Como Ramon tenta se reencontrar na seleção sub-23 após tropeço na principal

Ramon Menezes conheceu neste ano o sabor do sucesso ao conquistar o Sul-Americano Sub-20 e, nas palavras dele, do aprendizado. Porque ele prefere substituir o termo "perder" para descrever o que aconteceu em dois dos três amistosos com a seleção principal e nas quartas de final do Mundial Sub-20, quando veio a eliminação diante de Israel.

Nesta semana, ele iniciou o processo com a seleção sub-23 e perdeu o primeiro dos amistosos contra Marrocos nesta data Fifa. Amanhã (11), tem mais um diante do mesmo rival. Mas a meta de momento envolve os jogos Pan-Americanos, ainda este ano, e o pré-olímpico do ano que vem, que dará duas vagas aos sul-americanos nos Jogos de Paris-2024.

Em entrevista ao UOL, Ramon conta como faz para tentar reorganizar as ideias após os planos não darem certo nos projetos mais recentes nas seleções e como quer lidar com talentos dessa geração, que tem, por exemplo, o atacante Vitor Roque.

Fala, Ramon

O que você tira de lição do que deu certo e do que deu errado neste ano com a sub-20 e a seleção principal?

Ramon: São experiências fantásticas. Depois de 12 anos, ajudar o Brasil a subir no pódio no Sul-Americano foi muito importante nesse momento, já que o Brasil também vinha em algumas edições sem participar do Mundial. E receber depois essa chance também na principal. É lógico que você sempre pensa em vencer, e eu tenho certeza que nós fizemos um bom trabalho. Fizemos esses três jogos, não tivemos o resultado que esperávamos, mas serve de lição, de aprendizado. O Mundial também.

Como você reagiu à eliminação no Mundial?

Ramon: Logo quando terminou o Mundial, a minha preocupação sempre foi com os atletas, porque se trata de uma geração muito promissora. Por vezes, a gente não olha todo o contexto, foi uma situação difícil, que até então nós não tínhamos enfrentado, de perder alguns jogadores importantes [Artur e Rober Renan], principalmente naquele jogo contra Israel. Não quero dizer aqui que foi a causa da derrota, mas foi uma atmosfera muito diferente de tudo que nós vivemos até então, mas não era para ser, e agora é vida que segue, é um novo ciclo, um novo projeto, uma responsabilidade também muito grande. Eu já carrego essa responsabilidade desde atleta, sei muito bem o que é vencer ou aprender.

O técnico Ramon Menezes e o presidente da CBF Ednaldo Rodrigues no amistoso Brasil x Guiné
O técnico Ramon Menezes e o presidente da CBF Ednaldo Rodrigues no amistoso Brasil x Guiné Imagem: Albert Gea/Reuters
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Diante da ambição que um esportista tem, qual o nível de autoconfiança atual, pelo que você viveu, tanto ganhando quando perdendo?

Ramon: Sempre quero aprender e crescer. Na vida, não tem o impossível. Saio de casa com esse sentimento de sempre fazer o meu melhor e transmitir isso pros atletas. Esse é o meu objetivo e é o que eu fiz na minha vida toda. E eu não falei em derrota aqui, até por isso que eu falei em ganhar ou aprender. Então, a escolha é nossa. Eu prefiro ganhar.

Taticamente, você está mexendo alguma coisa do jeito que você estava montando seus times anteriormente?

Ramon: Eu estou levando aí praticamente 10 jogadores que já entendem o trabalho. Isso aí também já ajuda nesse processo, até menos para esses novos atletas. Nos treinos, tentar ser o mais simples e objetivo possível. Mas nós sempre recebemos grandes jogadores, atletas preparados, que eu tenho certeza que vão entender rapidamente tudo que se passa em relação à parte tática.

Em termos de DNA de jogo, o que você vai querer da seleção?

Ramon: Bom, o que eu penso é muito voltado para o equilíbrio. Você fazer um time, uma equipe muito forte na fase defensiva, na fase ofensiva, em todas as fases do jogo, buscar esse equilíbrio. Já estou vendo bastante o adversário, mas é isso. E quando você tem a bola, você é Brasil. Uma equipe criativa, aí é um improviso a criatividade dos nossos atletas.

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Ramon Menezes, técnico da seleção olímpica
Ramon Menezes, técnico da seleção olímpica Imagem: Thais Magalhães/CBF

Futebol pode ser uma máquina de moer reputações. Como você lida com isso?

Ramon: Bom, o que me ajudou muito, que me ajuda muito é esse tempo todo de futebol. Eu comecei com 11 anos de idade, comecei em 1983. Em 1990, com 17 anos, eu já estava entre os profissionais. Eu parei de jogar em 2013, então eu vivi 30 anos dentro do campo. Tudo isso aí que eu vivo até hoje, eu vivi enquanto atleta. Então, assim, a gente tem que procurar separar as coisas. Quando você vence e quando você não consegue atingir o objetivo. Tem que estar preparado para tudo isso. Embora eu tenha 50 anos, mas sou um cara com uma certa rodagem dentro do futebol. Eu vivi muita coisa e toda a experiência que eu adquiri eu vou tentar transmitir para os meus atletas. Quando eu estou numa preparação, eu evito muito de ver rede social, enfim, uma série de coisas. E procurar falar mais com as pessoas que, de fato, você confia e você sempre escuta alguma coisa positiva.

Quem, no seu caso, são essas pessoas que você confia?

Ramon: Minha família, minha esposa, minhas filhas, meu pai, minha mãe, meus irmãos.

Você tem algum guru no futebol, vamos dizer assim, para te incentivar a algumas coisas? Como é que você trata isso?

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Ramon: Eu também tenho amigos. A gente não deixa de ter amigos. Eu sou um cara muito concentrado também. Eu aprendi lá atrás uma situação muito importante que eu vejo, que é a autocrítica. Você também tem que, em determinados momentos, "espera aí, poxa, não podia fazer dessa maneira, ou preciso melhorar". Porque todo dia também você tem que evoluir, tem que crescer, precisa fazer um pouco mais.

Quanto o Diniz mexeu no seu cotidiano aqui, como é que está essa troca de figurinha com ele?

Ramon: Eu já joguei com o Diniz. Eu tenho um ótimo relacionamento com ele. O meu trabalho é diário aqui dentro da CBF. O Diniz já fica mais no Fluminense, o trabalho dele é lá no Fluminense. A gente se encontra muito pouco, mas tem muita liberdade. E o nosso trabalho aqui é o trabalho de oxigenar, tentar oxigenar a seleção principal.

Por que o Vitor Roque é um cara tão diferente?

Ramon: Cara, eu posso falar bem desse atleta, eu vi todo o crescimento desse jogador, um jogador que nos enche os olhos, um jogador que já foi comprado pelo Barcelona e cada dia está jogando melhor, cada dia está buscando o crescimento, e isso mostra o atleta que é, o ser humano que é. A gente fica muito feliz por ver esse momento do Roque, ele sempre está querendo mais.

E eu vejo que o Roque, daqui a pouco, quando ele chegar lá no Barcelona, talvez ele não tenha um problema que acontece que é o processo de adaptação. Eu vejo o Roque muito bem, com um mental muito forte, sendo um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro, Vejo ele muito preparado nesse momento

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Ramon

Por que convocar para essa data Fifa jogadores que você dificilmente vai contar no pré-olímpico e no Pan-Americano?

Ramon: É uma pergunta inevitável de ser feita. Quando fui contratado pela CBF, eu já acompanhava e sabia da dificuldade que é para você fazer determinadas convocações em algumas oportunidades, por também não ser data Fifa. A gente sempre tem uma dificuldade, mas isso mostra também o nosso trabalho: é esse monitoramento que nós temos do mundo todo, para ver todos esses jogadores, sempre aumentar o nosso radar, a possibilidade de novos atletas. O Brasil tem muitos jogadores com condição imensa de vestir a camisa da seleção brasileira. E para fazer uma convocação não é fácil. Eu fiz essa convocação, eu tenho certeza que foi uma ótima convocação, mas poderiam estar alguns jogadores que não fizeram parte, que vêm atuando e atuando muito bem nos seus clubes. Essa teve a possibilidade de a gente fazer uma convocação muito forte, porque se trata de uma data Fifa. E aqui o nosso pensamento é sempre de convocar os melhores jogadores, a gente sempre quer ter todos esses jogadores à disposição.

Mesmo que num determinado momento lá na frente você não possa contar com eles?

Ramon: Isso. E a gente não pode reclamar. Você tem que passar toda a confiança para aqueles que lá na frente forem convocados, como sempre foi aqui. Tivemos dificuldade no Sul-Americano, também tivemos dificuldade no Mundial, e nem por isso deixamos de ser campeões sul-americanos.

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