Por que Dorival foi esnobado pelo Santos e era prioridade no São Paulo
Do UOL, em Santos e São Paulo (SP)
16/07/2023 04h00
São Paulo e Santos se enfrentam neste domingo (16), no Morumbi, e Dorival Júnior poderia estar do outro lado da área técnica se não fosse uma "regra" de Andres Rueda, presidente do Peixe.
O que aconteceu
Rueda decidiu antes mesmo do início de sua gestão, em dezembro de 2020, que não contrataria Dorival. O treinador foi especulado várias vezes na Vila Belmiro, mas o presidente nunca o teve em consideração.
O principal motivo no entendimento de Andres Rueda é a relação de Dorival com empresário e cunhado Edson Khodor, dono da empresa Khodor Soccer.
Rueda foi conselheiro e membro do Comitê de Gestão no mandato do ex-presidente Modesto Roma e acompanhou de perto o suposto conflito de interesse. O caso mais emblemático foi a contratação do volante Leandro Donizete, agenciado pela Khodor. O jogador veio do Atlético-MG com três anos de contrato, salários de R$ 300 mil e comissão de R$ 686 mil.
Dorival indicou a contratação de Donizete, à época um jogador importante do Atlético-MG, e sempre se defendeu das críticas em relação ao cunhado. O atual técnico do São Paulo afirma que quem contrata é o clube, e ele não "dá carteirada".
À época, o Conselho Deliberativo do Santos convidou Dorival Júnior para uma "sabatina" e o técnico aceitou, mas foi orientado a não participar pelo ex-presidente Modesto. O fato ocorreu após o Conselho Fiscal apontar conflito de interesse em um relatório financeiro.
O Leandro Donizete não tem o que provar. Ele jogou uns cinco anos de titular absoluto no Atlético. Eu já havia levado [Donizete] da Ferroviária para o Coritiba. Quando chegou esse atleta ao Santos, com o Edson [Khodor] como seu procurador, o Santos não teve o que pagar. Mas começaram a lançar questionamentos maldosos. Eu tenho alguns anos de carreira. Não tem sentido nenhum [as críticas dos conselheiros]. O presidente já conhecia meu cunhado antes de eu chegar ao Santos. A grandeza do clube é maior do que meia dúzia de conselheiros
Dorival, ao SporTV, em 2017
O Conselho Fiscal alertou para a situação de Leandro Donizete, mas também reclamou da chegada de jogadores de Edson Khodor para o sub-20 e sub-23. Foram os casos, por exemplo, de Fabricio Daniel (Ferroviária) e Gabriel Calabres (São Carlos). Eles, juntos, custaram R$ 2 milhões.
"Em nosso parecer do primeiro trimestre de 2016, demos ênfase à recomendação relativa aos contratos entre o Santos e a empresa Khodor Soccer & Marketing. Na oportunidade, alertamos sobre a eventual possibilidade da ocorrência de conflito de interesses pelo fato da referida empresa ser também agenciadora da comissão técnica do clube. Muito embora o Conselho Fiscal tenha feito essa recomendação, foram contratados outros quatro atletas com a intermediação da empresa durante o ano de 2016", apontou o Conselho Fiscal na oportunidade.
Outra motivação do presidente Andres Rueda para não contratar Dorival Júnior foi o processo aberto pelo técnico contra o clube. Ele cobrou cerca de R$ 4 milhões na Justiça Trabalhista após Modesto Roma não pagar alguns salários, prêmios, FGTS e a rescisão, em 2017.
Frustração
O veto de Andres Rueda frustrou Dorival, que alimenta um desejo antigo de ter mais um trabalho no Santos. Ele esteve esperançoso nas trocas de técnico do Peixe em 2021 e 2022.
No ano passado, o ex-executivo Edu Dracena pensou em Dorival, mas Rueda vetou.
Quando o Carille acabou saindo do Santos, meu primeiro nome não era o Fabián Bustos, era o Dorival Júnior. Eu liguei para ele e estava confiante, mas o presidente disse que, enquanto ele for presidente do Santos, Dorival não colocará os pés no clube. Não sei o motivo
Edu Dracena, à Rádio 365
SPFC priorizou Dorival
O nome de Dorival Jr era a prioridade no São Paulo e já pintava como favorito antes mesmo da oficialização da demissão de Rogério Ceni. O treinador chegou a ser sondado extraoficialmente por intermediários.
Dorival Jr era visto internamente como o melhor nome disponível no mercado com sobras. Era o plano A do clube pelo perfil vitorioso — chegou ao Tricolor como atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores.
Assim que Ceni caiu, Julio Casares viajou até Florianópolis para conversar pessoalmente com Dorival. O presidente viajou na tarde do mesmo dia da demissão do antigo treinador.
Em Florianópolis, tiveram as primeiras reuniões e deixaram o acordo encaminhado. Na manhã seguinte, após o café da manhã selaram o vínculo até o fim de 2024.
Desde que assumiu o São Paulo, os relatos são de melhorias em todos os âmbitos do clube. Do tratamento com os atletas, passando pelo ânimo de vestiário até chegar nos resultados em campo.