tenho menos cabelo, mais barba e cabelo branco. Não sei se ela vai deixar continuar muito mais. Fui fazer exames há três meses e deu arritmia no coração, nunca tinha feito isso na minha vida. Não sei se era o Palmeiras ou ela, por estar apaixonado. Mas falando sério: futebol tem coisas fantásticas e outras desumanas, como nove jogos em um mês. O treinador reclama da lesão do Rashford por causa da sequência de jogos. Queria perguntar sobre nove jogos por mês em dois meses. Cala-te, você não sabe o que diz. Que me perdoem os que não gostam de ouvir, temos que reduzir o número de jogos. Temos que humanizar isso, dinheiro não é tudo. Podemos fazer mais dinheiro com menos jogos. Se o produto for bom, vão pagar. Mesmo que haja menos. Nove jogos, não sei o que vai acontecer. Fiquei sem o Veiga e vamos ver, um jogo de cada vez. Vou preparar todos, é desumano. O dia que infartar eu vou embora, mas é desumano".

Rony fora com uma fratura no antebraço

"No mínimo um mês e meio, que são 12 ou 15 jogos. Não é o mês o problema aqui. Técnico dura em média três meses, mas quantos jogos são? Um mês e meio, 10 ou 12 jogos fora. Agradeço a ele pelo esforço. Não sei se todos os colegas do grupo sabem, mas está quebrado mesmo, dá para ver no raio-x. Ele pediu para jogar".

Análise da final

"Ele trocou um ponta por um meio-campista para reforçar mais o setor. No segundo tempo voltou à formação normal. Nós que surpreendemos eles. Não estavam esperando a pressão, a forma como armadilhamos o adversário para nunca gostarem do jogo. Criaram perigo na primeira transição, mas fizemos sem bola um 4-4-2 com Menino por dentro marcando o lateral deles. Taticamente estivemos perfeitos. Murilo teve duas oportunidades, fomos muito bem. Com todo respeito ao Água Santa, somos melhores, somos o Palmeiras e devíamos ter feito isso lá, mas não fizemos. Meu plano de jogo talvez não tenha sido o melhor. Convenci os jogadores que seria igual contra Corinthians, São Paulo, Bragantino ou Santos. Não encararam como adversário que podia nos ganhar e às vezes precisávamos de um banho de humildade para pisar na terra. O treinador também. Não somos invencíveis e hoje fomos muito melhores. Meus jogadores aprenderam essa lição. Poupei, nos custou três pontos, mas hoje os torcedores ficaram orgulhosos".

Diferenças do Brasil para Portugal

"Aqui vive-se futebol de maneira diferente da Europa. O Palmeiras é um estilo de vida, como é com São Paulo, Corinthians e Santos. É mais fácil trocar de mulher do que de clube aqui, com todo respeito. Preservo meu aspecto pessoal, mas futebol aqui é forma de viver, de estar. Não perguntem por que, mas os valores dos clubes coincidem com os meus. Vai ter um fim, não sei quando, relacionamento é assim. Um parte antes do outro, não sei quanto vai durar. Tenho muito orgulho dos meus jogadores. Que vivamos isso com a intensidade de hoje. Treinamos para isso. É mais do que um clube, é um estilo de vida".

Gabriel Menino empolgado

"Ele é um jogador absolutamente extraordinário, com capacidade incrível, mas não pode ter moral. Tem que estar sempre com a faca aqui [aponta para o pesçoço]. Já ameacei, ele empolga. Muito bom jogador, dá soluções em mais de uma posição, mas empolga. Temos que estar sempre puxando à realidade. Deixa de jogar o coletivo, pensar no que fazer... Fez dois gols e já fez drible inocente e inconsequente. Menos é mais, faz o simples. Como foi o segundo gol? Estava atento, dominou, passou, assistência. O primeiro? Lugar certo, finalização. E não ser egoísta, às vezes é um pouco. Falei que compraria uma bola para ele jogar com uma sozinho. É um moleque muito educado, parabéns aos pais. Entra e cumprimenta a todos em todo lugar. Se mantiver foco e concentração... Tenho medo de dizer isso, amanhã vou puxar a orelha de novo. Ele dá trabalho, empolga. Quero sempre que ele trabalhe, corra, que seja focado e concentrado o maior número de tempo possível. Se ele for consistente, pode ajudar muito. Tem essa capacidade".

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