Como renovação e luta levaram a Colômbia a resistir pela América na Copa

A Colômbia chega nas quartas de final da Copa do Mundo feminina como azarona diante da favorita Inglaterra. Com 25 anos de existência, a equipe feminina lutou ao longo dos últimos anos para ter mais apoio da federação local e ainda tenta se estabelecer no cenário mundial ao mesmo tempo em que vai representar a América.

Com a queda dos Estados Unidos, as colombianas ganharam a missão de liderar não só a América do Sul. Atuais vice-campeãs da Copa América, perdendo para o Brasil, o projeto feminino começou apenas em 1998. Na terceira participação em Copas, vivem a melhor campanha da história.

"Representar a América é importante por tudo que se tem da seleção. Temos toda a energia positiva do continente. É bom. Nos dá a possibilidade de crescimento, de nos posicionar no contexto mundial de futebol. Como estão fazendo as jogadoras no campo, mostrando tudo que trabalham, por ter uma boa performance. Essa é a ideia. É bom para a Colômbia continuar crescendo no futebol feminino e que siga acreditando no trabalho que está fazendo", disse o técnico Nelson Abadía.

O discurso é comum a todas: foram à Oceania fazer sete finais. Diante da Inglaterra, neste sábado, às 7h30 (de Brasília), querem dar trabalho e seguir surpreendendo.

Processo

"A Colômbia vive um crescimento significativo no futebol feminino, mas ainda estamos em um processo", define a jornalista Nathalia Prieto, do Fémina Fútbol, especializado na modalidade. A repórter está na Austrália e segue há anos a seleção nacional.

"Desde 1998, quando foi criada a primeira seleção feminina da Colômbia, até hoje, o trabalho foi árduo por parte delas, não tiveram muito apoio da Federação. Agora ainda tem algumas pendências, mas antes não apoiavam", explicou.

Das 23 convocadas, 11 atuam na Colômbia. Outras cinco jogam no Brasil: a meio-campista Lorena Bedoya e a atacante Lady Andrade jogam no Real Brasília; as zagueiras Mônica Ramos, do Grêmio, e Jorelyn Carabalí, do Atlético-MG, e a goleira Catalina Pérez, do Avaí e que foi vendida para o Bremen, completam a lista.

A Colômbia se classificou para as Copas de 2011, quando não passou da fase de grupos, de 2015, caindo nas oitavas, e de 2023. "A realidade atual é outra, temos muitas jogadoras no exterior, uma geração de ponta vem depois de ser vice-campeã mundial no Sub-17. Hoje posso dizer que o país está muito ligado ao futebol feminino", completou.

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"Acredito que o desempenho que tiveram nos últimos tempos foi vital para que hoje tenham o apoio do público, das marcas e da federação. Antes não tinham nada. O desempenho as fez crescer no futebol feminino. Não podemos falar somente da seleção aqui na Austrália, mas também no Sub-17, onde fomos vice-campeãs do mundo. Na Libertadores chegamos nas finais, temos títulos com duas equipes diferentes. Isso tem sido vital. As pessoas estão falando de futebol feminino. Imprensa e marcas precisam acompanhar. Tudo que acontece foi graças a quem lutou antes", finalizou.

Daniela Arias festeja a classificação da Colômbia na Copa 2023
Daniela Arias festeja a classificação da Colômbia na Copa 2023 Imagem: Jose Breton/NurPhoto via Getty Images

Meninas superpoderosas

Linda Caicedo é o grande nome dessa Colômbia e possivelmente do futebol mundial nos próximos anos, mas a equipe equilibra a experiência e a juventude com as representantes da nova geração.

Na partida diante da Jamaica, por exemplo, Ana María Guzmán, de 18 anos, fez a estreia em um Mundial como titular. O resultado? A assistência para o gol decisivo da veterana Catalina Usme.

A dupla esteve no time que foi líder do grupo, mas acabou caindo para o Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo Sub-20, vencida pela Espanha no ano passado. Na Sub-17, as duas participaram do vice-campeonato, perdendo para as espanholas na decisão.

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"Linda e Ana María começaram na seleção quando tinham 12 anos. Crescemos juntos desde então e estimulamos isso até onde estão hoje. Desde 2017 começamos esse processo de renovação", disse o treinador Nelson Abadia.

Abadía está envolvido com a seleção por quase uma década. Antes ele era assistente de Fabian Taborda. Em 2017, assumiu a posição atual e o compromisso de trabalhar mais próximo aos times de base. Ele passou anos buscando em todo país por atletas jovens.

"Houve muito trabalho para que atingissem o nível atual e ainda há espaço para evolução", diz Abadia.

Renovação

A Colômbia é a 25ª colocada no ranking da Fifa, a seleção com posição mais baixa entre as classificadas para as quartas de final.

Melissa Ortiz, ex-jogadora da seleção e atual comentarista da Fox Sports, se emocionou após a classificação. Ela foi uma das jogadoras importantes no desenvolvimento da modalidade e na pressão à federação.

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"Apenas pensando sobre tudo que passamos como um país, como mulheres. Isso não é só sobre o time feminino, mas sim as mulheres na Colômbia e na América do Sul", disse.

Para dar mais espaço às jovens, Nelson Abadia barrou atletas experientes neste Mundial. Ele bancou o processo de renovação para explicar as ausências de Isabella Echeverría, Natalia Gaitán, Vanessa Córdoba e Yorelli Rincón.

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