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Penalidade Máxima: quem são os envolvidos e quem já foi afastado dos clubes

MPGO realizou a operação Penalidade Máxima para investigar um esquema de manipulação de resultados em partidas da Série B de 2022 - Divulgação/MPGO
MPGO realizou a operação Penalidade Máxima para investigar um esquema de manipulação de resultados em partidas da Série B de 2022 Imagem: Divulgação/MPGO

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/05/2023 14h21

O futebol brasileiro está no meio de uma investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) que identificou um esquema de manipulação de partidas. Jogadores eram cooptados para realizarem eventos específicos dentro dos jogos — levar cartão amarelo, na maioria das vezes — em troca de dinheiro fruto das apostas.

O que aconteceu

A operação Penalidade Máxima está em sua segunda fase. Ao todo, 15 jogadores viraram réus na Justiça de Goiás. Outros quatro fizeram acordo de colaboração e agora são testemunhas. Além deles, oito pessoas também foram denunciadas e compõem o grupo de apostadores, financiadores e aliciadores. O empresário Bruno Lopez é apontado como o chefe da organização criminosa.

No âmbito desportivo, a procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já denunciou dez jogadores, ao todo, pelo envolvimento no esquema — dois da primeira fase e oito da segunda. Um pedido de suspensão preventiva desses oito foi feito ontem (15).

Alguns clubes têm afastado ou rescindido contrato com alguns jogadores citados nos documentos juntados pelo MP no processo. O Athletico, por exemplo, rompeu contrato com o lateral-esquerdo Pedrinho e o volante Bryan Garcia. O lateral-direito Nino Paraíba também teve contrato rescindido no América-MG. Os três não foram denunciados pelo MP ainda, mas apareceram em conversas ou planilhas do grupo de apostadores.

A CBF e o STJD rechaçam a hipótese de anulação de partidas ou interrupção do Brasileirão.

A origem da Operação Penalidade Máxima

O MP-GO abriu investigação no segundo semestre do ano passado após receber evidências de um esquema de manipulação colhidas pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo. Uma organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais do futebol liderava esse esquema e havia um jogador do time goiano em dívida com ela.

O objetivo dos apostadores seria assegurar a ocorrência de eventos determinados nas partidas, apostar nesses eventos e, assim, ganhar dinheiro em sites de jogos e apostas. A ocorrência mais frequente envolve o recebimento de cartões amarelos, mas outras apostas como escanteios, expulsões pênaltis e até resultado no primeiro tempo constam no processo.

Mais de 60 jogadores já foram citados de alguma forma na investigação. De acordo com o MP-GO, as apostas eram feitas em sites como Bet365 e Betano — que são considerados vítimas no caso.

O crime: O caso também se enquadra no delito previsto no artigo 41-D do Estatuto do Torcedor, que prevê 2 a 6 anos de prisão e multa por "Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado".

Os aliciadores: Segundo o MP, o esquema era liderado por Bruno Lopez de Moura e tinha entre os membros da quadrilha Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luis Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes e Zildo Peixoto Neto, que também faziam parte do núcleo de apostadores.

Os financiadores: Ainda existia outro grupo, formado pelos financiadores do projeto, que tinha Thiago Chambó Andrade, Romário Hugo dos Santos, vulgo Romarinho, e William de Oliveira Souza, vulgo McLaren. O MP cita na denúncia que ainda podem existir outros a serem identificados. Eles asseguravam a existência das verbas para o pagamento dos atletas aliciados.

Como eles chegavam aos jogadores?

Além dos dois grupos já denunciados pelo MP-GO, existe um terceiro, formado por intermediários. Eles serão identificados em uma segunda investigação, que permanece em sigilo. Esses intermediários seriam os responsáveis por indicar os contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas.

Os valores prometidos aos jogadores variavam entre R$ 50 mil e R$ 500 mil. Em troca, eles garantiam a ocorrência de eventos dentro das partidas. Caso os jogadores conseguissem realizar o objetivo, os apostadores multiplicavam o dinheiro colocado nas casas de apostas.

Durante o procedimento criminoso, a quadrilha utilizava contas de terceiros nos sites de apostas para aumentar seus lucros e ocultar quem eram os reais beneficiários.

O placar

Entre os jogadores, 15 foram denunciados à Justiça e quatro fizeram acordo com o MP.

Mais de 40 outros jogadores aparecem nominalmente em conversas entre os envolvidos no esquema, como os apostadores e intermediários. No processo não há confirmação da participação desses jogadores no esquema, por isso a reportagem não publica seus nomes. A exceção são os atletas que foram afastados pelos respectivos clubes.

Não há jogadores presos até o momento. Mas vários foram afastados dos seus clubes ou tiveram contratos rescindidos.

Quem já está está sendo processado (15)

Jogadores denunciados na primeira fase da operação: Ygor Catatau, Allan Godói, André Queixo, Mateusinho, Paulo Sergio (Sampaio Corrêa), Gabriel Domingos (Vila Nova), Joseph (Tombense) e Romário (Vila Nova).

Jogadores denunciados na segunda fase: Eduardo Bauermann (Santos), Gabriel Tota (Juventude), Paulo Miranda (Juventude), Victor Ramos (ex-Portuguesa e ultimamente na Chapecoense), Igor Cariús (ex-Cuiabá), Fernando Neto (ex-Operário-PR).

Jogadores que fizeram acordo (4)

Jogadores que fizeram acordo, admitiram a culpa e viraram testemunhas: Moraes (Juventude), Kevin Lomónaco (Red Bull Bragantino), Nikolas Farias (Novo Hamburgo) e Jarro Pedroso (ex-São Luiz).

O que eles admitiram

Moraes

O lateral do Juventude reconheceu que recebeu promessa de pagamento de R$ 30 mil — dos quais R$ 5 mil foram efetivamente entregues — para receber cartão amarelo no Palmeiras x Juventude do Brasileirão 2022. Moraes levou o cartão e a intermediação, segundo o processo, foi feita por Victor Yamasaki.

Moraes ainda recebeu a promessa de R$ 50 mil — dos quais R$ 20 mil foram entregues — para que recebesse cartão amarelo no Goiás x Juventude, pelo Brasileirão 2022.

Kevin Lomónaco

O zagueiro admitiu que recebeu promessa de pagamento de R$ 70 mil — dos quais R$ 30 mil foram pagos — para levar cartão amarelo no Red Bull Bragantino x América-MG, pelo Brasileirão 2022.

Lomónaco viria a recusar proposta para que cometesse um pênalti no jogo Red Bull Bragantino x Portuguesa, pelo Paulistão 2023, segundo conversas obtidas pelo MP.

Nikolas Farias

O volante admitiu que recebeu promessa de pagamento de R$ 80 mil — dos quais R$ 5 mil foram efetivamente pagos — para que ele cometesse pênalti no jogo Esportivo x Novo Hamburgo, pelo Gauchão 2023. O jogador, de fato, fez o pênalti.

Jarro Pedroso

O atacante admitiu a promessa de receber R$ 70 mil — dos quais R$ 30 mil foram pagos — para cometer pênalti no jogo Caxias x São Luiz, pelo Gauchão 2023. O jogador, de fato, fez a penalidade.

Não foram denunciados, mas aparecem em conversas e foram afastados/rescindiram com os clubes (7)

Pedrinho e Bryan Garcia (Athletico)

Richard (Cruzeiro, ex-Ceará)

Vitor Mendes (Fluminense, ex-Juventude)

Nino Paraíba (América-MG)

Alef Manga e Jesús Trindade (Coritiba)

Veja abaixo os jogos e jogadores investigados

  • Palmeiras x Juventude, 10 de setembro de 2022 - Moraes (Juventude) - o jogador levou o cartão amarelo

Promessa de pagamento de R$ 30 mil, dos quais R$ 5 mil foram efetivamente entregues antes do jogo para que o lateral-esquerdo do Juventude fosse punido com um cartão amarelo.

  • Juventude x Fortaleza, 17 de setembro de 2022 - Gabriel Tota e Paulo Miranda (Juventude) - Paulo Miranda levou cartão amarelo

Promessa de pagamento de R$ 60 mil, dos quais R$ 5 mil foram efetivamente entregues antes do jogo, mediante pagamento na conta de Gabriel Tota, do Juventude, para posterior repasse a Paulo Miranda, para que ele levasse cartão amarelo. O zagueiro levou cartão.

  • Goiás x Juventude, 5 de novembro de 2022 - Moraes (Juventude) - o jogador levou o cartão amarelo

Promessa de pagamento de R$ 50 mil, dos quais R$ 20 mil foram efetivamente entregues antes do jogo, para que Moraes Rodrigues fosse punido com um cartão amarelo durante a partida.

  • Goiás x Juventude, 5 de novembro de 2022 - Gabriel Tota e Paulo Miranda (Juventude) - Paulo Miranda levou o cartão amarelo

Promessa de pagamento de R$ 50 mil, dos quais R$ 10 mil foram efetivamente entregues antes do jogo, em pagamento providenciado por Romário Hugo dos Santos para a conta de Gabriel Tota, para posterior repasse a Paulo Miranda. O zagueiro deveria levar amarelo e assim o fez.

  • Ceará x Cuiabá, 16 de outubro de 2022 - Igor Carius (Cuiabá) - o jogador levou amarelo e o vermelho

Promessa de pagamento em montante total ainda não precisado, porém certo que R$ 5 mil foram efetivamente entregues a Igor Cariús antes do jogo, para que o jogador do Cuiabá fosse punido com cartão amarelo, o que foi aconteceu.

  • Sport x Operário, 28 de outubro de 2022 - Fernando Neto (Operário) - o jogador não levou o cartão vermelho

Promessa de pagamento de R$ 500 mil, dos quais R$ 40 mil foram efetivamente entregues a Fernando Neto antes do jogo, para o jogador do Operário fosse punido com cartão vermelho".

  • Red Bull Bragantino x América (MG), 5 de novembro de 2022 - Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino) - o jogador levou o cartão amarelo

Promessa de pagamento de R$ 70 mil, dos quais R$ 30 mil foram efetivamente entregues antes do jogo, para que o zagueiro do Red Bull Bragantino fosse punido com um cartão amarelo.

  • Santos x Avaí, 5 de novembro de 2022 - Eduardo Bauermann (Santos) - o jogador não levou o cartão amarelo

Pagamento em montante ainda não precisado, porém certo que pelo menos R$ 50 mil reais foram efetivamente entregues a Eduardo Bauermann antes do jogo. Era para que ele fosse punido com cartão amarelo na partida (o que não ocorreu).

  • Botafogo x Santos, 10 de novembro de 2022 - Eduardo Bauermann (Santos) - o jogador levou o cartão vermelho

"Bauermann, apesar de ter aceitado valores na rodada anterior, não "cumpriu" sua parte no acordo ao não ser punido com cartão amarelo. Por isso, na rodada imediatamente seguinte e ainda com a posse da quantia recebida, novamente aceitou a promessa de valores indevidos para, agora, ser expulso na partida".

  • Palmeiras x Cuiabá, 6 de novembro de 2022 - Igor Carius (Cuiabá) - o jogador não levou o cartão amarelo

"Pagamento de R$ 60 mil para que Igor Cárius, do Cuiabá, fosse punido com cartão amarelo na partida".

  • Guarani x Portuguesa, 8 de fevereiro de 2023 - Victor Ramos (Portuguesa) - o jogador não cometeu o pênalti

Promessa de pagamento de R$ 100 mil para que Victor Ramos, da Portuguesa, cometesse uma penalidade máxima. Posteriormente, em razão de Bruno, Ícaro e Zildo (três dos denunciados) aparentemente não terem encontrado outros jogadores para manipulação de resultado na mesma rodada, os denunciados não efetuaram pagamento antecipado ao atleta e posteriormente não fizeram a aposta na partida.

  • Red Bull Bragantino x Portuguesa, 21 de janeiro - Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino) - o jogador não cometeu o pênalti

Promessa de pagamento de R$ 200 mil para que o atleta Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, cometesse uma penalidade máxima no primeiro tempo. O jogador não aceitou a proposta.

  • Bento Gonçalves x Novo Hamburgo, 11 de fevereiro de 2023 - Nikolas (Novo Hamburgo) - o jogador cometeu o pênalti

Promessa de pagamento de R$ 80 mil, dos quais R$ 5 mil foram efetivamente entregues antes do jogo, para que o atleta do Novo Hamburgo cometesse penalidade máxima durante a partida".

  • Caxias x São Luiz, 12 de fevereiro de 2023 - Jarro Pedroso (São Luiz) - o jogador cometeu o pênalti

Pagamento de R$ 70 mil reais, dos quais R$ 30 mil reais foram efetivamente entregues antes do jogo, para que o atleta do São Luiz cometesse uma penalidade máxima no primeiro tempo da partida.

O que vem por aí

Nada indica que o MPGO vá parar de investigar o caso, sobretudo pela quantidade de provas colhidas ao longo das buscas e apreensões.

Enquanto isso, o processo contra os denunciados corre na Justiça de Goiás. Três operadores do esquema de apostas tiveram prisão preventiva prorrogada, inclusive Bruno Lopez, tratado como líder da organização criminosa.

O ministro Flávio Dino determinou abertura de inquérito para que a Polícia Federal também investigue as denúncias de manipulação.