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Abraço de corintianos em Cuca repete recepção heroica de 1987

Cuca, técnico do Corinthians, durante jogo contra o Remo - Ettore Chiereguini/AGIF
Cuca, técnico do Corinthians, durante jogo contra o Remo Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

28/04/2023 04h00

Não é novidade que os jogadores apoiem Cuca e os demais envolvidos no episódio de ato sexual com menor em Berna, na Suíça, em 1987. Na época dos fatos, o quarteto que defendia o Grêmio foi recebido com festa e ganhou proteção dos companheiros de time e colegas do mundo da bola.

Ao fim do jogo contra o Remo, pela terceira fase da Copa do Brasil, a classificação dramática nos pênaltis foi comemorada com abraço do elenco do Corinthians a Cuca, que posteriormente anunciou sua saída do clube. Os atletas mostraram solidariedade ao treinador, pressionado desde seu anúncio pelo episódio ocorrido há 36 anos.

Lá em 1987, depois de quase 30 dias presos na Europa, Cuca, Fernando, Henrique e Eduardo regressaram ao Brasil no fim de agosto. Para a recepção, foi montada uma festa digna do regresso de uma jornada épica.

No aeroporto Salgado Filho, torcedores se misturavam a familiares, conselheiros do Grêmio e até mesmo o grupo de jogadores, que se organizou para estar presente. Partiu do goleiro Mazaropi a ideia de comparecer para recepcionar o quarteto dispensado para responder o processo em liberdade. Eles não cumpriram pena após a sentença.

"É justo que a rapaziada tenha uma recepção calorosa de nossa parte. Queremos mostrar que estamos solidários e contentes com a volta deles ao nosso convívio", disse ao jornal Zero Hora.

Jogadores e comissão do Corinthians formam um círculo após vitória sobre o Remo na Copa do Brasil - Ettore Chiereguini/AGIF - Ettore Chiereguini/AGIF
Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

"Foi mais um consenso do que uma ideia propriamente minha. Acho que é um dever vir esperar os colegas para dizer-lhes que estamos solidários a eles. O importante é ressaltar a união do grupo que, mesmo essa história, não se abalou e continuou forte, como era antes", completou.

Tão logo o grupo chegou houve cantoria, hino, aplausos e até xingamentos para a jovem suíça chamada, aos berros, por palavrões que ecoaram pelo saguão do aeroporto gaúcho.

Entre os representantes do grupo de atletas estavam Astengo, Lima e Cristóvão, que chegaram mais cedo crentes de que o desembarque ocorreria no horário esperado. Mas foram surpreendidos pelo atraso.

"Ninguém gosta de ver os amigos presos por qualquer coisa que tenham feito. Mas, mesmo loucos para encontrá-los e dar um abraço em cada um deles, temos que admitir que, para certas coisas, é preciso ter muito cuidado. Digo isso porque jogadores, ao serem facilmente identificados pelo grande público, ficam visados por qualquer coisa que façam. O importante, no momento, é que estão livres e tudo já passou, graças a Deus", declarou Cristóvão.

Lateral vê injustiça e Felipão promove churrasco

Luiz Felipe Scolari, técnico do Grêmio na ocasião, comemorou o retorno dos jogadores ao Brasil. O sentimento o fez, inclusive, adiar um churrasco prometido ao grupo campeão gaúcho para que os envolvidos no escândalo pudessem participar.

Cobertura do retorno de jogadores brasileiros que foram presos na Suíça pelo jornal Zero Hora - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Na mesma linha dos demais colegas, o lateral Casemiro disse que a prisão dos colegas na Suíça era injusta e que agora a decisão tinha sido correta.

"Pulei de alegria quando soube que eles já estavam livres. Por isso, transferi o churrasco que vou pagar para a boleirada para outro dia, assim os quatro poderão participar", disse Luiz Felipe Scolari, ao jornal Zero Hora.

"O juiz se deu conta da injustiça que estava fazendo com os companheiros presos lá em Berna. Vamos recepcioná-los com muita alegria para que eles sintam que terão todo nosso apoio e solidariedade, como tiveram quando ainda estávamos na Europa", acrescentou Casemiro ao jornal.

Ex-colegas já tinham defendido

Enquanto isso, ex-companheiros dos acusados de violentar uma menina de 13 anos no Hotel Metropole, em Berna, durante a disputa da Copa Philips, já tinham erguido dúvidas sobre o que realmente teria acontecido, e defendido seus colegas de profissão.

Silas, que defendia o São Paulo, por exemplo, não acreditava no que teria se passado no Velho Continente. "Eduardo era do nosso grupo religioso, não pode ter acontecido algo assim", disse à Revista Placar.

"No máximo eles deram uns beijinhos na menina", disparou Renato Gaúcho, que na época defendia o Flamengo.

Testemunho prévio

O mesmo tinha ocorrido com China. Companheiro de Grêmio, o meio-campista retornou antes da delegação ao Brasil. Na chegada, fez questão de levantar suspeitas sobre o caso afirmando que a garota teria 'saído bem alegre' do apartamento 204.

"Ela saiu alegre e sorridente do quarto onde disse ter sido estuprada por quatro jogadores do Grêmio e foi tomar cerveja em frente ao hotel, em Berna, na Suíça, e prometeu voltar no dia seguinte para rever os amigos", relata o jornal O Globo em 13 de agosto de 1987 atribuindo tais declarações a China.

E a diretoria?

Duílio e Cuca na apresentação do técnico no Corinthians - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Após a saída de Cuca, o presidente Duilio Monteiro Alves concedeu entrevista e disse que não se arrependia da contratação. O mandatário ainda disse que tentou persuadir Cuca a ficar no clube, mas não teve sucesso.

O mesmo carinho do comando do clube os gremistas envolvidos no episódio de Berna tiveram no regresso. Paulo Odone, então presidente gremista, ignorou os anseios de conselheiros que pediam a demissão deles. Publicamente, ele não escondeu seu apoio aos atletas.

"Eles têm de ser recebidos com muito carinho por todos nós aqui no Grêmio, pois viveram uma experiência amarga e cansativa", declarou o presidente na época.

O mandatário foi até o grupo de atletas, conversou com todos, e quando recebeu o quarteto no aeroporto pediu que eles se apresentassem para uma conversa posterior. Com portas fechadas, ouviu a versão dos atletas e aplicou uma punição financeira a eles. Os custos do longo processo foram pagos pelos jogadores, com descontos mensais nos salários que recebiam do clube. Nada além disso.

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