Comerciantes são afetados com São Januário fechado e contabilizam prejuízos
Alexandre Araújo
Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)
18/08/2023 04h00
São Januário não recebe um jogo com público há quase dois meses. Entre punições do STJD e proibição imposta pela Justiça do Rio, os comerciantes dos arredores do estádio do Vasco sofrem grandes impactos financeiros e vivem a expectativa pelo retorno da torcida à Colina.
As vendas caíram demais. Em dia de jogo isso aqui costuma ficar lotado, e agora é um deserto. A gente paga as contas menores, e as maiores deixamos para depois, não tem jeito
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O que aconteceu
O Vasco foi proibido de receber torcida após a confusão que houve na derrota para o Goiás, no Brasileiro.
O STJD definiu 30 dias com os portões fechados para jogos na Colina e proibia a torcida também em jogos como visitante, pena similar à aplicada ao Santos.
Posteriormente, a Justiça do Rio de Janeiro acatou um pedido do Ministério Público e determinou a interdição do estádio.
"Foi uma queda significativa nas vendas, no mínimo uns 60%. Até porque o movimento não é apenas no dia do jogo, começa já na semana, com a troca de ingressos na bilheteria. A gente torce para que a torcida possa voltar logo", disse Thassio Santos, do Bar Caiau.
Desde então, o Cruz-Maltino foi mandante em quatro partidas. Contra o Cuiabá, atuou no estádio da Portuguesa-RJ, na Ilha do Governador.
Com a Colina liberada, mas para jogos sem torcida, recebeu Cruzeiro, Athletico-PR e Grêmio.
"Tivemos um prejuízo grande, perdemos muito. Só quem está passando sabe. Antes, isso aqui vivia cheio antes e até depois do jogo. E quem não conseguia ingresso, ficava vendo aqui na TV", Cleo Barbosa, do Bar Pedro e Léo.
A gente vem procurando alternativas, mas nada se compara. Em julho, foram cerca de R$ 60 mil a menos de arrecadação. O pré-jogo de São Januário é uma tradição, e a gente perde no antes, durante e depois. Em dia de jogo sem torcida, tem queda também de outros clientes porque o esquema de segurança permanece, o que dificulta a chegada Helio Martins, do Floriano Gourmet
A queda no número de vendas quase causou problemas maiores para Joyce e Ramon de Oliveira, ambulantes que ficam próximos à praça localizada na entrada da Barreira do Vasco. "Não tem torcida, não tem como vender. O nosso nome quase ficou sujo porque as vendas caíram demais", relatou Joyce.
No caso de Raul Diogo, que tem um bar e um depósito na Barreira, o prejuízo foi duplo. "O impacto foi total. O rendimento caiu uns 40%. A gente distribui para os bares e para os ambulantes que trabalham nos dias de jogos. Então, pesa bastante, tem sido muito ruim".
"Cercado pela comunidade"
Em documento emitido no dia 23 de junho, ao falar sobre o ocorrido em Vasco x Goiás, Marcello Rubioli, Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, utilizou como um dos argumentos para embasar o que avaliou como "total falta de condições de operação do local" a proximidade de São Januário com a comunidade Barreira do Vasco.
"Vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio", diz trecho do documento.
"Vi esse argumento com tristeza, como se, mais uma vez, a favela tivesse de ser excluída do mapa. Temos de mostrar que na favela não existe só tristeza. Que possam tirar esse rótulo de que favela é sinônimo de violência e mostrar que tem pessoas de bem. Quem viu que a Barreira leva perigo, que venha nos fazer uma visita. Vão ver que a favela é boa e não oferece perigo aos torcedores", ressaltou Vania Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco, que coimpletou:
"Hoje são várias famílias sendo impactadas, pessoas que contam com o jogo para ter um dinheirinho a mais no fim do mês, que ajuda a pagar um gás, luz, um remédio".
Vasco tenta reabertura
O Vasco vem se movimentando para conseguir a reabertura de São Januário. Houve movimentações jurídicas, mas ainda não há prazo para um julgamento sobre o caso.
Paralelamente, a diretoria do clube buscou o MPRJ para tentar um alinhamento do que é necessário para a liberação. No começo da semana, houve uma inspeção no estádio e arredores.
O Cruz-Maltino também buscou apoio de órgãos como a Ferj, uma vez que entende ser vítima de um desequilíbrio esportivo no Brasileiro. Atualmente, o clube é o único que não pode receber torcida em sua casa.