No Sevilla, Sampaoli ficou marcado por nervosismo, caos e papel A4
Novo técnico do Flamengo, Jorge Sampaoli chegará ao Rio após um período de turbulências no Sevilla. Em sua segunda passagem pela Andaluzia, o argentino comandou o clube em 31 partidas, com 13 vitórias, 6 empates e 12 derrotas, deixando o time na briga contra o rebaixamento no Campeonato Espanhol.
Mas, para além dos números, Sampaoli provocou "caos e nervosismo" no elenco do Sevilla, segundo contaram ao UOL pessoas com trânsito no clube. Uma cena que ficou famosa mostra a desconexão entre vestiário e treinador.
Aconteceu em 26 de fevereiro, no duelo contra o Osasuna. Jogando em casa, o Sevilla tinha acabado de levar o terceiro gol — perdia por 3 a 2 —, quando Sampaoli deu ao volante sérvio Nemanja Gudelj uma folha de papel, tamanho A4, com instruções táticas.
Gudelj levou o papel até o meio-campista Óliver Torres. Enquanto o espanhol tentava entender as instruções, Marcos Acuña, lateral-esquerdo argentino, tirou o papel da mão do colega, amassou e jogou no chão. Ali, segundo fontes do clube, "ficou claro que as coisas não iam bem".
O famoso "papelzinho" de Sampaoli já tinha aparecido na derrota para o Barcelona, também em fevereiro. Na ocasião, foi Joan Jordán quem teve de decifrar as ordens do treinador: o time já perdia por 3 a 0 no Camp Nou.
Depois daquela partida, Ivan Rakitic, um dos mais experientes jogadores do elenco, alfinetou o treinador na entrevista pós-jogo, ainda no gramado. "Para conseguir algo no Camp Nou, o time tem que ser mais corajoso. Tem que se arriscar mais, tentar tirar a bola do Barcelona".
O desabafo do croata foi apenas um dos vários feitos pelo elenco publicamente. Na partida seguinte ao "incidente do papel A4", o Sevilla perdeu por 6 a 1 para o Atlético de Madrid; Acuña, o protagonista da cena insólita, disse que "os jogadores recebem ferramentas, mas nós não as entendemos. Isso passou de todos os limites".
As "ferramentas" citadas por Acuña eram os planos táticos de Sampaoli. Segundo informações de bastidores do clube, existia entre os jogadores uma "incompreensão coletiva" das ideias do treinador. Na equação, havia três tipos de atletas: os que não entendiam o que o técnico queria; os que não conseguiam realizar as tarefas pedidas; e os que ficavam insatisfeitos com as funções que tinham de exercer.
Depois da derrota por 2 a 0 para o Getafe, o goleiro Bono disse que o time estava "muito confuso" em campo. No dia seguinte, Sampaoli foi demitido pela diretoria do clube andaluz.
Além da "confusão tática", o comportamento do argentino durante as partidas também é apontado nos bastidores do Sevilla como um fator agravante, tendo colaborado para o desgaste do treinador. A avaliação é que o estilo inquieto e irritado de Sampaoli a poucos metros do campo deixava os jogadores ainda mais pressionados e nervosos, diante da situação já complicada da equipe no Campeonato Espanhol.
Além dos maus resultados esportivos, o Sevilla vive uma crise interna que envolve problemas financeiros e uma disputa política pelo poder. Até mesmo o diretor de futebol Ramon Rodríguez Verdejo, conhecido como Monchi, um dos mais aclamados dirigentes da Europa, está com a cabeça a prêmio. Ele tem sido criticado por opositores pelos movimentos do clube no mercado, incluindo a chegada de Sampaoli.
Antes dessa última passagem turbulenta, o treinador havia feito um bom trabalho no clube durante 11 meses, entre a saída da seleção do Chile e o convite para treinar a Argentina. Nos 53 jogos que comandou entre julho de 2016 e maio de 2017, foram 27 vitórias, 12 empates e 14 derrotas.
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