Brasileirão 2023 se desenha como divisor de águas entre Vasco e Botafogo
Botafogo e Vasco foram rebaixados juntos em 2020 e viraram SAFs na mesma onda em 2022 — a primeira após aprovação da lei sobre o tema. Mas os rivais que hoje (2) se enfrentam às 16h, no Nilton Santos, e construíram histórias que podem ter neste Brasileiro um divisor de águas. A tabela é o que fala mais alto no momento. O Botafogo é o líder da Série A, enquanto o Vasco está na zona de rebaixamento, com apenas nove pontos.
Se o campeonato terminasse assim, o cruz-maltino retornaria para a Série B, e o Botafogo conquistaria o primeiro título Brasileiro desde 1995 — com os benefícios tangíveis e intangíveis que vêm com ele.
A constituição da SAF em ambos foi muito parecida, mas decisões estratégicas foram diferentes, assim como o timing para o retorno à Série A, o que influencia no cenário atual.
O contexto inicial
O Botafogo voltou à Série A um ano antes que o Vasco. O acesso veio antes mesmo da chegada de John Textor ao clube. Logo, o processo de readaptação à elite já foi feito com antecedência em relação ao Vasco, que encara em 2023 o choque de reformulação.
Calhou de o retorno do Vasco à elite ser na edição do Brasileirão que reúne todos os considerados grandes times do país — algo que não acontecia desde 2019. Além disso, os "emergentes" estão bem mais estruturados ou com investimento estrangeiro (vide Fortaleza, Red Bull Bragantino e Bahia).
Caminhos distintos
Receitas. Há uma diferença de receitas entre os clubes da Série A e B. Por isso, o paralelo entre Vasco e Botafogo fica um pouco prejudicado. Mas é possível perceber, pelo balanço de 2022, que o Alvinegro de Textor foi bem agressivo. Não se preocupou em pagar dívidas e isso ajuda a explicar um elenco mais forte como ponto de partida.
Segundo dados da consultoria Convocados, o Botafogo foi, de longe, o clube que teve maior proporção entre os custos e as receitas: 176%. O alvinegro, já considerando a SAF, arrecadou R$ 142 milhões e gastou R$ 249 milhões.
De 2021 para 2022, a dívida líquida, segundo critérios da consultoria, subiu 32%, considerando a união do clube associativo com a SAF. Em relação à gestão do passivo, o Botafogo decidiu parar de pagar as parcelas do RCE e tenta forçar uma recuperação extrajudicial.
Já o endividamento do Vasco permaneceu praticamente estável (aumento de 1%). O cenário pode mudar em 2023, quando a SAF cruz-maltina efetivamente aumentou o investimento, mas, ao mesmo tempo, tem receita maior por ter voltado à elite.
"A SAF do Botafogo é um pouco mais antiga, e já caminhou alguns passos. Tortos, mas caminhou. Em campo encontrou um norte esportivo e segue com segurança, mas fora de campo segue confuso, gastando mais do que arrecada, se endividando, com patrocínios limitados. O sucesso em campo é fruto da mudança de direção esportiva, mas também de uma injeção grande de capital, de mais dívidas, e um cenário pouco claro", avaliou o economista César Grafietti, da consultoria Convocados.
Escola do treinador. Enquanto o Botafogo apostou em Luís Castro para o primeiro ano de retorno à Série A, o Vasco foi de Maurício Barbieri.
Castro veio com salário alto e experiência de comandar a construção da base no Porto. O português passou por um período de adaptação em 2022 e era questionado até o começo deste ano, mas o trabalho se encaixou a partir do início do Brasileiro. Tanto que recebeu proposta do Al-Nassr, da Arábia Saudita, e se despediu do Alvinegro.
Barbieri, por sua vez, não conseguiu os resultados desejados. Ele já tinha experiência em um clube-empresa, com o Red Bull Bragantino. Apesar de um Carioca até razoável, foi o comandante numa sequência negativa no Brasileiro, e já tinha sido eliminado pelo ABC na Copa do Brasil. Foi demitido.
Montagem do time. A versão endinheirada do Botafogo já teve mais janelas do que o Vasco. Assim, conseguiu navegar entre a estratégia de contratar por atacado, gastar muito e ter acertos. Foi na janela do meio do ano passado que o alvinegro trouxe Tiquinho Soares, Perri, Adryelson, Eduardo e Marçal, pilares do time. Antes, o clube já tinha feito a maior contratação da sua história: tirou Patrick de Paula do Palmeiras por R$ 33 milhões.
O Vasco gastou mais de R$ 100 milhões na primeira janela com a 777. O perfil de contratações é diferente. Foram R$ 10 milhões, por exemplo, no centroavante Pedro Raul. Valor similar foi pago pelo lateral-direito Pumita Rodriguez. O lateral-esquerdo Lucas Piton e o zagueiro Léo vieram por cerca de R$ 16 milhões.
Fator casa. O Botafogo neste ano conseguiu se tornar muito forte sob seus domínios. O Vasco não consegue replicar isso. No caso do alvinegro, há o elemento da troca do gramado do natural para o sintético. Em São Januário, o Vasco acumula tropeços e ainda foi punido para jogar sem torcida após confusão na derrota para o Goiás.
Comunicação com a torcida. O Botafogo adotou um discurso mais realista de que a briga quando voltasse à Série A seria para não cair. Mas o lado do Vasco versão 777 falou que o clube disputaria financeiramente com o Flamengo e que o torcedor "não iria mais sofrer", como disse o diretor técnico Abel Braga. A realidade tem sido diferente.
O que pode acontecer com eles
Um eventual título do Botafogo reforçaria a marca da gestão Textor, colocaria o time para disputar a Libertadores — que tem premiação em dólar — e o deixaria mais atraente para mais contratações relevantes. Boas campanhas também impulsionam outras fontes de receita, como bilheteria, patrocínios e sócio-torcedor.
A continuidade na Série A reforça a previsibilidade de receitas com direitos de transmissão. O contrário acontece com quem é rebaixado. Se cair, o Vasco terá uma perda relevante de receitas. No ano passado, na Série B, o clube teve receita de R$ 153 milhões. Há uma perda de R$ 100 milhões quando um clube desse porte cai da Série A para a B. Nos números de arrecadação vascaína, 27% do bolo vieram com direitos de transmissão.
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