Em biografia, zagueira sueca critica métodos e fragilidade emocional de Pia
Vice-campeã olímpica nos Jogos do Rio, em 2016 sob o comando de Pia Sundhage, a zagueira Nilla Fischer criticou os métodos e a postura da atual técnica do Brasil em sua biografia 'Jag sa inte ens hälften' ('Eu não disse a metade', em tradução livre).
O livro foi publicado em junho na Suécia e traz a versão da ex-jogadora sobre alguns episódios de sua carreira e do convívio com a treinadora que está comandando a seleção brasileira na Copa do Mundo que está sendo disputada na Austrália e na Nova Zelândia.
Entre muitas das críticas, ela fala da instabilidade emocional de Pia, dos métodos não convencionais de liderança e a acusa de ter feito uma balada no meio de uma competição importante. Procurada pelo UOL, Pia disse que não vai comentar o assunto.
Há algumas semanas, ela respondeu às críticas de Fischer para o site SVT Sport. "Esta é a verdade de Nilla. Eu tenho uma experiência diferente, uma história diferente. Triste que durante seu tempo na seleção nacional ela tenha vivenciado isso dessa maneira", disse a treinadora por mensagem de texto ao veículo de comunicação sueco.
Classificação e jogos
Além do teor crítico ao trabalho de Pia como técnica da seleção sueca entre 2012 e 2017, Fischer também abordou em sua biografia um episódio antes da Copa feminina de 2011, acusando a Fifa de ter obrigado as jogadoras a mostrarem a genitália para provar serem mulheres.
O UOL separou trechos da biografia da Nilla Fischer que falam de algumas polêmicas envolvendo seu trabalho com Pia na seleção da Suécia (em tradução livre). Na versão da agora ex-jogadora, a postura da técnica do Brasil não foi adequada em diversas situações.
Ausência de tática
"Avante, agora é velocidade máxima, meninas!" As últimas diretrizes de Pia Sundhage são claras antes da estreia no Campeonato Europeu contra a Dinamarca no Gamla Ullevi. Ninguém jamais questionaria nossa nova técnica da seleção nacional em seu primeiro campeonato pela Suécia. Será que não deveríamos ter mais táticas do que isso? Eu rapidamente abandono o pensamento e penso que ela sabe do que está falando considerando seu sucesso com os Estados Unidos nos últimos anos. (página 66)
Então a reunião acabou, se suas orientações pré-jogo já eram inúteis desde que ela assumiu como técnica da seleção, agora elas se tornaram ainda mais vazias. Apesar de estarmos enfrentando uma estreia no Campeonato Europeu e os atuais campeões olímpicos, não há muito que se compare a uma revisão tática. Às vezes me pergunto se temos alguma tática real na seleção nacional. (página 151)
Festa na concentração
Acabei de colocar a cabeça no travesseiro e adormeci quando acordo sobressaltada. Que diabos está acontecendo? Ouço risadas, gritos e barulhos, e parece que está vindo de uma varanda. O calor do verão ainda envolve tudo quando, sonolenta, subo para fechar a janela, mas paro no meio do caminho. As vozes soam familiares. Não pode ser possível. É 1h30 da manhã, vamos jogar outra partida em breve e estou de pé de calcinha ouvindo como Pia Sundhage e mais algumas pessoas são abruptamente interrompidas por novas vozes vindas de outra direção: "Com licença, mas vocês precisam se acalmar, temos outros convidados aqui!"
Tenho dificuldade para voltar a dormir, tiro o edredom, coloco de novo. Repetidamente.
O que eu acabei de ouvir? Elas estavam sentadas na varanda festejando? Não, não poderia ser. Como jogadoras, nunca ficaríamos acordadas no meio da noite e certamente não festejaríamos no meio de um campeonato. Espero que os comandantes se preparem da mesma forma profissional que nós jogadoras fazemos.
Me sinto cansada quando acordo na manhã seguinte. A partida de ontem e a noite mal dormida afetam todo o meu corpo.
Quando me levanto, uma das minhas panturrilhas está com cãibra. Como um técnico profissional pode afirmar que uma zagueira central não está tão estressada e não precisa de recuperação? Me lembro das palavras de Pia Sundhage alguns dias antes, enquanto a fadiga se abate sobre mim. (página 69)
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Quero receberFuturo na seleção sueca
Alguns meses depois, no entanto, os pensamentos são completamente diferentes. Vamos fazer mais uma tentativa de fertilização in vitro e, mais uma vez, o horário que temos disponível na clínica coincide com uma convocação da seleção nacional, incluindo a partida de qualificação para o Campeonato Europeu contra a Dinamarca. A ansiedade que tenho desde que deixei Mika sozinha após o aborto espontâneo significa que decidi recusar. Nem sempre posso colocar o futebol em primeiro lugar, e em algum lugar eu acho que deveria ser humano, mesmo no mundo do futebol, cuidar do lado pessoal. Pia Sundhage não pensa assim quando eu ligo e digo como é, que quero me abster da próxima convocação.
"Se você continuar assim, não sei se poderá continuar na seleção nacional."
Meu Deus, o que ela está dizendo? Eu ouvi direito, não tenho tempo para dizer algo antes que ela continue.
"Ela não pode simplesmente levar uma amiga?" Não tenho tempo para dizer nada antes que Pia continue: "Nilla, talvez você deva pensar se realmente quer jogar na seleção nacional." (página 143)
Mal sei o que responder, ela diz que está tudo bem recusar a convocação, mas ao mesmo tempo está questionando meu futuro na seleção nacional. Acabei de fazer parte da equipe que conquistou a prata olímpica, fui titular e recebi muita confiança da mesma técnica da seleção nacional que agora questiona meu futuro. Tudo porque abandonei, sem ser solicitada, uma tentativa para estar ao lado da minha esposa. Não quero sair da seleção nacional. Tenho certeza de que ainda tenho mais campeonatos pela frente. A resposta de Pia dói, eu queria que ela entendesse o quanto fui leal ao futebol, mas que desta vez tenho de fazer uma escolha diferente. Fico firme em minha decisão e permaneço em casa, na Alemanha, e em vez de jogar a partida de qualificação para o Campeonato Europeu contra a Dinamarca, me encontro novamente com Mika na clínica em Magdeburg. (página 144)
Falta de orientação tática
Mesmo vencendo por 2 a 0 e dominando amplamente, Pia Sundhage não está completamente satisfeita. Ambas seremos entrevistadas na TV4 após a partida e, enquanto espero minha vez, ouço ela dizer: "Acho que estivemos um pouco descuidadas no segundo tempo porque não fizemos o que dissemos quando chegamos às laterais." Ela pode até estar certa, pois perdemos algumas chances. Mas essa coisa de não fazermos o que dissemos. Mal temos algo que possa ser comparado a orientações táticas.
Quando chega a minha vez de dar a entrevista na TV, me perguntam como vejo a próxima partida contra a Itália. "Vai ser divertido. É difícil pensar na próxima partida agora, é um jogo que queremos vencer, mas temos que nos apresentar no nosso melhor."
Não será assim.
Eu nem jogo a partida.
Às vezes, Pia Sundhage e outros treinadores da seleção nacional escolhem raciocinar assim. Que vale a pena descansar jogadoras para ter pernas frescas para a partida seguinte. Nessa situação, não nos classificamos para as quartas de final. (página 153)
Falha no lado emocional
Quando voltamos para o hotel após a partida, Pia Sundhage não aparece para o jantar. "Ela está em seu quarto", diz um dos outros líderes. E é a mesma coisa na manhã seguinte, Pia não é vista em lugar algum. Parece que ela se trancou no quarto. Será que isso é realmente possível? O que ela está fazendo?
No meio do campeonato, a treinadora de liderança Mia Törnblom, que trabalha como psicóloga da seleção nacional, foi levada para a Holanda e para nossa base no Campeonato Europeu. Externamente, a mídia diz que Mia vai nos incentivar pelo resto da competição. Na verdade, ela veio conversar seriamente com Pia. Quando é hora do treino, Pia está de volta e completa o treino como se nada tivesse acontecido. Mais tarde, Mia Törnblom aproveita a oportunidade para encontrar com nós jogadoras, ela já estava aqui mesmo. É a mesma melodia de sempre. (página 154)
Quando Pia Sundhage assumiu como técnica da seleção nacional há cinco anos, ela trocou nosso então treinador mental Göran Kenttä por Mia Tömblom. Mas durante esses anos, honestamente, parecia que Mia estava mais para Pia e Lilie do que para nós jogadoras. Ou pelo menos eu não tive utilidade dela, eu preferiria um psicólogo esportivo. (página 155)
Sem deixar saudade
Quando chegamos ao hotel, tenho dificuldade para dormir, a derrota nas quartas de final dói e todo o Campeonato Europeu parece uma droga. Agora são mais dois anos até a próxima competição, quando teremos um novo treinador da seleção nacional. Não vou sentir falta de Pia Sundhage, e acho que muitas outras jogadoras também não. (página 156)
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