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Caso Vini Jr. deve mudar relação da imprensa com o jogador, diz jornalista

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/05/2023 19h11

O caso de racismo contra o atacante Vinicius Jr. deve mudar a relação da imprensa com o jogador, afirmou o jornalista Renato Paim, que trabalha atualmente na Espanha, durante entrevista ao UOL News desta segunda-feira (22). Segundo ele, alguns espanhóis estão apreensivos com a repercussão do caso ocorrido na derrota do Real Madrid para o Valência.

Com certeza falta um pouco mais de intensidade por parte da imprensa, mas acho que é uma deficiência, uma debilidade da sociedade espanhola como um todo. Conversei com várias pessoas, espanhóis, brasileiros, todos muito apreensivos com o que estava acontecendo, com a repercussão desse caso e com os reiterados casos de racismo com o Vinicius Jr., casos que não são esporádicos, praticamente em todos os estados onde o Vini joga ele é alvo de racismo e outros tipos de injúria".

De acordo com o jornalista, o fato de Vinicius Jr. não gostar de dar entrevistas às emissoras espanholas, principalmente por conta das fortes críticas que sofreu ao desembarcar em Madrid, pesa na relação, o que faz a maioria dos comentários sobre Vinicius serem críticos. Contudo, Paim acredita que esse tipo de comportamento da imprensa deve ser alterado.

Nos últimos meses, no último ano, o Vini foi o maior destaque do Real Madrid, o jogador diferente que levou o Real Madrid à semifinal. Mesmo assim, 8 a cada 10 notícias e comentários nos programas esportivos são pejorativos quanto ao Vinicius, que incomoda pelo futebol e por esse outro fator, que é não falar com os meios espanhóis. Agora me parece que a ficha caiu, que primeiro, silenciar a respeito de temas como o racismo não é a solução".

Sakamoto: Como trabalhador brasileiro, governo deve pressionar Espanha para proteger Vini Jr.

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto também comentou a respeito do caso durante sua participação no UOL News. Segundo Sakamoto, o governo brasileiro deve agir e pressionar o governo espanhol para proteger um cidadão do país que trabalha na Espanha. Mais cedo, o Ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que é possível aplicar a lei brasileira no caso pelo princípio da extraterritorialidade.

Vamos lembrar que Vinicius Jr. é um trabalhador, ele está trabalhando para o clube de futebol, o Real Madrid, ele é uma celebridade, é o melhor jogador brasileiro no mundo, na minha opinião, mas ele é um trabalhador. Você tem um trabalhador que foi alvo de assédio, de ataque, agressão e, até agora, tanto o país quanto o próprio empregador não tomaram medidas suficientes para resolver essa questão".

"Existe um pouco de jogada do governo brasileiro para tentar se colocar, mas há precedentes, principalmente se for adotada a esfera trabalhista, há precedentes para tentar acionar e proteger o Vinicius Jr.", completou.

Sakamoto ainda afirmou que o governo brasileiro deve aproveitar a repercussão mundial do caso para pressionar em busca de que uma mudança de postura ocorra na Espanha.

O que está acontecendo com Vinicius Jr. não é uma, duas, três, é uma sequência de ações extremamente racistas e violentas. Penduraram um boneco de Vinicius Jr. em ponte enforcado, igual às cenas que havia no sul dos Estados Unidos nos séculos 19 e 20, pendurando pessoas negras para linchamento enquanto tinham aplausos de uma população bizarramente em êxtase. O que está acontecendo com ele é uma coisa bizarra, e o governo brasileiro tem que aproveitar esse momento para pressionar, sim".

Sakamoto: Por que racismo e homofobia revoltam mais quando é lá fora?

Leonardo Sakamoto aproveitou o assunto para fazer um paralelo com casos que ocorreram recentemente no Brasil. O colunista questionou os motivos para o racismo e homofobia que ocorrem fora do país revoltarem mais as pessoas do que quando isso ocorre internamente.

Esse momento precisa servir de exemplo para despertar a justa indignação não apenas com estrangeiros que chamam nosso compatriota de macaco, que enforcam bonecos de jogadores negros, mas também com racismo e homofobia que graça nos estados brasileiros. É muito mais fácil acusar o outro e esquecer que por aqui cometem crimes iguais".

Sakamoto recordou que, em 2014, o Grêmio acabou excluído da Copa do Brasil após torcedores cometerem racismo contra o goleiro Aranha, do Santos, e também falou sobre os gritos homofóbicos da torcida do Corinthians no clássico contra o São Paulo neste ano.

No dia 14 de maio teve a torcida do Corinthians sendo homofóbica contra a torcida do São Paulo. 'Ai, tem que levar na esportiva'. Não tem, é crime. O artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê perder 3 pontos, e o Corinthians tem de perder 3 pontos por aquele jogo".

"Por que lá fora o negócio é grave e aqui dentro é brincadeira? Aqui dentro é muito grave também", afirmou.

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