Gramado do Maracanã vira chave em guerra entre clubes e futuro do estádio
O gramado do Maracanã é o terreno no qual uma disputa entre três dos quatro grandes clubes do Rio ganha corpo. A lama do campo e os buracos atuais são o saldo de uma queda de braço que vai além da preferência de usar o estádio a cada fim de semana.
O quadro mais amplo envolve a disputa pela concessão do Maracanã pelos próximos 20 anos. Com Flamengo e Fluminense de um lado e o Vasco do outro, os times e suas torcidas tentam se mostrar como indispensáveis ao Maracanã. Há um forte componente político. O Judiciário passou a ser palco recorrente das disputas entre os clubes, o que gera um vaivém de liminares e recursos.
Mas ao mesmo tempo em que Fla e Flu são importantes para não deixar o Maracanã virar um elefante branco, a administração atual não consegue manter um gramado em boas condições.
Ignorando todo o planejamento elaborado pelos gestores do Maracanã, o Vasco pretende, agora, utilizar-se do estádio quando bem desejar, em manifesta intromissão à gestão do Flamengo e do Fluminense, conduta que não poderá ser chancelada pelo Poder Jucidiário
Trecho de uma das petições do Flamengo na Justiça
Muitos jogos, terreno ruim
O gramado sob a tutela de Fla e Flu fica exposto a uma série de problemas que incomodam até os jogadores, como Gabigol, atacante do Flamengo. O camisa 10 recentemente aproveitou uma ocasião na Gávea para uma conversa com o CEO do estádio, Severiano Braga, para entender melhor o cenário. Gabigol reclama de um campo que já trouxe lesões ao próprio jogador e ouviu atentamente os argumentos, segundo apurou o UOL.
A principal justificativa para as más condições é o alto número de jogos. Até domingo, com o Vasco x Atlético-MG, foram 55 partidas na temporada. Um volume de jogos superior a qualquer outro estádio do país, ainda mais na comparação com as principais arenas da Europa.
Os processos na Justiça trazem consigo relatórios e ofícios de engenheiros agrônomos contratados pela Conmebol e pela Greenleaf, a empresa responsável pelo gramado do Maracanã. A Greenleaf, inclusive, está no Maracanã desde o período pré-Copa 2014. A reclamação com o gramado já vem dessa época.
A recomendação recorrente é diminuir o número de jogos. Mas Fla e Flu não conseguem. Ao mesmo tempo, as promessas de solução a longo prazo cada vez que o gramado é trocado não se confirmam. Em casos extremos, os clubes levam os jogos para outras praças, como será em setembro.
Mas os clubes não atendem a outro tipo de orientação, como evitar aquecimentos intensos no gramado antes das partidas.
Apesar dos altos investimentos feitos no estádio pela dupla Fla-Flu, existe uma dificuldade de manutenção do gramado em condições perfeitas devido a múltiplos fatores, inclusive climáticos, mas com preponderância absoluta da quantidade de partidas disputadas no estádio
Posicionamento do Fluminense, em nota oficial
O aspecto político
Flamengo e Fluminense têm permissão de uso do Maracanã, concedida em sequência pelo governo estadual. A diretoria do Fla, especialmente, tem boa relação com o governador Cláudio Castro.
A permissão de uso - dada sete vezes à dupla - é um meio de deixar os clubes cuidando do estádio, enquanto o governo se livra de um gasto com manutenção e a responsabilidade de gerir o equipamento. A permissão atual expira em outubro.
O consórcio formado por Fla e Flu vira "favorito" na concorrência para gestão do Maracanã pelos próximos 20 anos. Mas a discussão técnica, de fato, só se dará quando o processo licitatório retornar e as propostas forem apresentadas.
Um dos pontos polêmicos do edital é dar pontuação mais elevada a quem assegurar um cenário de 70 jogos por ano. Fla e Flu contestam essa demanda por considerar irreal o cumprimento, diante do cenário do gramado.
O Vasco em 2019 não demonstrou interesse em participar da permissão de uso, mas quando ainda estava na gestão associativa de Jorge Salgado, em 2021, e vislumbrando virar SAF, mudou de ideia e passou a se mobilizar para disputar a licitação.
Infelizmente, o Flamengo novamente opta por transformar a disputa desportiva em inimizade para além dos campos de futebol e nega-se a alugar o bem público Maracanã para o Vasco mandar seus jogos
Trecho de uma das petições do Vasco na Justiça
O Vasco tem conseguido, via Justiça, levar jogos ao Maracanã. O clube critica a postura de Fla e Flu, que não aceitam que o clube aumente o número de jogos no estádio. No Brasileirão deste ano, foram dois: contra Palmeiras e Atlético-MG, que tiveram casa cheia. O mesmo aconteceu ano passado, contra o Sport.
A decisão mais recente é interromper a realização de jogos a partir de sábado para tentar recuperar o campo pelo período de 20 dias a um mês, até a final da Copa do Brasil.
Licitação pode destravar
O governo do Rio, por sua vez, aguarda o andamento de um processo no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) que suspendeu o processo licitatório para que fossem feitas alterações no edital.