Brasileiro quer levar Cuba à Copa 2026, mas sofre com falta de estrutura
A tarefa de Tuca Guimarães não será nada fácil. O treinador brasileiro, com passagens por Figueirense, Portuguesa, entre outros clubes, iniciou um projeto que mira levar Cuba à Copa do Mundo de 2026. Mas as principais barreiras encontradas não estão dentro de campo, e sim em questões culturais, na falta de estrutura e até em deserções.
Tuca, atualmente, trabalha numa função mista entre a coordenação técnica e o posto de treinador. Ele comanda treinamentos, dá palestras, organiza atividades e tenta fomentar o futebol em um país que sempre preferiu outros esportes, como beisebol, vôlei, boxe e atletismo. Mas quem fica à beira do campo durante os jogos é Pablo Eliér Sánchez, que foi professor de muitos dos jogadores na escola e ainda figura como treinador da equipe. O plano é assumir o reservado em breve, até para passar experiência aos atletas.
"O que mais pesa neste momento é a falta de referências. A América Central, comparada com América do Sul, é carente de referências em futebol. Temos muitos jogadores que jogam fora do país, mas não podemos contar com todos porque depende da forma que saíram de Cuba para poderem ser convocados. Alguns não podem ser chamados. Mas temos jogadores na MLS, tem jogador que atuou na Bundesliga [primeira divisão alemã], na Premier League, na Championship [primeira e segunda divisões da Inglaterra], nosso atacante é referência na Costa Rica", contou ao UOL.
O principal nome do selecionado cubano hoje é Onel Hernández, que atua no Norwich, da Inglaterra.
"Precisamos melhorar o processo de formação o mais rápido possível para que possamos formar novos jogadores e ter um horizonte. Precisamos de uma categoria sub-15, sub-17, sub-20, uma base que possamos trabalhar mais para dar suporte aos jogadores de fora. Uma seleção permanente que possa trabalhar algo como 12 dias por mês", completou.
Mas esta é apenas uma das batalhas enfrentadas por ele. Durante a disputa da Copa Ouro, nos Estados Unidos, por exemplo, cinco jogadores e um médico simplesmente abandonaram a delegação. As deserções mostram um impasse cultural que precisa ser vencido com convencimento.
"A gente conversa com eles no dia a dia e tentamos levar isso como legado. Mostrar a forma que o jogador brasileiro recebe uma convocação, entender isso... Mas é importante ter clareza de quanto Cuba é diferente do nosso país culturalmente. A Liga Cubana não é profissional, é outro entrave que temos que resolver. Profissionalizar o processo. As deserções são um problema que Cuba tem de encarar no esporte. Atletas de boxe, de beisebol, vão em busca de algo diferente e desertam", disse.
Para acelerar o processo, Tuca não está sozinho. Junto a ele estão o preparador físico Renan do Carmo, o gestor Márcio do Carmo e o analista de desempenho Otávio Schmals. Todos chegaram lá por intermédio do empresário Márcio Carmo.
Outro drama encontrado por Tuca na seleção cubana é a falta de estrutura de trabalho. Como o futebol do país ainda é amador, não há grandes estádios ou centros de treinamento. A seleção só utiliza dois campos, ambos em gramado sintético, um na cidade de Havana (somente para treinos, sem espaço para torcida) e outro em Santiago de Cuba (para jogos).
De olho na Copa América e na Copa do Mundo
Mas apesar de precisar construir uma cultura de futebol onde ainda não há, Tuca está otimista. O nível demonstrado até então animou o treinador, que acredita ser possível uma arrancada rápida em direção aos objetivos traçados.
"Nos deparamos com um material humano muito melhor do que esperávamos. Geneticamente, o cubano tem excelentes predicados, são grandes, fortes, com potência. Só que agora é que estão começando a olhar o futebol com outros olhos. Temos um caminho pela frente, e o futebol pode melhorar a vida de muita gente. Então também queremos abrir essas portas para eles", disse.
"O que eles precisam é entender melhor o jogo. O nível cognitivo deles é muito bom, são muito bem coordenados. E não podemos olhar o jogador cubano como o brasileiro, falta casca, experiência, rodagem. Um jogador brasileiro de 18 anos vem disputando desde os seis, já tem 12 anos de futebol. Nos chega um cubano com 20 que não tem 30 jogos na carreira", acrescentou. "A performance já melhorou muito, agora temos que melhorar o resultado, é o segundo passo", resumiu.
De fato, os resultados ainda não apareceram. Tuca iniciou seu trabalho após o amistoso contra o Chile (3 a 0 para o Chile), em seguida veio amistoso contra o Uruguai (2 a 0 para os uruguaios), e as três partidas pela Copa Ouro, derrotas por 1 a 0 para Guatemala, 4 a 1 para Guadalupe e 4 a 2 para o Canadá.
"O jogo contra o Uruguai tivemos uma boa atuação, chances de gol, levamos o segundo já no fim da partida. Contra Guatemala novamente fizemos um bom jogo. Não fomos bem contra Guadalupe, mas foi um jogo aberto, digamos assim, sem maldade, os times se atirando. Mas estamos falando de América Central, onde os times se equivalem. Quando virarmos a chave para controlar mais o jogo, vamos melhorar", disse.
Os objetivos estão postos. Primeiro há a chance de conquistar vaga na Copa América de 2024. Seis equipes da América Central se classificam por meio da Liga das Nações, que já tem jogos em setembro. "Estar lá nos daria um lastro importante no projeto maior, que é a Copa de 2026", comentou.
De olho na maior competição de futebol do mundo, a seleção cubana tem motivos para sonhar. Além do aumento de vagas na competição, que terá 48 seleções na próxima edição, os três principais países da Concacaf já estão garantidos como sede: México, Estados Unidos e Canadá.
"Temos consciência que temos que melhorar muito para brigar por isso. É um processo que já começamos e agora é ir qualificando para isso, e brigar por coisas maiores, além de deixar um legado esportivo, deixar o futebol cubano muito melhor do que encontramos", finalizou.
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