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Caso Cuca: o que se sabe sobre crime e como foi passagem no Corinthians

Cuca, agora ex-técnico do Corinthians, durante jogo contra o Remo - Ettore Chiereguini/AGIF
Cuca, agora ex-técnico do Corinthians, durante jogo contra o Remo Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colaboração para o UOL

28/04/2023 14h29Atualizada em 28/04/2023 14h29

A curta passagem de Cuca no Corinthians fez reviver um caso policial ocorrido em 1987, em Berna, na Suíça. Na ocasião, o agora técnico era jogador do Grêmio e acabou detido com os também atletas Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, sob a acusação de ato sexual com menor.

O que se sabe sobre o crime?

Cuca e outros três jogadores do Grêmio foram condenados por relações sexuais com uma menor na Suíça.

O Grêmio excursionava pela Europa quando os quatro atletas foram presos no Hotel Metropolitano. Em depoimento, a menor de idade afirmou ter ido com amigos ao quarto dos atletas para pedir uma camisa do Grêmio. Na sequência, eles teriam expulsado os colegas dela e a forçado durante 30 minutos a manter relação sexuais.

Os quatro foram levados para prisões distintas. Eles mantinham contato apenas com os advogados selecionados pelo clube gaúcho para cuidar do caso.

Todos os quatro ficaram presos por quase 30 dias e retornaram ao Brasil após prestarem depoimentos. Durante os dias em que os jogadores ficaram presos em Berna, as autoridades brasileiras tentaram uma solução diplomática para que eles fossem libertados.

Cuca foi condenado dois anos depois a cumprir 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil. Enquanto Henrique e Eduardo tiveram a mesma condenação que Cuca, Fernando, no entanto, acabou absolvido da acusação e foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de uma multa de U$ 4 mil por ter sido considerado cúmplice do crime.

Os quatro jogadores foram enquadrados no artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê prisão de até cinco anos para "qualquer pessoa que se envolva em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos, ou incite a criança a cometer tal atividade ou envolva uma criança em um ato sexual". O artigo faz parte da seção "Atos sexuais com pessoas dependentes".

Apesar da condenação, Cuca nunca foi preso. Na época do acontecido, Cuca tinha 24 anos.

Anúncio e protestos

O Corinthians anunciou a contratação de Cuca no dia 20 de abril. Ele assumiu o posto de Fernando Lázaro, e tinha contrato até o fim deste ano.

O anúncio revoltou os torcedores do clube, que foram às redes sociais para se posicionar contra a contratação, relembrando o episódio no qual Cuca foi condenado por relações sexuais com uma menor.

A Camisa 12 e a Pavilhão 9, duas das principais torcidas organizadas do Corinthians, se manifestaram contra a contratação do técnico. A Estopim da Fiel, Fiel Macabra e a Coringão Chopp também se manifestaram contra.

Corintianos insatisfeitos picharam um muro da sede social do clube, localizado no bairro do Tatuapé, em São Paulo. "Queremos títulos, não estuprador", "Diretoria incompetente" e "Fora, Cuca" foram algumas das frases escritas nas paredes.

O Banco Bmg, patrocinador do Corinthians, se manifestou nas redes sociais após o clube paulista anunciar a contratação. Empresa afirmou que "respeita, preza e luta pela igualdade das mulheres".

Um grupo de cerca de 100 torcedores protestou no Centro de Treinamentos Joaquim Grava antes da primeira coletiva de Cuca.

Futebol feminino do Corinthians também se manifestou. Em nota conjunta, as jogadoras do elenco e o técnico Arthur Elias afirmaram que o movimento "'Respeita As Minas' não é uma frase qualquer" —o nome de Cuca, no entanto, não foi citado. Ex-diretor do clube na época da "Democracia Corinthiana", Adilson Monteiro Alves, pai de Duílio, endossou o protesto.

O que Cuca disse?

O treinador já se pronunciou sobre o episódio ao UOL, em 2021. Cuca conversou com a colunista Marília Ruiz e, pela primeira vez, falou abertamente sobre o acontecido em 1987. Na época, salientou que foi julgado à revelia e afirmou que "não houve estupro como falam".

Durante sua apresentação no Corinthians, também falou sobre a condenação a 15 meses de prisão por relações sexuais com menor. O técnico negou participação no caso, disse que falou com Duílio sobre questão e ignorou os protestos da torcida.

Eu não sou do mal. Quiserem tentar fazer isso... Eu sei que amanhã vai ter gente metendo o pau de volta, mas eu vou fazer o quê? Eu não tenho o que fazer. Eu não tenho que pedir desculpas do que eu não fiz. Isso eu não vou fazer.
Cuca em entrevista coletiva

Dias após a apresentação, Cuca emitiu uma nota em que diz que só iria se pronunciar publicamente sobre o caso por meio de seus advogados. O técnico contratou um escritório com representantes na Suíça para se defender.

Advogado suíço do caso falou com o UOL

O advogado Willi Egloff, que representou a menor na Suíça, em 1987, afirmou ao UOL que a menina reconheceu Cuca como um dos agressores.

O advogado afirmou: "A declaração de Alexi Stival [o Cuca] é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor."

Egloff também confirmou a informação do jornal "Der Bund", de Berna, segundo a qual o sêmen de Cuca foi encontrado na garota. Segundo ele, o exame foi realizado pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna.

O advogado confirmou a informação de que a vítima dos jogadores do Grêmio tentou cometer suicídio depois do crime. Egloff disse que foi procurado pelo pai da jovem para acompanhá-la durante o processo, que durou dois anos e foi concluído em 1989, com a condenação de Cuca e outros três jogadores.

Pedido de demissão

A trajetória de Cuca no Corinthians durou menos de uma semana. O técnico informou a saída do clube pouco depois da classificação da equipe sobre o Remo, em partida válida pela Copa do Brasil que acabou nos pênaltis.

O que eu estou passando... Quero ser bem breve, não quero ser vítima de nada, mas é a pior coisa que um homem pode passar. Quando está em cheque a dignidade dele, quando invadem as redes da mulher e das filhas com ameaças, xingamentos.
Cuca em entrevista coletiva

O presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, lamentou a saída e disse não se arrepender de contratar Cuca.