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Amigos de São Gonçalo abraçam Vini Jr após racismo: 'Ele tem amor ao redor'

UOL visitou a escolinha onde Vini Jr deu seus primeiros passos no futebol, em São Gonçalo (RJ), sua cidade natal - Bruno Braz / UOL
UOL visitou a escolinha onde Vini Jr deu seus primeiros passos no futebol, em São Gonçalo (RJ), sua cidade natal Imagem: Bruno Braz / UOL

Do UOL, em São Gonçalo (RJ)

26/05/2023 04h00

No mesmo dia (24) e hora em que Vini Jr recebia homenagens no estádio do Real Madrid após os atos de racismo sofridos, o UOL esteve presente em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro onde o atacante nasceu e foi criado.

Por lá, ouviu amigos de bairro, professores, antigos treinadores e visitou locais que fazem parte de sua história e possuem um lugar especial em seu coração.

Na região, além do carinho pelo filho ilustre, o sentimento na cidade é de comoção, indignação, mas também de muito amor, como destaca Camila Massante, sua amiga de longa data do bairro de Portão do Rosas, onde Vinícius Júnior viveu.

"É muito triste, pois ele é um menino muito tranquilo, de cabeça boa. Ele não merece passar por isso, até porque sempre foi muito agradável com as pessoas. O que está acontecendo com ele hoje dá para ver que são pessoas que querem fazer o mal, que não conhecem metade da história, da caminhada dele. É lamentável mesmo. Como ser humano, com certeza está sentindo, mas tenho certeza que ele tem muito mais amor que ódio ao redor dele".

Na Escola Municipal Visconde de Sepetiba, onde Vini Jr implementou seu projeto de ensino através da tecnologia, os tristes episódios ocorridos em Valencia repercutiram entre as crianças, e geraram rodas de conversa promovidas por professores e também cartazes e mensagens de apoio ao atacante.

"As crianças assistiram na TV e já chegaram na segunda falando: 'Professora, viu o que aconteceu com o Vini?'. Elas ficaram tristes, compadecidas, com um sentimento de justiça. Então fomos trabalhando pedagogicamente com elas, conversando. Essa semana já tivemos roda de conversa, os alunos debateram sobre os assuntos, produziram cartazes...", revela a professora Mariana Carlos Alves, do quinto ano do Fundamental 1.

Ex-professora exalta personalidade de Vini Jr: 'sempre lutou pelo certo'

Instituto Vini Jr. implementou seu projeto na Escola Municipal Visconde de Sepetiba, em São Gonçalo - Bruno Braz / UOL - Bruno Braz / UOL
Vini Jr implementou o projeto de seu instituto na escola onde foi aluno da professora Ana Cristina, em São Gonçalo
Imagem: Bruno Braz / UOL

O UOL conversou também com Ana Cristina Pereira dos Santos, que foi professora de Vini Jr na Escola Municipal Paulo Reglus Neves Freire, quando o jogador tinha 10 anos.

Além de elogiar o comportamento de Vinícius, dizendo que era um menino tranquilo, com pais presentes, ela também já via nele os fortes traços de justiça de sua personalidade, escancarados agora na coragem para enfrentar o racismo.

"Era um rapaz que já reivindicava. Ele nunca aceitou o erro. Quando voltava do recreio, comentava os casos das crianças que aprontavam. Ele era calmo e buscava o lado certo das coisas. Então, quando aconteceu o racismo na Espanha, ele agiu bem parecido, buscou os direitos dele e está certo. Explanou para o mundo o preconceito que estava passando", destacou a professora.

'Vini Jr é um menino feliz'

Vinícius Júnior e sua amiga Camila: amigos de longa data do bairro Porto do Rosa, em São Gonçalo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Vinícius Júnior e sua amiga Camila: amigos de longa data do bairro Porto do Rosa, em São Gonçalo
Imagem: Arquivo Pessoal

Menino feliz, sorridente, centrado, tranquilo... Esses são alguns dos adjetivos dados por quem conhece Vinícius Júnior desde pequeno em São Gonçalo. Os momentos de tristeza e indignação que o jogador vive na Espanha contrastam totalmente com o que era visto por quem o conhece a fundo.

"O Vinícius é isso aí mesmo que vocês acompanham. Sorrindo sempre, um menino brincalhão. Ele não mudou o que ele é. Sempre foi isso daí, desde garoto. Um menino feliz. O que ele transparece para todo mundo, é o que ele é mesmo", diz o professor Júnior, que foi um de seus treinadores na cidade.

"Tia Fernanda" é como é chamada a mãe de Vini Jr pelos colegas mais próximos do jogador. Camila era a amiga um pouco mais velha do atacante e recebia dela a "missão" de levar o craque para passear por São Gonçalo.

"A Tia Fernanda pedia para eu levá-lo no shopping. Até os 16 anos do Vini, eu estava sempre junto com ele, jogava bola com ele...", disse a amiga, complementando:

"Ele sempre foi um menino bem tranquilo. Eu estava sempre com os meninos que jogavam com ele no Flamengo e que eram daqui. Aí os meninos, sempre muito avançados, pediam para eu levá-los na balada por eu ser mais velha. E o Vini não. Ele sempre foi centrado, de cabeça tranquila, nunca gostou de farra, de bebida... Era focado. Por isso está onde está".

Primeira escolinha exibe Vini Jr com orgulho

Professor Júnior, um dos treinadores de Vini Jr. na escolinha onde craque deu seus primeiros passos - Bruno Braz / UOL - Bruno Braz / UOL
Professor Júnior, um dos treinadores de Vini Jr. na escolinha onde craque deu seus primeiros passos
Imagem: Bruno Braz / UOL

A reportagem também visitou a escolinha onde Vini Jr deu seus primeiros passos no futebol. Ela é um núcleo do Flamengo em São Gonçalo e acabou sendo a ponte para o craque chegar oficialmente ao clube rubro-negro.

Por lá há fotos de Vinícius Júnior por todos os lados e o jogador é motivo de orgulho. Quem o conhece, inclusive, não se surpreende com a forte personalidade que tem demonstrado para enfrentar o racismo na Espanha.

"Ele tem cabeça boa. A família precisa ser a base de tudo e ele tem uma família muito boa. Pai, mãe, uma galera muito responsável, e isso ajuda no processo. E fora a base que ele tem de outras pessoas próximas que o ajudaram. Isso veio caminhando junto e por isso o processo foi tão rápido", disse o professor Júnior, seu ex-treinador na escolinha e quem o considera 'diferenciado' desde lá:

"Não era pouco diferenciado, não. Era muito [risos]. Sempre resolveu vários jogos para nós nos campeonatos [risos]".

Embora em São Gonçalo haja um acolhimento ao filho ilustre, há também um sentimento de justiça e basta ao racismo.

"É uma situação triste, em pleno 2023, passar por um caso de racismo, ainda mais desse jeito pesado como está sendo, que já está ultrapassando o campo. É bem complicado e chato. Os órgãos precisam tomar uma atitude bem severa. Está começando a acontecer, mas a gente espera algo mais concreto", frisou Júnior.