Dois dos quatro melhores colocados do Brasileirão têm em comum o fato de terem gramado sintético em seus estádios. Mas mesmo na comparação entre o líder Botafogo e o quarto colocado Palmeiras, o terreno não é rigorosamente o mesmo e reserva "segredos" para o resultado do que a torcida vê e os jogadores sentem.
A concepção
Botafogo e Palmeiras partiram de um mesmo princípio. Qual gramado trará o efeito mais parecido com a grama natural? Mas cada um foi, em momentos diferentes, por um caminho distinto na hora de definir a composição do campo.
Por que eles existem?
Ambos viram os estádios como potenciais locais de eventos, como shows, além dos jogos. O gramado artificial é aprovado pela Fifa e facilita a mudança de chave do modo futebol para o modo entretenimento.
Geram mais lesões?
Dirigentes de clubes que não têm sintético, como Flamengo e Fluminense, alegam que os campos que não são naturais representam um risco maior de lesões aos jogadores. Fornecedores e dirigentes de quem tem sintético dizem que essa estatística não se confirma na prática.
"A gente analisou internamente, considerando histórico de lesão dos jogadores do Palmeiras e do Athletico, comparando com os demais clubes que têm gramado natural. Os dois não tinham mais lesões que os demais", disse Thairo Arruda, CEO do Botafogo.
No caso do Palmeiras, a estatística é de zero lesão por causa do gramado, segundo o departamento médico. Mas no estádio do Athletico houve uma fratura recente no tornozelo do zagueiro Pedro Henrique.
O "tapetinho" do Botafogo
A diretoria do Botafogo acionou pessoas da Fifa para entender as recomendações da entidade sobre o sintético. Pelas referências dadas à Total Grass, empresa escolhida para a instalação do campo, a inspiração para o modelo de uso do Nilton Santos partiu do estádio do Atlanta Falcons, da NFL.
"A gente pegou a grama da Mercedes-Benz Arena, que aguenta eventos e muito fluxo, e adaptou para um composto de cortiça, que é o composto melhor possível para o futebol. Pelo calor, pela maciez, por todas as coisas que ele agrega dentro do sistema", disse Lucas Montez, gerente comercial da Total Grass.
O campo alvinegro, assim como outros do gênero, conta com um shockpad (amortecedor de impacto). Uma preocupação de quem fornece o campo é que os fios tenham uma fibra resistente e uma "boa memória" — que é o movimento de voltar à posição original após o uso.
A cortiça que preenche o campo é um material orgânico, majoritariamente importado de Portugal. É o mesmo elemento que sobra na produção das rolhas de vinhos. Quem gosta da cortiça no campo diz que ela ajuda na estabilidade da corrida, dá aderência para o jogo, além do aspecto mais macio.
Um contraponto ouvido pelo UOL é que, por ser material orgânico, as partículas podem boiar quando chove torrencialmente e alterar de posição.
Eu estava fora do Brasil. No México também tem gramado sintético. Mas o daqui é muito melhor. Nunca tinha jogado nesse gramado assim, é diferente. O sintético prende um pouco mais o pé com a chuteira de trava. Mas eu não senti diferença aqui em relação a isso, parece um gramado normal.
Diogo Oliveira, atacante do Coritiba que jogou no Nilton Santos
E o estádio do Palmeiras?
O Palmeiras passou a usar o sintético em fevereiro de 2020. Ou seja, chega à quarta temporada com o campo. A definição da composição junto a Soccer Grass, empresa responsável pelo gramado, passou por viagens à Holanda. Alexandre Mattos, então executivo de futebol, levou um dos preparadores do clube para buscar na Europa as melhores referências para o Allianz Parque.
O resultado foi a escolha por um modelo sintético preenchido por termoplástico. Ele é diferente da cortiça do Botafogo e mais caro, inclusive.
A percepção é de uma maciez menor, mas os responsáveis pelo campo alegam que os resultados de absorção de impacto feitos nos testes da Fifa são iguais para ambos os modelos. O que muda, de fato, é a textura sentida pelos jogadores.
"O campo do Allianz está perfeito. O Palmeiras está super satisfeito. Eles optaram pelo termoplástico, que dá uma performance de grama natural. A gente busca a perfeição não só quando está seco, mas também molhado. Pode ter uma textura mais rústica que a cortiça, mas o conforto e a absorção de impacto são os mesmos", disse Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass.
Um elogio recente de Jorge Sampaoli, técnico do Flamengo, é tido como um exemplo da qualidade do campo. O argentino citou a facilidade com que a bola rola no estádio palmeirense.
O sistema de drenagem do campo do Palmeiras é diferente dos outros dois estádios com sintético na elite (o outro é da Arena da Baixada, casa do Athletico). A base é formada por uma extensão dos próprios fios de grama, que são costurados formando um tecido. Isso facilita a descida da água. O modelo alternativo é uma base de látex, comum em campos society.
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