Formiga investirá em curso da CBF para mudar futebol 'de dentro para fora'
Ícone do futebol feminino, Formiga está disposta a realizar cursos na CBF para iniciar uma nova vida fora dos gramados: a de gestora da modalidade. A intenção é mudar o esporte "de dentro para fora". A jogadora de 43 anos conversou com o UOL e contou tudo em matéria publicada no UOL PRIME.
Frustrada com a estrutura que viu no São Paulo em sua última passagem, a volante está determinada a buscar espaço na gestão para conseguir melhorias para o futebol feminino. Atualmente os clubes da série A são obrigados a ter equipes femininas.
"Quero iniciar meus estudos na CBF, um curso de gestão... Como ainda não sabia se iria jogar ou não, acabei esperando. O próximo curso que estiver disponível na CBF, eu vou me jogar", disse.
Pensei primeiro como treinadora. Mas como retornei para o São Paulo e vi essa situação, pensei 'vou pra gestão'. Acho que vou bater lá com Deus [presidência], porque é ruim ficar falando com santo o tempo inteiro [intermediários]. Mudar de dentro para fora. Na gestão devo ajudar bastante".
Formiga ao UOL
Primeira corda a arrebentar
Hoje o futebol feminino tem um alcance muito maior do que na época em que Formiga deu seus primeiros passos. Para ela, não existiam outras garotas que jogavam bola. Eram poucas as que se arriscavam no seu bairro. Por isso, não teve figura feminina para se inspirar na época. Dunga foi o escolhido. A liderança e foco a inspiravam.
Formiga se tornou não só referência como a jogadora com mais partidas de Copas do Mundo pela seleção brasileira entre homens e mulheres. Ela vê com bons olhos o atual momento do futebol feminino, uma espécie de sonho realizado. Mas alerta para a fragilidade da modalidade dentro dos clubes, sobretudo quando o time masculino vive mau momento.
"Num patamar ideal, estamos em um caminho com o que eu havia sonhado: muita visibilidade. Os clubes cada vez mais estão aceitando o futebol feminino, mesmo que alguns não deem a estrutura adequada. Aliás, recentemente vimos o Ceará! Os caras caem para a segunda divisão e acabam com o futebol feminino. Sempre foi assim, a primeira corda a arrebentar é a do futebol feminino. A frequência diminuiu, mas era um efeito dominó", disse.
Resultado é a longo prazo!
Um dos argumentos mais usados entre os clubes e torcedores contra o futebol feminino é a falta de retorno financeiro. Mas Formiga traz soluções! De acordo com a ex-seleção, os clubes deveriam usar e abusar da divulgação. Além da busca por patrocinadores, que também podem estampar as camisas do masculino, a presença de presidentes e dirigentes em jogos também é importante.
"Por mais que tenha visibilidade, que as próprias jogadoras que fazem, são poucos os clubes que têm rede social para o futebol feminino. Poucos que pegam o masculino e colocam as jogadoras para tirar foto oficial. Pegar clássico, recolher alimentos, chamar a torcida. Coloca no estádio para jogar, não em um campo qualquer se você tem seu estádio! Começa a promover, faz preliminares, mostra o produto! Por que o clube não oferece o futebol feminino para isso? 'Ah, mas o dinheiro é pouco'. Quer começar por quanto? O resultado é a longo prazo!"
Acham que dão suporte, mas não põe o pé em um jogo do futebol feminino. Aí uma futura neta deste presidente quer ser jogadora de futebol, e eu espero que tenha boa estrutura, terá uma estrutura diferente do que o avô ou tio deu para outras meninas. É preciso entender que o esporte é para todos".
Formiga, ao UOL
Ninguém queria saber da gente
A falta de informação sobre o passado do futebol feminino é algo que ainda ecoa na cabeça da jogadora Formiga. Foram muitos hotéis sujos, com ratos e maus cheiro, além de jogos que eram desmarcados em cima da hora, enquanto estava em trajeto para o local onde ocorreria a partida.
Mesmo com as lembranças duras, Formiga se emociona com o atual momento da seleção brasileira, que disputará a Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia, em julho deste ano, e relembra sua primeira passagem com a amarelinha.
"Com 17 anos eu já estava jogando o Mundial. Ainda bem que na minha primeira Copa do Mundo eu tinha 17 anos, eu soube ficar tranquila no banco para servir como experiência numa próxima. Na outra eu já estava mais madura. Mas é pressão, viu? Só muda um pouco para o hoje, pra falar a verdade, é o que o futebol feminino está hoje. É outra realidade. Antes ninguém queria saber da gente. Ninguém sabia se tinha Copa do Mundo feminina aqui no Brasil. Meio que empurravam a gente, né? 'Vai'. A gente não tinha apoio. Hoje é outra realidade, está tendo visibilidade. Se você for buscar a trajetória brasileira feminina, são poucas as informações que você tem. Só as pessoas de antigamente, que começam a falar algo, para que possa criar a história do que era e o que foi", explica.
Pitacos para seleção
Formiga, afinal, não irá cursar para ser futura técnica, mas tem alguns pitacos para a técnica Pia Sundhage, da seleção brasileira. Elogios à parte defensiva, mas ainda há recursos para melhorar o ataque. Uma "presença matadora na área".
"A Pia consertou a parte defensiva, claro. Mas nosso poder ofensivo está devendo. Precisamos daquela atacante que chega dentro da área e já era! O retorno da Marta impõe muito respeito, a Debinha também. Mas falta uma pecinha. Uma presença constante dentro da área para ser matadora!", disse.
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