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Bota, Palmeiras e Athletico: 100% em casa mostra força do gramado sintético

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/05/2023 04h00

O que Botafogo, Palmeiras e Athletico-PR têm em comum? Os três estão entre as melhores campanhas desta edição do Campeonato Brasileiro — primeira, segunda e quarta posição, respectivamente — e todos eles contam com um gramado sintético em seus estádios. Coincidentemente, a campanha em casa do trio, até agora, é de 100% de aproveitamento em seus domínios. Ou seja, o tipo de grama artificial tem sido uma arma diante dos adversários.

Líder do Brasileirão, o Botafogo está invicto desde que a grama sintética foi implementada no Nilton Santos. Foram cinco vitórias, um empate e nenhuma derrota, sofrendo apenas um gol e chegando a incríveis 88,8% de aproveitamento. O "tapete" instalado no estádio tem casado bem com o estilo de jogo da equipe e se tornou um aliado do Alvinegro dentro de casa, assim como já ocorre com Athletico-PR e Palmeiras, outros dois clubes da Série A que adotaram este tipo de piso em suas arenas.

Pioneiro no assunto, o Athletico-PR conta com gramado artificial na Arena da Baixada desde 2016. De lá para cá, tem um aproveitamento de 68,8% dos pontos em seus domínios. Já o Palmeiras instalou o sintético em 2020 e tem desfrutado bem de sua casa, empilhando títulos e tendo um aproveitamento de 72,9%.

Para Marçal, lateral esquerdo do Botafogo, o novo piso do Nilton Santos tem sido importante para o time:

Tem ajudado muito, porque a bola tem corrido. Nosso time é muito técnico, com jogadores muito qualificados. É uma grama de muita qualidade e que tem facilitado nosso jogo. No ano passado sofremos um pouquinho com a irregularidade da grama natural. Às vezes tínhamos de olhar muito para a bola ao invés dos companheiros, então com certeza tem sido um ponto positivo".
Marçal

Diferenças para Arena da Baixada e Allianz Parque

Funcionários trabalham na implementação do gramado sintético do Nilton Santos, estádio do Botafogo - Reprodução / Botafogo TV - Reprodução / Botafogo TV
Imagem: Reprodução / Botafogo TV

O Botafogo escolheu a "Total Grass" para implementar o gramado sintético no Nilton Santos. O UOL entrou em contato com a empresa, que apresentou seu comparativo em relação aos gramados da Arena da Baixada (Athletico) e Allianz Parque (Palmeiras). Veja trechos da nota oficial:

"... Quando analisamos o estádio da Arena da Baixada, pioneiro na implementação de grama sintética em estádios, percebemos que é o único dos três que não optou pela drenagem no contrapiso e não utilizou o shockpad como opção de amortecimento.

"...O Allianz Parque possui uma tecnologia mais atual em comparação a da Arena da Baixada. O sistema de amortecimento já é com shock pad e o gramado tem uma altura menor, dando uma maior memória na fibra (o gramado fica em pé por mais tempo).

O Nilton Santos foi customizado para evitar as inconformidades existentes nos modelos antigos e aprimorado para que a experiência dos jogadores e as necessidades das novas arenas fossem atendidas da melhor forma possível.

Ele foi desenvolvido com base nas necessidades que o projeto exigia: jogabilidade e desempenho para a prática de futebol em alto nível, sistema com menor retenção de calor e alta resistência para suportar eventos de grande porte".

Atacante do Botafogo, Victor Sá aprova o gramado do Nilton Santos:

É o melhor dos três porque é um pouco mais macio. O do Palmeiras eu acho bem duro. No Nilton Santos, você não sente tanta diferença do gramado sintético para o normal".
Victor Sá

'Pode chover o que chover', diz Abel Ferreira

O Palmeiras já conta com a grama sintética no Allianz Parque desde 2020. Técnico da equipe, o português Abel Ferreira é um entusiasta deste tipo de piso e ressaltou os benefícios de atuar neste campo.

"O gramado sintético veio nos proporcionar, entre aspas, uma forma de satisfazer todas as partes. A parte esportiva, a parte financeira, dos eventos sociais, a quantidade de concertos que podemos assistir... Em termos de chuva é fabuloso, porque não ficam poças d'água. Pode chover o que chover, que drena", disse em vídeo divulgado pela Soccer Grass, empresa que cuida da grama do Allianz.

Ídolo palmeirense, o atacante Dudu destacou a ajuda que o campo dá para a troca de passes entre os jogadores:

"Vem nos ajudando bastante desses anos para cá, tanto no CT quanto no estádio. Acho que nos ajuda bem no jogo, nas ações que a gente vem a fazer. Muito regular, sabemos que a bola realmente vai onde a gente quer tocar. Ela não vai pingar quando chegar no nosso pé, e isso facilita o bom futebol".

Raphael Veiga ainda ressaltou o fato dos grandes shows atrapalharem pouco a rotina da equipe:

"Tem show num dia e, às vezes, no mesmo dia, à noite, já podemos jogar lá. Nós jogadores ganhamos com isso, o Palmeiras ganha com isso e também a torcida".

Adversários elogiam gramado do Nilton Santos

Gramado sintético do Nilton Santos tem sido elogiado até por adversários do Botafogo - Vitor Silva / Botafogo - Vitor Silva / Botafogo
Imagem: Vitor Silva / Botafogo

Estou surpreso com o gramado do Botafogo. Não sei se é porque ainda é o primeiro jogo, mas achei muito bom. É diferente do Palmeiras e do Athletico. Gostei demais, dava para jogar, os dois times tiveram a bola no chão. Se o gramado aguentar o ano todo assim, será bom".
Calleri, atacante do São Paulo

Eu não sou fã de gramado sintético, mas os jogadores elogiaram. É novo, mas todos elogiaram bastante. Prefiro isso a um campo com buracos. A chuva ajuda no sintético a fluir mais, mas os atletas gostaram".
Rogério Ceni, ex-técnico do São Paulo

Essa discussão vai existir na liga. Independentemente se vai ser sintético, que dá mais garantia, ou se vai ser natural. O Botafogo fez um sintético espetacular. Os jogadores falaram muito bem"
Ronaldo, dono da SAF do Cruzeiro

Allianz resistiu bem à 'prova de fogo' e já recebeu mais de 600 eventos

O gramado sintético do Allianz Parque teve uma prova de fogo logo após sua inauguração, quando ocorreu a pandemia do coronavírus e o estádio serviu de base para o combate ao vírus. Na ocasião, o campo recebeu uma média de 300 carros por dia durante seis meses, além das outras estruturas sobre a grama.

"Depois de duas horas que tirou tudo de cima, os carros, as coberturas do campo, já demos condições de jogo de alta performance por conta do sistema que implementamos. Ou seja, é um sistema que você pode fazer grandes shows e eventos e, logo em seguida, colocar um jogo de alta performance", declarou ao UOL o CEO da Soccer Grass, Alessandro Oliveira.

Desde que o gramado artificial foi instalado, o Palmeiras conquistou seis títulos no profissional, além da Copa São Paulo, no sub-20. O executivo acredita que as boas condições, e o fato dele ter sido programado para evitar lesões, ajuda no desempenho.

"Optamos por um sistema que dispensa material orgânico, por conta de drenagem, de manter a regularidade do campo. É um sistema que você aproveita no 100%. Ou seja, numa chuva torrencial, você não vai ter o perigo de lesionar o jogador, porque o termoplástico costuma trabalhando normalmente. Diferente de usar um sistema com material orgânico, que pode vir a flutuar e, eventualmente, trazer lesão aos jogadores", disse Oliveira, complementando:

"Então, nossa preocupação sempre foi poder atender os diversos shows da arena, atender o futebol em alta performance do primeiro minuto até os 50 do segundo tempo, e não parar o jogo em hipótese alguma, inclusive em chuvas torrenciais, mantendo a segurança dos atletas. Isso a gente tem conseguido atingir com êxito".

Suárez 'evita' gramado sintético

Astro do futebol mundial e hoje no Grêmio, o atacante Luís Suárez costuma evitar atuar em gramados sintéticos para preservar seus joelhos.

Na última quarta-feira (10), Suárez foi poupado na derrota por 4 a 1 para o Palmeiras e o técnico Renato Gaúcho admitiu que o assunto foi levado em consideração:

"Eu conversei bastante com ele [Suárez] e falei sobre duas coisas que são negativas: a grama, que é sintética, e o desgaste, porque ele vem jogando todos os jogos".

Zico, Renato e presidente do Flu: 'haters' do sintético

Apesar da tecnologia cada vez mais avançada dos gramados sintéticos, há muitos que ainda torcem o nariz para este tipo de piso, incluindo nomes de peso do futebol brasileiro, como Zico e Renato Gaúcho. Veja algumas declarações dos "haters":

Isso conta muito, não é pouco não, muito! Eu acho [errado ser sintético]. Acho que deveria ser tudo igual, faz uma diferença grande. Não entendo por que a Fifa libera isso"
Zico, ao podcast 'Reis da Resenha'

Não é fácil jogar neste campo. Realmente é uma coisa que a gente precisa repensar com o passar do tempo. Não é nem criticar o São José, um belo clube e bela torcida. Mas para o profissional, fica quase impossível jogar nesse campo. Não dá nem para cobrar o jogador algum tipo de erro"
Renato Gaúcho sobre o campo do São José, que também utiliza o sintético

A SAF [do Botafogo] acabou de trocar por grama sintética, que Flamengo e Fluminense são contra, porque nenhuma grande liga, nem a Copa do Mundo, permitem. No Brasil, está virando moda porque querem transformar em arenas de shows. É justamente o que visa o fundo que controla o Vasco, que tem interesse maior no Maracanã que no Vasco".
Mário Bittencourt, presidente do Fluminense

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