Matadores de aluguel: artilheiros pulam de clube em clube e vivem dos gols
No Velho Oeste, dizem, caçadores de recompensas viajavam de cidade em cidade em busca de criminosos - vivos ou mortos - que garantiam dólares. A morte de uns garantia a sobrevivência de outros.
No futebol, longe dos grandes clubes, também há os "matadores de aluguel". Um semestre - ou menos - em cada clube, vivem de seus gols.
Dois deles se destacaram no futebol paulista nos primeiros quatro meses: Bruno Moraes, artilheiro da A-2, com 12 gols em 15 jogos, pelo Juventus, e Vinícius Popó, com 18 gols em 21 partidas pelo Capivariano, campeão da Série A-3. Ambos já estão em clubes diferentes, em busca de sonhos diferentes.
O General quer estabilidade
Bruno Moraes é conhecido como Bruno General. Os 12 gols que marcou pelo Juventus na A-2 foram suficientes para levá-lo até o Figueirense, que está na Série C do Brasileiro. Também pudera, ele sozinho fez mais gols - 12 contra 11 - do que todos jogadores de seu novo time durante o Campeonato Catarinense.
Fica feliz, mas tem saudades de 2016, quando chegou ao Santa Cruz e ficou por lá, em Recife, durante um ano e meio. "Foi muito bom. Ganhamos o título pernambucano, conquistamos o acesso para a Série A, consegui me estabilizar na cidade e depois fui para os Emirados Árabes".
Desde então, voltou à rotina de estar em uma cidade sem saber onde estará no semestre seguinte. "Estou nessa vida desde 2010. Nunca tive uma sequência de dois ou três anos em um clube. Durante o campeonato, meu agente já vai procurando um novo emprego para mim. Não posso ficar pensando nisso, preciso é me dedicar ao clube e ir fazendo os meus gols para me garantir".
Bruno explica que é a regra e não a exceção. "O futebol brasileiro é assim, não é a vida cheia de charme dos que ganham muito. Quando consigo um novo clube, vou antes da família. Procuro apartamento e escola para as crianças. Na idade deles, a adaptação é rápida, não é como os mais velhos. Até que gostam de mudanças".
Bruno se considera um centroavante raiz. "Fico sempre próximo da área, bem posicionado, sou o cara da última bola. Esse início de ano, ela me procurou bastante, pena que não conseguimos subir o Juventus".
Ele está em Florianópolis e não sabe onde estará no próximo ano. "Tomara que tudo dê certo, a gente consiga o acesso e eu tenha o contrato renovado. Se as coisas não estiverem funcionando bem, já vai batendo uma ansiedade de saber onde vou trabalhar depois. Ainda estou na luta, não tenho muito dinheiro. Alguns clubes não pagam o que é combinado e fica difícil provar na Justiça, demora muito. O bom mesmo seria como foi no Santa Cruz. Quem sabe", diz o matador de 34 anos.
Vinícius Popó quer a redenção
Vinícius Santana da Silva, o Vinícius Popó, é um dos maiores artilheiros do Brasil em 2023, atrás apenas de Germán Cano, do Fluminense, e de Pedro, do Flamengo. Os 18 gols que fez na série a-2 do Paulista o levaram até o Opérário-PR, atualmente na Série C, antes mesmo da decisão do título que o Capivariano, seu time, conquistou diante do São José.
Chegar à Série C aos 22 anos é entendido por ele como o reinício de uma carreira que parecia promissora e que ainda confirmou as expectativas.
Revelado pelo Cruzeiro, onde chegou com 13 anos, diz que fez mais de 100 gols pelo sub-17 e sub-20 do clube. "Foram mais de 140, eu era o principal nome da base."
No time principal, onde chegou em 2019, foram oito jogos e nenhum gol. Pode ter sido pelo rebaixamento a falta de oportunidades, mas Vinícius também assume uma parcela de culpa.
"Tive oportunidades, não posso reclamar, mas eu não estava preparado. Acho que poderiam ter acreditado mais em mim, me orientado. Mas agora minha confiança voltou".
No início de 2022, o Cruzeiro rescindiu o contrato que iria até 2024. Popó já havia sido emprestado ao Goiás e Sport. Depois, iria para o Azuris, Betim e Fortaleza, sempre na base.
O início de 2023 o levou ao Capivariano. "Coloquei na cabeça que seria meu recomeço. Minha mulher, a Ana Clara, me ajudou a superar os maus momentos e garanto que vou recomeçar".
Vinícius se define como um centroavante de área e que faz gols de cabeça. "Me movimento bastante, busco meu espaço, não fico parado, mas é na área mesmo que me dou bem".
Vinícius Popó e Bruno General vivem de gols. Estão na Série C. Um deles quer estabilidade, o outro, redenção. Haverá espaço para dois vencedores?
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