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Ex-árbitra critica análises da CBF: 'Seneme cria regras que não existem'

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

17/05/2023 13h13

Renata Ruel, ex-árbitra e comentarista de arbitragem da ESPN, criticou as análises feitas pelo presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme, sobre as polêmicas da última rodada do Brasileirão.

O que aconteceu

Ela fez um texto, publicado no site da ESPN com o título de "Seneme 'cria' regras que não existem em análise de polêmicas do Brasileirão" para dar a sua opinião sobre o novo programa de análises de arbitragem da CBF, que irá ao ar todas as terças-feiras.

Segundo Renata Ruel, o programa não resolve os problemas de arbitragem no futebol brasileiro e pode gerar ainda mais confusão.

Ela cita a análise feita sobre o pênalti não marcado em Endrick, em Palmeiras x Bragantino, e diz que Seneme 'cria uma regra que não existe' ao dizer que o goleiro tem proteção da regra ao saltar com as mãos no alto para ir na bola.

"Isso não existe na regra e nem em orientações, nunca existiu. Isso é sério, é perigoso, cria-se um precedente para análises e marcações que não fazem parte da regra", avalia Renata.

Outro erro apontado é no lance do gol anulado do São Paulo, entre Calleri e Fagner. "Seneme fala que a bola está em direção ao Fagner que sobe primeiro e por isso há preferência. Mais uma vez uma fala que me assusta, pois nunca se ouviu isso no futebol", escreveu.

Veja o que disse Seneme:

Veja o que mais ele disse:

Lance de pênalti em Endrick

Falta de Endrick no goleiro. "A comunicação não foi legal, porque o árbitro, como estava muito distante, achou que era a mão do atacante que toca a bola, mas é a mão do goleiro. O goleiro agarra o atacante, só que, antes do agarrão, o jogador do Palmeiras vai contra o corpo do goleiro. Toda vez que um goleiro tem as duas mãos erguidas e está saltando para ir à bola, ele tem, sim, uma proteção da regra de não ser tocado neste momento. Isso é uma infração, antes do pênalti. O árbitro de vídeo observou que, apesar da bola ter tocado na mão do goleiro, houve uma falta anterior do jogador do Palmeiras".

Falta de Calleri em Fagner. "O Calleri só consegue alcançar a bola porque desloca o jogador do Corinthians para frente. Aí abriu a possibilidade de o Calleri cabecear. Na nossa visão, foi corretamente marcada essa infração (...) O jogador do Corinthians pula antes, tem a preferência do lance. O Calleri só consegue chegar na bola porque empurrou o jogador do Corinthians para frente. Isso é infração. Foi correta".

Leia o texto completo:

Seneme 'cria' regras que não existem em análise de polêmicas do Brasileirão

A CBF TV inaugurou um programa com análises de arbitragem que promete ir ao ar todas às terças com o presidente da Comissão de Arbitragem, Wilson Seneme, falando das polêmicas da rodada do Brasileirão.

Vejo a iniciativa com ótima, aumenta a transparência que tanto se pede sobre a arbitragem.

Entretanto, não resolve os problemas e na verdade pode gerar mais.

O primeiro programa teve duração em torno de 45 minutos e vou analisar apenas alguns pontos que considero relevantes e preocupantes nas falas de Seneme.

Ao analisar o lance entre Endrick do Palmeiras e o goleiro Cleiton do Bragantino, Seneme cria uma regra que não existe. Ele fala que quando goleiro saltando com as mãos no alto para ir na bola tem uma proteção da regra. Porém, isso não existe na regra e nem em orientações, nunca existiu. Isso é sério, é perigoso, cria-se um precedente para análises e marcações que não fazem parte da regra.

Deveria simplesmente falar que o Endrick faz uma carga imprudente no goleiro e por isso houve infração primeiro do atacante, mas jamais criar algo que não existe para justificar a decisão. E nem vou entrar no mérito que o protocolo do VAR não foi cumprido aqui, pois quem decidiu a falta por cargo foi o VAR, já que o árbitro em campo marcou mão do atacante.

Outro ponto a ser destacado é na análise da falta de Calleri no Fagner. Seneme fala que a bola está em direção ao Fagner que sobe primeiro e por isso há preferência. Mais uma vez uma fala que me assusta, pois nunca se ouviu isso no futebol e vejo como algo a ser analisado de forma equivocada novamente. A bola é alçada na área, está em distância de disputa de ambos, não há preferência de ninguém no lance.

Seneme poderia justificar a falta marcada conforme a regra "saltar de forma imprudente sobre o adversário" - para mim não ocorre falta, vejo como disputa de bola sem empurrão, carga ou salto imprudentes - porém, prefere novamente criar algo que não há e isso novamente pode "gerar verdades" que não existem.

Poderíamos discutir muitos outros pontos analisados pelo Presidente da Comissão de Arbitragem, exemplo a análise que a carga em Pedro Raul não é suficiente para pênalti, mas o braço do Rafinha sim. Entretanto, vou ficar nos que me chamaram a atenção por ser análises assustadoras de regras e orientações que não existem e não condiz com o futebol, além da falta de critérios em algumas análises.

E para quem acompanha o futebol europeu, percebe que algumas discussões que temos aqui no Brasil, jamais acontecem na Europa, algumas faltas que são marcadas aqui, lá não são de forma alguma.

Dirigentes e árbitros precisam jogar futebol para melhores tomadas de decisões ao conciliar as regras e o esporte.

Quando a comissão mostra falta de critérios, fica mais fácil entender o problema atual da arbitragem. O produto final apresenta problemas, porque há falhas no processo.