Como crise interna pode fazer Espanha perder estrelas na Copa feminina
Classificação e Jogos
Uma crise entre jogadoras e federação pode desfalcar a Espanha de suas principais estrelas na Copa do Mundo feminina, incluindo a base do Barcelona campeão da Champions League no último sábado (3).
O que aconteceu
Em setembro de 2022, 15 jogadoras enviaram um e-mail para a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) em que teriam pedido "mudanças estruturais", incluindo a demissão do técnico da seleção feminina, Jorge Vilda.
Segundo informações obtidas pelo UOL, as jogadoras não concordam com a metodologia de treinos aplicada pela comissão técnica. Elas consideram os treinamentos defasados e não veem evolução no trabalho.
O grupo de jogadoras também questiona a falta de estrutura da federação para o futebol feminino. As maiores críticas são de jogadoras do Barcelona, que domina a Liga Espanhola e ganhou duas Champions League nos últimos três anos.
Entre as 15 jogadoras que enviaram o e-mail em setembro, seis são do Barcelona: Patri Guijarro, Mapi León, Aitana Bonmatí, Mariona Caldentey, Sandra Paños e Claudia Pina.
O grupo tem ainda Ainhoa Moraza e Lola Gallardo (Atlético de Madri); Nerea Izaguirre e Amaiur Sarriegi (Real Sociedad); Lucía Garcia e Ona Batlle (Manchester United); Leila Ouahab e Laia Aleixandri (Manchester City); e Andrea Pereira (América-MEX).
Guerra com a federação
Além das 15 jogadoras que assinaram o documento, outras atletas de peso compartilharam o e-mail em suas redes sociais, dando apoio ao grupo.
Alexia Putellas, eleita a melhor jogadora do mundo nas duas últimas temporadas, foi uma das jogadoras que publicou o manifesto em suas redes sociais, embora não o assinasse. Ela estava lesionada na ocasião.
Em comunicado oficial publicado na época, a federação demonstrou publicamente o apoio ao treinador. "A RFEF não vai permitir que as jogadoras questionem a continuidade do treinador e de sua comissão técnica, pois tomar essa decisão não está dentro de suas responsabilidades".
Após a repercussão negativa, as jogadoras divulgaram uma carta aberta negando que tenham pedido diretamente a demissão do técnico Jorge Vilda.
As atletas criticaram a federação por tornar pública "de forma parcial e interessada, uma comunicação privada, com informação que afeta a nossa saúde — que é parte da nossa intimidade".
O grupo afirmou que não renunciou à seleção, mas as jogadoras admitiram que houve um pedido para não serem convocadas "enquanto não se revertam situações que afetam nosso estado emocional e pessoal, nosso rendimento e, em consequência, os resultados da seleção e que poderiam levar a indesejáveis lesões".
Pressão por demissão
Segundo a imprensa espanhola, Putellas, Aitana Bonmatí e Irene Paredes já teriam pedido a demissão de Vilda no fim de agosto, o que teria gerado uma divisão entre as jogadoras de mesma opinião e aquelas que não queriam se manifestar por medo de represálias.
Um dos principais nomes da seleção norte-americana, Megan Rapinoe já declarou publicamente seu apoio às jogadoras espanholas. "Tantas jogadoras unidas assim é muito poderoso. Temos que escutá-las", escreveu.
Com Vilda no comando há oito anos, a Espanha não conseguiu títulos no futebol feminino. Na Copa do Mundo de 2019, foi eliminada pelos Estados Unidos nas oitavas de final. E na Eurocopa, parou nas quartas de final tanto em 2017 quanto em 2022.
Essa confusão foi montada por interesses. Isso é um absurdo a nível mundial. A minha solução diante do que aconteceu é divulgar essa lista e olhar adiante. Tenho que convocar jogadoras que estejam 100% com esta seleção", disse o treinador, ao convocar a equipe sem as 15 "rebeldes"
"Não vou jogar"
Na segunda-feira (12), Jorge Vilda divulgará uma pré-lista de convocadas para a Copa do Mundo, que será disputada entre 20 de julho e 20 de agosto, na Austrália e Nova Zelândia.
De acordo com o site Relevo, há chance de reconciliação com parte das 15 jogadoras que romperam com a equipe. A publicação afirma que "entre 4 e 6" poderiam ser convocadas.
Em entrevista à rádio espanhola Rac1 no final do último mês, a zagueira Mapi León, do Barcelona e da seleção, afirmou que não jogará a Copa do Mundo. Depois do título da Champions League, ela manteve a posição em conversa com o El País.
Eu já disse muitas vezes: as mudanças que fizeram [na seleção espanhola] não foram suficientes. Tenho que pensar em mim: em estar feliz, tranquila e em render 100%. Eu adoraria jogar a Copa do Mundo, mas meu corpo vai agradecer".
Autora de dois gols na vitória por 3 a 2 sobre o Wolfsburg, na final da Champions, a meio-campista Patri Guijarro também falou a respeito. Embora não tenha descartado totalmente a presença, ela mostrou-se cética: "Do jeito que as coisas estão hoje, eu não vou".
França demitiu técnica
Não foi apenas a Espanha que viveu dias conturbados. Na França, Corinne Diacre acabou demitida após pressão das jogadoras.
A demissão, anunciada em maio, aconteceu após boicote de jogadoras importantes — como a capitã Wendie Renard — e denúncias de assédio moral. Além dela, Kadidiatou Diani e Marie-Antoinette Katoto também afirmaram que não iriam mais para a seleção.
Renard diz em seu livro que a treinadora falou que ela não tinha 40% do preparo necessário para ser uma capitã. A zagueira perdeu a braçadeira por quatro anos e retomou em 2021.
Em comunicado, Katoto foi além: "Não estou de acordo com os valores transmitidos pela seleção francesa. Tomo, portanto, a decisão de suspender minha carreira na seleção até que as mudanças necessárias sejam aplicadas".
O escolhido para a vaga foi Hervé Renard, que comandou a vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina na última Copa do Mundo masculina. Com isso, as três voltaram na primeira convocação dele.
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