Topo

MP diz que sites de apostas são vítimas; segmento pede regulamentação

Agente do Gaeco durante operação contra manipulação de jogos no futebol brasileiro - Divulgação/MPGO
Agente do Gaeco durante operação contra manipulação de jogos no futebol brasileiro Imagem: Divulgação/MPGO

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

12/05/2023 04h00

Quem paga a conta da manipulação de partidas trazida à tona pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), na operação Penalidade Máxima? Em primeira instância, a plataforma nas quais as apostas são feitas.

Com apostadores querendo faturar em cima de eventos combinados com jogadores, o lucro é extraído de quem atua como meio de circulação do dinheiro. É o famoso quebrar a banca.

Dois sites de apostas foram nominalmente citados na investigação em curso: Betano e Bet365.

Para os investigadores, elas entram na história na condição de vítimas.

Não há estimativas de valores de prejuízo gerados pelo escândalo no futebol brasileiro.

"Em tese, toda aposta direcionada, manipulada, traz prejuízo para a casa de apostas. Tanto é que eles têm um esquema de identificação de apostas fora do padrão. Eles cancelam determinadas apostas. Já aconteceu. Vamos enxugar gelo a vida inteira porque a corrupção sempre existiu na humanidade. Cabe a nós reprimir essa conduta", disse o promotor Rodney da Silva, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Ônus da busca por visibilidade e clientes

Dentro desse contexto, ser a plataforma na qual os manipuladores atuam acaba sendo o ônus de conseguir espaço no mercado do futebol, meta geralmente atingida via patrocínios. Hoje, as casas de apostas colocam dinheiro nos clubes, ocupam espaços nobres nos uniformes e nos nomes das competições nacionais. A Betano, por exemplo, é title sponsor da Copa do Brasil.

Por uma questão tributária e de falta de regulamentação, as casas de apostas não têm base no território brasileiro. São empresas alocadas geralmente em paraísos fiscais como Malta e Curaçao.

Regulamentação pode trazer proteção?

Executivos de casas de apostas entendem que a regulamentação da atividade no Brasil pode facilitar a cooperação com as entidades esportivas para que atividades suspeitas sejam identificadas e inibidas em tempo real.

"As casas de apostas são as principais prejudicadas com a manipulação dos resultados. Vejo avanços em termos de fluidez de comunicação entre as casas de apostas e as federações estaduais, a fim de facilitar o intercâmbio de informações acerca de movimentações incompatíveis em determinados jogos. Essas informações permitem que as federações possam cumprir diligências internas de modo a constatar possíveis fraudes", aponta. Ainda estamos longe do cenário ideal, uma vez que não há regras para repasse desse tipo", disse Darwin Filho, CEO da Esportes da Sorte.

Um grupo de nove casas de apostas formou o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR). Além da Bet365, citada na denúncia do MPGO, o bloco tem Flutter, Entain, Betsson Group, Betway Group, Yolo Group, Netbet Group, KTO Group e Rei do Pitaco.

O IBJR disse em nota que "vê a regulamentação do setor de apostas esportivas no Brasil como essencial para a segurança de apostadores, esportes e operadores, de forma que possam contribuir para o crescimento do país".

O Instituto relatou que firmou nesta semana uma parceria com a International Betting Integrity Association (IBIA) para desenvolver "projetos que garantam a integridade do esporte brasileiro" e já apresentou os representantes da IBIA às autoridades responsáveis pelas investigações, para que possam trabalhar em conjunto.

A regulamentação trará segurança para as empresas e para os apostadores, uma vez que as entidades e empresas estejam habilitadas para compartilhar dados para detectar comportamentos suspeitos".

Hans Schleier, diretor de marketing da Casa de Apostas.

E se houver limitação de apostas em eventos específicos?

Uma sugestão do ex-procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Paulo Schmitt, que participa dos debates junto ao governo federal sobre a regulamentação das apostas, é limitar de alguma forma os ganhos com eventos das partidas, como cartões amarelos e escanteios. Ele explicou a tese ao Blog do Perrone.

Quem está no ramo conta que não há ainda um movimento das casas de apostas nesse sentido.

"As opções de cartão, escanteio, etc, nós chamamos de mercado, um mercado específico nas apostas esportivas. Os mercados que possuem riscos para a banca tornam-se uma escolha particular de gestão de risco de cada empresa. Tem empresas que os gestores de risco, que são os trades dessas empresas, vão sugerir que esses mercados sejam excluídos das competições menores, mas outros irão manter, então não existe um movimento uniforme", completou Darwin Filho, da Esportes da Sorte.

Ele acrescenta que o que pode acontecer é a maior empresa hoje de provimento de odds (cotações), que é a Sportradar, excluir alguns mercados específicos da base que ela fornece para os operadores. Segundo o executivo, haveria um padrão mais parecido entre os sites de apostas.