Segredo com Raí e Neto de "falso 9": Nelsinho repassa carreira e mira volta

A carreira de Nelsinho Baptista como treinador tem 38 anos, sendo17 deles no Japão e 10 só no Kashiwa Reysol. Uma década dividida em duas participações, a última delas encerrada em 10 de julho. Em entrevista ao UOL, ele conta sobre sua decisão de sair e trabalhar apenas no Brasil, relembra os grandes momentos de sua história e fala sobre a possibilidade de um treinador estrangeiro dirigir a seleção brasileira.

Por que deixou o Japão?

"Eu tenho uma história no Kashiwa. Dirigi o time de 2009 até 2014, com títulos. Em 2019, voltei com a missão de levar o time para a primeira divisão. Conseguimos. Mas, depois fizeram times cada vez mais fracos. Quando a J-League fez mudanças e decidiu que apenas um time cairia, eles decidiram não contratar ninguém. Eu tinha pedido cinco jogadores para a próxima temporada, mas com três deles chegando agora. Eles disseram que contratariam os cinco no próximo ano, mas é muito perigoso, o time demoraria para entrosar. Então, decidi sair. O contrato ia até 2025, mas paramos por aqui".

Como foi para comunicar sua decisão?

"Eu uso um tradutor. Ele explicou meu ponto de vista. Eles argumentaram, o tradutor me disse, mas a minha feição deixou claro que eu não queria mais ficar. E assim foi. Tenho 50 anos de vestiário, a gente sabe o que vai acontecer. Meu contrato era de 2019 e tinha duração de três anos. Renovamos por mais dois, mas não dava para continuar".

E agora? Pensa em outro clube no Japão?

"Já treinei o Kashiwa, o Vissel Kobe, o Nagoya e resolvi que é hora de voltar. Tenho uma filha de 15 anos e é bom que ela cresça no Brasil. Minha intenção é ficar sem trabalhar até o final do ano. Quero acompanhar bastante o futebol brasileiro, me atualizar e voltar em 2024".

Seu primeiro grande momento no futebol foi a decisão do campeonato paulista em 1990. Foi vice pelo Novorizontino, contra o Bragantino, do Luxemburgo. Acha possível uma reedição da final caipira?

"Acho sim. Os clubes do interior estão se fortalecendo, com campos de treinamento e muito profissionalismo. Fiquei contente que o Eduardo (Eduardo Baptista, seu filho, também treinador), foi trabalhar no Novorizontino. Ponte Preta, Guarani, Mirassol, Botafogo e outros times estão se estruturando. O Água Santa foi vice do Paulista. E os clubes começam a se preparar antes dos grandes, é uma certa vantagem".

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O que significou aquele vice campeonato para você?

"Tenho muitas lembranças e orgulho daquele trabalho. Foi um passaporte para eu ser conhecido e chegar em um grande clube como o Corinthians. Agradeço até hoje ao senhor Vicente Matheus (ex-presidente alvinegro), que me levou".

Foi uma grande ascensão, não? Em agosto, vice paulista e em dezembro, campeão brasileiro?

"Sim, foi muito emocionante. Como eu disse, naquele ano eu tirei o passaporte para trabalhar em grandes clubes do futebol brasileiro. Ser campeão pelo Corinthians, que ainda não tinha um título, foi inesquecível".

Qual o papel do Neto naquela conquista?

"Ele era uma espécie de falso nove. Quando a gente recuperava a bola, imediatamente jogava para ele. O Neto resolvia. Tinha um arranque muito bom, tinha velocidade em espaço curto. E era ótimo na bola parada".

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Em 1997, você foi campeão novamente com o Corinthians e saiu em seguida. O que houve?

Nelsinho deixou o Kashiwa e mira volta ao Brasil
Nelsinho deixou o Kashiwa e mira volta ao Brasil Imagem: Etsuo Hara/Getty Images

O título de 98 foi marcado pela chegada do Raí, que participou apenas do último jogo da decisão. Quando você decidiu que ele jogaria a final?

"Eu decidi no exato momento em que a diretoria do São Paulo me comunicou que ele estava sendo contratado e poderia jogar. Ficamos a semana toda sem dizer se ele atuaria ou não. Escondemos dos jornalistas e criamos uma surpresa. Inclusive, no último treino antes do jogo, ele ficou no time reserva, para a cobrança de faltas".

E a decisão sobre quem jogaria com ele?

"Também foi imediata. Chamei o França e o Dodô e disse que o França jogaria. O Dodô entendeu muito bem e ajudou a manter o segredo. O grupo de jogadores queria que o Raí jogasse e ele foi fundamental".

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Em 2007, você que tinha dois títulos com o Corinthians, mas dirigiu o time que caiu para a segunda divisão. Como foi?

"Eu não podia recusar um convite para dirigir o Corinthians, time que me deu tanta coisa. Cheguei quando faltavam 11 jogos e faltou apenas um ponto para continuarmos na Série A. Não foi uma queda apenas em campo, o Corinthians estava muito conturbado. Nem presidente tinha. Não consegui o objetivo, mas fiz tudo o que estava ao meu alcance".

Naquela fase final do campeonato, você recorreu a jovens como Everton Ribeiro, Dentinho e Lulinha. Não era arriscado?

"Foi necessário e eles se comportaram bem. O Everton Ribeiro teve uma carreira ótima, está brilhando no Flamengo, o Dentinho foi importante no Corinthians. Lulinha era de quem mais se esperava e não chegou tão longe".

O que você acha de a Seleção Brasileira ter um treinador estrangeiro?

"Olha, eu preciso ser coerente. Trabalhei na Colômbia, no Chile, na Arábia Saudita e no Japão. Sempre fui bem recebido. Não vejo nada de mais no Brasil ter um treinador estrangeiro. Futebol é igual em todo lugar e, além disso, o Ancelotti tem um currículo muito bom".

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