Giuseppe, 42, recebeu com surpresa as acusações de importunação sexual contra seu pai, Paulo Roberto Falcão. Não por conhecê-lo muito bem, como se imaginaria numa relação pai e filho. Mas justamente por conhecê-lo tão superficialmente como qualquer outro admirador de seu legado esportivo - em especial jogando pela Roma, clube onde Falcão brilhou. E pelo qual o filho que ele não vê pessoalmente há 40 anos é fanático.
Giuseppe Frontoni Falcão, que não dava entrevistas à imprensa do Brasil havia mais de duas décadas, aceitou falar com o UOL sobre o pai que o abandonou. Justo quando a opinião pública sobre o ex-diretor do Santos atinge seu ponto mais baixo - e com um escândalo que pode rebaixá-la ainda mais. Seu objetivo, porém, é outro.
O filho italiano decidiu aproveitar os holofotes por linhas tortas para reiterar o desejo de estabelecer laços com o ex-jogador da seleção brasileira. "Eu gostaria de ter relação com meu pai. Gostaria que pudéssemos ter uma amizade, que é o que podemos ter hoje", diz o italiano.
"Hoje tenho 42 anos, não vai ser exatamente uma relação de pai e filho. Meu pai não vai trocar minha fralda, ficar a madrugada acordado porque tenho febre. Esse tipo de experiência não volta mais, é algo que já perdemos", diz.
"Mas ele tem quase 70 anos (faz aniversário em outubro) e entendo que eu poderia ser de mais utilidade para ele do que ele para mim", diz ele. Giuseppe é pai de Pietro Falcão, que ainda não tem dois anos. "Ele poderia ter a satisfação de ser avô, por exemplo", acrescenta.
Pietro é o nome do pai de Flavia, mãe de Giuseppe. "Mas sei que o pai do Falcão, meu avô, também se chamava Pedro, que é o nome correspondente a Pietro em português", diz Giuseppe.
Giuseppe ainda não sabe como vai contar de Falcão para Pietro. Mas, no último dia 10, ele postou foto do filho com uma camisa 5 da Roma, na data em que se comemoraram os 40 anos da chegada do brasileiro ao clube.
Falcão foi procurado pela reportagem para repercutir as falas de Giuseppe, mas ainda não respondeu. Caso se manifeste, o texto será atualizado.
Um grande jogador, um técnico 'medíocre'
Giuseppe tem muito orgulho do pai. Suas camisas da Roma costumam trazer às costas o sobrenome famoso e o número 5, que Falcão utilizou na equipe italiana. A admiração pelo pai é tanta que Giuseppe tornou-se também um torcedor do Internacional, onde o pai construiu sua carreira.
"Vi as imagens do estádio, as pessoas enlouqueceram! Espero um dia estar lá e viver aquele espetáculo. Estou muito feliz pelo time e pela torcida. Uma grande conquista", disse ele sobre a dramática conquista do Inter sobre o River Plate, nos pênaltis, de uma vaga para as quartas de final da Copa Libertadores, na última terça-feira (8).
"Lembrou-me um pouco das imagens do estádio da Roma. Atmosfera muito quente."
Um estudioso da carreira do pai, Giuseppe sabe que os louros que ele obteve como atleta não migraram para sua carreira de técnico. E, olhando para a própria história com o pai, ele até arrisca-se a traçar uma análise filosófica sobre a diferença de sucesso de Falcão em cada profissão.
"Ele foi um excelente jogador, mas podemos afirmar que foi apenas medíocre como treinador. Certa vez, conversei com o filho do Nils Liedholm, que foi técnico do meu pai na Roma. E ele me disse: 'Meu pai era como um pai para os jogadores'. Talvez isso explique por que meu pai não foi um grande treinador".
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Quero receberVeja outras respostas de Giuseppe sobre a relação com Falcão:
UOL - Como você recebeu as acusações de importunação sexual contra o seu pai?
Giuseppe - Acompanhei à distância, já que não temos contato. Lamento o fato, se é que aconteceu, e espero que ele possa provar sua inocência. Mas, evidentemente, se ele tiver responsabilidade, é justo que ele pague, porque o assunto realmente é grave.
Você ficou surpreso?
A vida me ensinou a não me surpreender com o que as pessoas são capazes de fazer. Mas esse caso me surpreende um pouco, porque mesmo não tendo contato direto com ele, vivo em Roma, onde meu pai foi visto sempre como uma pessoa elegante, uma pessoa de estilo e tudo mais, além de um grande jogador e grande esportista.
No meu caso específico, ele não se portou da melhor forma com a minha mãe, porque eles se apaixonaram e tiveram um filho, que sou eu, e depois nos abandonou. É lógico que a experiência com ele não é positiva, mas é um outro tipo de situação.
Como se estabeleceu a relação entre os seus pais?
Falcão e a minha mãe se conheceram em Roma, ele tinha chegado havia pouquíssimo tempo na Itália, eles se apaixonaram após uma festa, tiveram um relacionamento, e eu nasci um ano depois que Falcão estava na Roma, foi uma coisa bem no início da carreira do Falcão.
Minha mãe vinha de um casamento anterior, e eles procuraram, quando houve o nascimento, deixar o assunto bastante discreto, para não complicar a carreira do meu pai. Ele estava começando a jogar lá e já era visto como um grande jogador. E, por outro lado, sendo um país católico, a Itália poderia, naquela época, fazer disso um escândalo, um homem engravidar uma mulher e eles não serem casados. Ela vinha de um matrimônio anterior, ele era solteiro. Então, durante dois anos, eles mantiveram uma vida normal de um casal que teve filhos, embora eles não fossem casados.
Como é ser filho de um ídolo? E como você pretende falar do Falcão para o seu filho?
Vivo numa cidade onde meu pai foi uma pessoa de extrema importância, muito admirado ainda hoje. Às vezes, nos bares e restaurantes, há pôsteres do meu pai. As pessoas conversam comigo sobre ele e a Roma. Ele ainda é uma pessoa muito amada, muito reconhecido.
Ainda não pensei como vou passar isso para o meu filho. O Pietro tem menos de dois anos, é muito pequeno ainda, então isso será transmitido um pouco mais adiante. Eu tive muita sorte por ter a mãe que tenho, pelo tipo de mãe que ela é. Quando eu tinha cinco anos, ela se uniu a uma outra pessoa, um outro marido, que está com ela até hoje. Esse marido da minha mãe, Massimo, é um verdadeiro pai, porque me acompanhou desde pequeno, ele é o avô do meu filho, é todo orgulhoso, ele o viu nascer e tudo mais.
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