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Da voadora em 99 à amizade, Renato comprava cigarro para Marcos na seleção

Marcos pega a bola após o segundo gol do Corinthians, que ficou com o título do Paulistão de 99 - Giandalia, Paulo/TBA/FOLHA DE S.PAULO
Marcos pega a bola após o segundo gol do Corinthians, que ficou com o título do Paulistão de 99 Imagem: Giandalia, Paulo/TBA/FOLHA DE S.PAULO

Diego Iwata Lima

Colaboração para o UOL

28/04/2023 04h00

A cena mais conhecida da briga no segundo jogo da final do Paulista de 1999, entre Palmeiras e Corinthians, é a embaixadinha de Edilson, que deu início à confusão. Mas o jovem goleiro reserva do Corinthians, Renato, roubou os holofotes quando simplesmente mergulhou de cabeça no túnel do vestiário do Morumbi para escapar de Marcos, Oséas e Roque Júnior. O goleiro contou essa história no documentário "Inimigos Íntimos", disponível no UOL Play.

"Eu tentei [descer] pela escada, porque o Edilson entrou pela escada. Eu fui meio que atrás dele, mas daí o pessoal todo fechou [o caminho]. Tinha muito repórter ali, né? Daí, o caminho mais rápido foi dar a volta", disse ele, entre risos, ao UOL.

Renato trocou empurrões com Roque Júnior e socos com Oséas. Mas foi o goleiro Marcos, com uma voadora digna de videogame, quem esteve mais perto de realmente acertar o jovem colega de posição.

Naquela mesma noite, porém, começava uma amizade que culminou com Renato saindo sorrateiro da concentração da seleção para comprar cigarros para o pentacampeão em Buenos Aires, três meses mais tarde.

Se o Vanderlei descobre?

"Ele ficava com vontade de fumar, e como é que ele ia sair? Eu dava uma fugidinha lá e arrumava um cigarro para ele fumar", revelou ele.

"Ele não tinha jeito [de passar sem ser notado], e eu não era muito famoso, né? Daí, eu ia até lá na frente do hotel, conversava com o segurança e já ia no bar ali do lado", contou o ex-jogador.

Goleiro da seleção olímpica, Renato esteve com o time principal em dois amistosos contra a Argentina, em setembro de 1999, para ganhar rodagem - derrota por 2 a 0 em Buenos Aires e vitória por 4 a 2 em Porto Alegre. Foi nessas ocasiões que ele dividiu quarto com Marcos.

"Só estou contando isso agora. Tinha que ir escondido do Vanderlei [Luxemburgo, então técnico do Brasil]. Pelo amor de Deus, imagina se ele percebesse? Daí, eu chegava ali num segurança e pedia", conta.

"Achei que ele queria brigar"

A amizade entre Renato e Marcos começou logo depois de a poeira da confusão baixar no Morumbi, na final do Paulista de 1999.

"O Marcos me chamou lá no meio de campo, né? Daí, eu já levantei do banco e parti correndo, achando que ele estava chamando para a briga. Aí, na hora que eu cheguei perto, ele falou:

'Ô, Renatão, pelo amor de Deus, me perdoa. Dei uma voadora lá, sei que não acertou, mas eu quero te pedir desculpa'. E a gente se abraçou ali e ficamos amigos. Tomamos várias cervejas juntos depois daquilo", conta.

Explodiu muito jovem

Renato tinha potencial para marcar época. Estava cotado para a Olimpíada de Sidney, em 2000. Mas uma fratura no fim de 1999, num amistoso em que o Brasil sub-23 empatou em 3 a 3 com o Paraguai, interrompeu o sonho.

O arqueiro perdeu espaço no Corinthians e, consequentemente, na seleção. Passou por Portuguesa-SP, Athletico, Internacional, Botafogo-SP, Fortaleza e Sport, entre outros. Em 2011, encerrou a carreira no Icasa.

"Eu fui muito feliz na minha carreira, mas lamento por não ter recebido uma oportunidade aos 27, 28 anos. Minha melhor fase foi aos 21, idade em que o goleiro não é maduro ainda", lamenta.

Quanto ao Corinthians, clube em que o jogador nascido na pequena Jaguapitã, no Paraná, ficou dez anos, ficou um amor inabalável e o gosto de ter se tornado um ídolo em determinado período, justamente por causa de sua atuação na briga de 1999.

"Depois daquilo, a torcida gritava o nome dos titulares e o meu antes dos jogos", conta, com satisfação. "Eles entenderam que eu entrei na briga para defender os jogadores do nosso time. Mas, acima de tudo, para defender o Corinthians".

Depois de se aposentar como jogador, Renato voltou para sua cidade natal, onde foi Secretário de Esportes por oito anos, entre 2012 e 2020. Por lá, atualmente trabalha com loteamento e venda de terrenos comprados com o dinheiro ganho como jogador.

"Eu me preparei, investi direitinho", diz.

Inimigos Íntimos

O que: documentário sobre a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras na virada do século 21

Estreia: 24 de abril

Onde assistir: exclusivo para assinantes UOL Play (https://play.uol.com.br/)